quarta-feira, outubro 22, 2008

literatura (iv)

a literatura é um subproduto de olhar a janela. Mas não é a parte que importa. A parte que importa é olhar a janela. E escrever, quando importa, é apenas uma maneira de olhá-la com palavras.

terça-feira, outubro 21, 2008

sobre masturbação e copyright

estava eu assitindo o trailer do "Rip", documentário do projeto Open Source Cinema (que parece bem legal, pra quem quiser dar uma olhada) quando um dos caras na tela (talvez até seja o diretor do filme) lascou a melhor frase sobre copyright nos últimos tempos, namely:
"what's happening to copyright is essentially what happened to masturbation, in that people are starting to admit that "uh, well... I do it too."
e aí pensei em postar esse troço no blog. Então fui ver se catava a frase no google pra copiar e colar. Mas o melhor link que achei sobre masturbação e copyright foi esse, numa página com a letra da música "Garota Cabeção", da banda First Masturbation, em que somos informados que
"All First Masturbation - Garota Cabeção lyrics

(mais especificamente estes)

Passo dias e noites
sempre pensando em você
acabo fikando loko
tentando te entender
e como vc me agrada com esse seu jeitinho
se naum fosse pelo troxa
pau no kú Juninho viadinho.

Refrão:
Garota Kbção
olhe para mim
esse seu jeito loko foi q me deixou asssim.

E todo meu esforço
para agradar vc
andando sempre junto
vc me olha e naum me vê
se me pede para parar
então pq me trata assim
nessa porra eu naum agüento mais um dia
agonia sem fim.

..., artist names and images are copyrighted to their respective owners. All
First Masturbation - Garota Cabeção song lyrics are restricted for educational and personal use only."

o que, bem ou mal, ilustra ainda muito melhor o quão ridícula uma legislação de propriedade intelectual pode ser. Assim sendo, posto no blog. Para fins educacionais, antes que alguém me processe.

pra quem por acaso ainda ande aí do outro lado do atlântico

nessa cidade tão terrivelmente fora de moda desde que eu saí de lá, nessa sexta (24) às 22h30 rola no Casal (Ausiàs March, 60) mais uma exibição do "Perro en el Columpio", dessa vez com direito a cerimônia de entrega de prêmios pra nós, conforme explicado nesse cartaz terrivelmente escuro aí abaixo no qual não dá pra ler uma única vírgula. Que aprovechen por mim, nois e noias do mundo afora.

domingo, outubro 19, 2008

por essas e outras, ando tão desesperadamente necessitado de amigos com uns cinco anos a menos que eu, pelo menos

é urgente, sério.

uns vinte, vinte e cinco anos

é o que demora pra algo que algum dia talvez até tenha sido legal ser definitivamente absorvido pelo mundo cão e virar um troço indescritivelmente brega. Não é por acaso que tudo o que foi feito em meados dos anos oitenta com a melhor das intenções hoje virou trilha sonora pra bares vazios com gente careca, reuniões nostálgicas de dez anos de formatura, programas de rádio em estações caretas, casamentos de gente divorciada e festas lotadas de mulheres desesperadas tentando fazer valer os óvulos que restam. Exatamente como tinha acontecido com o que tinha sido feito em meados dos anos setenta há dez anos atrás. E é menos por acaso ainda que esse é o tempo pras pessoas irem dos quinze ou vinte anos aos quarenta.
minhas previsões? esperem videokês gold edition do Nirvana pra dois mil e quatorze, musicais melosos com trilhas sonoras do Oasis em dois mil e dezessete e peças sobre a vida da Amy Winehouse em dois mil e vinte e dois.
meu conselho? como eu já tinha comentado nesse blog alguma vez, por favor parem com essa moda insuportável. Não é que os anos oitenta tenham sido melhores do que os outros: eram simplesmente vocês que eram jovens naquela época.

não se fazem mais líderes como antigamente

é incrível como quase dois mil anos depois desse cara, esse troço de presidente ser chupado pela secretária ainda dá algum ibope. O mundo pode até ter melhorado um pouco no sentido de que é menos provável ser decapitado ou castrado ritualisticamente por qualquer bobagem. Mas que virou um lugar com bem menos graça, ah virou.

quarta-feira, outubro 15, 2008

vida breve, janela aberta, primavera feroz


minha janela da sala não fecha mais desde que pintaram a casa. E de certa forma não podia haver melhor metáfora dos meus dias. Não me lembro da última vez de ser tão sensível aos rumores do mundo, da rua, dos discretos caprichos e idiossincrasias de cada dia. E mesmo nesses dias primaveris tão agradáveis e tranqüilos o mundo se alterna em parecer infinitamente desfrutável ou verdadeiramente feroz lá fora. Sem que isso signifique sofrimento. Apenas uma forma milenar e obscura de sensibilidade. E apesar dos rumores e da janela aberta, tantas vezes houve tanto silêncio. Um silêncio bonito que quase chega a acolher, cada vez que eu ando atento pela casa escura. O que me faz pensar, um pouco budista e envergonhado, que o ruído quase sempre tem vindo de dentro. E ao me afastar da rotina, seja por acaso, por opção ou mesmo pelo sono diurno do qual eu acordo assustado já no princípio da noite, me aproximo dum fluxo íntimo das coisas, de um mundo contendo espaços imensos de liberdade e silêncio. De uma vida breve e secreta, como dizia o Onetti, sem nem mesmo ter que ir até o apartamento do vizinho. Dentro da minha própria casa, o mundo ruge com o som e a fúria de seus encantados objetos imóveis. Logo ali na sala ensolarada, aquela da janela aberta.

sábado, outubro 04, 2008

metafísica

"Sinto-me profundamente na superfície." (Pedro Maciel)

eu também. As águas andam claras esses dias.