sexta-feira, janeiro 30, 2009

dedinhos pra cima

em ritmo de marchinha de carnaval, tentando disfarçar sem sucesso que alguma coisa fica pra trás.

segunda-feira, janeiro 26, 2009

sobre a vida de ganchos em diante

garrafas de cerveja vazias pela casa, papéis de sonho de valsa no chão do carro. Areia no olho, noites mal dormidas, noites não dormidas. Queimaduras de sol, algas nos bolsos e cicatrizes de toboágua. Asfalto, ventiladores a pino, despertadores desligados. Centenas de mensagens não lidas na caixa de entrada. Fones nos ouvidos, sonhos de homens voadores. Os menores toques ganham o peso de pontes. O corpo deitado sobre os furos da represa, e cada rolar na cama traz novas inundações. Hoje sou todo correnteza, até o fim da semana restarão os escombros.

sexta-feira, janeiro 23, 2009

vinde a mim as criancinhas

já que a fama e a fortuna não vieram por outros meios, resolvi abrir meu coração e aceitar jesus. Sei lá, de repente funciona.

quinta-feira, janeiro 15, 2009

novas formas de solidão no mundo moderno (xsiviiix): tentando chamar a atenção no orkut

sentindo-me carente de atenção esses tempos, e constatando que quase ninguém me ligava, mandava e-mails ou dava qualquer sinal de vida, elocubrei um plano genial ao ver a minha namorada fuçando na vida dos outros no orkut e ver que o monstro da telinha azul agora tinha aprendido a avisar todos os meus amigos sobre atualizações no meu perfil.
vou trocar o meu perfil para "solteiro", pensei. Assim todos vão se preocupar comigo, me ligar pra ver se eu estou bem, mandar recados, ficar preocupados, espalhar boatos sobre a minha pessoa, etc. Em resumo, eu serei novamente um cara importante na vida das pessoas.
parecia um plano genial. Eu até troquei umas configurações pro troço avisar toda a minha lista de amigos, avisar quem entrou no meu perfil, etc., etc. E a vanessa ficou superentusiasmada porque ia descobrir "todas essas putinhas que vão começar a te mandar recados". Enfim, uma idéia brilhante como eu não tinha há tempos.
ou não.
pois hoje, passada umas duas semanas da experiência, sou forçado a constatar decepcionado que ninguém percebeu. Sério. Bom, pra não mentir, uma única pessoa obsessivamente cibernética chegou a perguntar a respeito (e logo descobriu que era mentira). Mas de resto, o troço continua às moscas como sempre, com seis visitas no tal perfil na última semana. E eu não pareço ter ganho uma única ligação a mais no celular com esse esforço todo. Pra não falar em cafuné.
mas enfim, talvez ser solteiro não seja uma notícia tão significativa. Provavelmente na semana que vem vou tentar trocar o item "orientação sexual" para "gay", pra ver se chama mais a atenção. Mas já de antemão suspeito que o fracasso vai ser tão retumbante quanto. Sei lá, no fundo talvez a melancia no pescoço ainda seja a minha melhor opção.

sexta-feira, janeiro 09, 2009

adolescendo

tenho me sentido cada vez mais adolescente, e isso pouco tem a ver com crises de meia-idade estilo beleza americana e congêneres. Senão com uma impressão esdrúxula de inadequação, de mudanças que fazem com que eu volta e meia não me reconheça mais. Até o meu corpo muda, depois de começar a fazer academia pela primeira vez em trinta anos, mudar o corte de cabelo pela primeira vez em cinquenta e ter criado uma espinha permanente embaixo do olho esquerdo. Sinto uma certa inadequação em cada movimento, tomando consciência de toda uma nova constelação de dores e cansaços novos nos músculos. E uma curiosidade intensa ao me olhar no espelho, mesmo sabendo (ou talvez precisamente por saber) que o corpo entra na fase das consequências, em que as merdas que se faz não vão repercutir algum dia quando tu ficar adulto, senão no dia seguinte (e lá vai ressaca, dor no ombro, ouvido entupido, hemorróidas). E como um legítimo adolescente me sinto perdido entre gerações, desacomodado demais pra ter assunto com gente da minha idade, velho demais pra interessar a gente mais jovem. Pulo na sala batendo cabeça escutando radiohead ao mesmo tempo que começo a medir algumas experiências a partir do que os meus filhos vão pensar dela daqui a uns anos. Volta e meia me apaixono feito bobo, inclusive pelo corpo que dorme do meu lado todas as noites. E tenho uma afinidade com essas coisas pequenas e sólidas tipo o cheiro do asfalto depois que chove, a espessura do filé da lancheria do parque, o vento que entra pela janela do quarto quando as frentes frias dão o ar da graça. Tenho adormecido cedo às custas do meu próprio sono, ao invés de por causa da hora em que tenho que acordar no dia seguinte. E demoro horas no soneca antes de levantar. Mais do que tudo, tenho ouvido muito mais música, e num volume mais alto, o que pra mim costuma ser o primeiro sinal de vida acontecendo. Não sei dizer se ando mais feliz. Mas sei dizer que tem feito mais sentido.