quinta-feira, fevereiro 18, 2010

quinta-feira de cinzas

mais de dez anos depois de ter saído da década dos dezealgos, carnaval e solidão me dão a oportunidade ímpar de ser adolescente de novo por um breve momento. E o engraçado é perceber que depois de tanto tempo ainda sou perfeitamente capaz de repetir os mesmos padrões, esbarrar nos mesmos limites, e cometer os mesmos erros daquela época. E de sempre. Com a única diferença de que eles parecem importar bem menos. E essa pequena mudança, o acesso mais natural ao botão do whatever (vulgo foda-se), faz com que a vida fique surpreendentemente mais fácil. Talvez porque amadurecer não seja superar limites, mas simplesmente aprender a relativizá-los. E é com essa maturidade estranha que me agarro à oportunidade ímpar que a vida me dá de refazer minhas apostas muito depois do prazo. Provavelmente pra errá-las todas outra vez do meu jeito torto. Mas com um pouco mais de graça e gingado do que antes.

terça-feira, fevereiro 16, 2010

sábado, fevereiro 13, 2010

insônia branca, manhã de carnaval

sou mais uma ilha na cidade. No meio de tantas outras mônades absortas em atividades desconexas no espaço restrito desenhado pela geografia. E ainda assim compartilho a mesma casa do cara que pesca de noite no acostamento da linha vermelha. Do corpo adormecido na calçada que eu tenho que saltar pra entrar na portaria. Dos pássaros que mergulham na água surrealmente clara de ipanema (já deixou de ser), alheios à multidão de banhistas. Do ambulante que vende cerveja através da janela do ônibus no meio do tráfego (minha melhor vingança contra o transporte público). Da caixa da farmácia que cheira o sabonete com um sorriso antes de me vender, sem que isso resulte em demissão sumária como em qualquer lugar civilizado (meu melhor motivo de orgulho nacional). E dos urubus que pairam permanentemente sobre a cidade, numa altura imensa e sem sentido que evolução nenhuma me explica. Não consigo dormir, são seis da manhã num sábado de carnaval. E vou pra rua de novo, abraçar uma vez mais o que é apenas o lugar certo pros meus tempos mais estranhos.