sábado, março 27, 2010

lenta agonia do que ainda resta do verão

e agora, o que se faz quando esse presente perene acabar?

segunda-feira, março 22, 2010

porque afinal não há nada de errado em foder com o pau dos amigos de vez em quando

no fim da tarde de sábado em Porto Alegre peguei um táxi até o Gasômetro pra ver os amigos cartolas tocarem no aniversário da cidade. Às vezes me pergunto por que ainda faço isso, posto que já devo ter visto os caras tocarem umas dez ou quinze vezes pelo menos. A resposta simples (que eu já tinha antes de ir) é que eu sempre saio do show um pouco mais feliz do que entrei. O que já devia bastar. Mas dessa vez o mundo fez questão de me dar a resposta complicada também. Porque no gramado tosco da beira do Guaíba, no meio de adolescentes de preto saídos de algum subúrbio obviamente não abastado da grande POA, que pulam feito uns maníacos como se fosse show dos Stones, eu me dou conta que de todos os meus amigos artistas, esses caras são os únicos que verdadeiramente conseguiram cruzar a barreira que realmente importa. A de falarem e serem entendidos com toda a sinceridade por gente realmente diferente deles. O que eu (assim como todos os escritores que eu conheço, e como praticamente toda a academia brasileira de letras, a bem da verdade) falho miseravelmente em fazer, por estar restrito ao mundinho literário tamanho cabeça de alfinete do país. E isso tudo me daria uma puta inveja, se não me deixasse muito feliz. E nem é por ser amigo da banda. Mas muito mais porque, ali pulando junto na beira do palco, no fundo eu consigo compactuar nesse processo. E, mesmo estando do lado dos fãs, sentir que juntos, todos nós, a gente tá fazendo alguma coisa que preste.
incidentalmente, os caras acabam de lançar um disco chamado “Quase Certeza Absoluta”. Aparentemente tá nas melhores lojas de discos, pelo menos em Porto Alegre (pra quem tem menos de vinte anos, “loja de discos” é um lugar em que a gente costumava ir de vez em quando há muito tempo atrás). Pros que moram longe, dá pra comprar aqui. Ou então esperar que não demore pra cair no soulseek. Ave.

sábado, março 20, 2010

atrator estranho

uma época, quando eu era mais jovem, minha desculpa favorita pra nunca ter escrito um romance era que a vida mudava rápido demais pra se manter estável em qualquer projeto literário duradouro. E eu prometia pra mim mesmo que uma hora dessas, quando as coisas aquietassem, aí sim eu ia poder entrar na brincadeira.
hoje em dia eu continuo nunca tendo escrito um romance. Mas essa promessa parece cada vez mais furada. Primeiro porque eu já não sou tão jovem pra usá-la. Segundo porque já duvido de que um romance dependa de idéias estáveis sobre qualquer coisa, até porque elas não existem – minha impressão é que tudo o que dá pra fazer é se imbuir da verdade de um poema, de uma máscara sincera que se possa vestir de vez em quando. E terceiro porque a idéia de que a vida viria a ficar mais estável tem se revelado a mais estúpida de todas elas. Pelo menos até agora.
porque se é verdade que as descobertas e idéias e estados de espírito realmente novos vão rareando, por outro lado a idade vem me fazendo acumular um número de máscaras grande o suficiente pra me pulverizar por completo. E nesses tempos de dispersão geográfica e emocional, cada vez mais a vida parece ciclar incrivelmente rápido por atratores estranhos e desconexos. Todos eles urgentes e palpáveis, todos eles eu. Todos máscaras sinceras e vitais pra se conseguir dizer qualquer coisa. E no tempo presente eu sou capaz de me reconhecer em todos, e tudo parece muito natural. Com a exceção dos vinte segundos de estranhamento ao acordar em uma cama cujo atrator não tem nada a ver com o do sonho.
e pensando por esse lado deveria ser a fase mais eloquente da minha vida: afinal, se não existe poesia que não nasça do espanto, não há nada como o deslocamento do olhar pra poder espantar-se. Mas cada máscara e cada olhar novo tem me durado no rosto por tão pouco tempo que eu não consigo sequer sentar na frente do computador pra escrever qualquer coisa. Antes que qualquer palavra sedimente, alguém gira o caleidoscópio e a imagem já é outra.
é desses atratores estranhos da vida que vem a palavra, granted. Mas também é deles que vem o silêncio. Por ora, tenho andado com o segundo. Por respeito a ambos, e por pura incapacidade de fazer diferente.

segunda-feira, março 01, 2010

do manual de técnicas básicas de vendas para empresários da indústria fonográfica (xiv)

então, querido empresário, o que você faz pro consumidor voltar a sentir a música como “sua” depois que comprar um disco deixou de fazer qualquer sentido, já que o mercado inteiro internalizou que música é um bem gratuito?
o plano é simples:
(a) convença a banda que você empresaria a fazer shows
(b) cobre bem caro pelo ingresso
(c) permita a entrada de câmeras digitais
(d) deixe a presa entrar, fotografar e filmar. E depois colocar as fotos e vídeos do show no seu orkut, facebook ou youtube, ao gosto do freguês.
pronto,você acaba de fazer com que um bem universal se transforme mais uma vez numa exclusividade para poucos. E, melhor ainda, uma exclusividade passível de exibição para os que não a possuem. O que, no fundo, sempre foi a essência dos melhores bens de consumo.
agora sente em sua poltrona e aproveite seu martini. Quem está ligando pra música, afinal?