sábado, agosto 27, 2011

o ódio que nos une

em primeiro lugar, não se aflijam: eu já superei o bombástico episódio da minha recente excomunhão (vide post abaixo) e posterior reincorporação no rebanho de deus. Ainda que esse troço de lavar a boca em sangue de cordeiro não tenha feito muito bem pro meu hálito.
mesmo que minha danação eterna tenha sido revogada, no entanto, uma coisa segue me chamando a atenção. Tudo bem que o pastor não goste de ser associado com alguém que fala coisas como ”porra” e “caralho” e alerte os seus seguidores de que eu não sou ele - eu faria o mesmo se alguém me confundisse com um pastor. Mas será que não tinha como fazer isso sem fazer com que eu automaticamente me transformasse no diabo? Tipo assim, eu não poderia ter sido simplesmente definido de forma um pouco mais neutra: um outro qualquer, um ateu irrelevante, um desbocado crônico, ou algo do gênero?
enfim, aparentemente não. Ao que parece, o diferente do Senhor parece ser automaticamente classificado como vindo do demônio por essas paradas, num dualismo que infelizmente permeia boa parte das religiões organizadas do mundo. O que me faz pensar que talvez tenha alguma razão profunda pra esse tipo de coisa. É esquisito, mas parece que qualquer movimento de massa, seja uma religião, um partido político ou uma torcida de futebol, sempre tem que ter um inimigo. Os talibãs precisam dos americanos, os judeus precisam dos palestinos, os gremistas dos colorados, os croatas dos sérvios, os petistas do PSDB, os crentes do capeta. E sei lá, isso parece recorrente demais pra ser mera coincidência.
talvez porque se opor a algo em comum, no fundo, seja uma das formas mais básicas de identificação entre um grupo de pessoas. Afinal, é muito mais fácil encontrar diferenças em comum do que semelhanças verdadeiras entre as pessoas. Se eu penso A e você pensa B, podemos discordar em quase tudo – mas haveremos de convir que C está errado. Pra juntar As e Bs, portanto, nada melhor do que usar um grito de ordem como “C é um idiota” (ou, opcionalmente, "C está possuído pelo demônio"). E provavelmente por isso encontrar um vilão sempre foi a forma mais simples de unir as pessoas em torno de uma causa ou manipulá-las pra um fim – e não é a toa, afinal, que qualquer movimento revolucionário geralmente só consegue manter a coesão até que o inimigo a ser derrubado cai. Depois disso, começa o quebra-pau feio, e os jacobinos e girondinos e trotskistas e stalinistas e xiitas e sunitas se pegam no pau até a morte.
enfim, no fundo a verdade é que a assimetria fundamental entre a facilidade da diferença e a aridez da semelhança parece ter raízes profundamente entranhadas na estrutura do mundo – dentro da própria lógica, é muito mais fácil provar que duas coisas são diferentes (basta apontar uma única diferença) do que argumentar que ambas são iguais (já que uma única diferença falsificaria a afirmação), um fato que deve ser familiar pra quem trabalha com estatística ou metodologia científica em geral. E parando pra pensar, talvez essa assimetria explique bastante coisa sobre o mundo. E se você, como eu, é do tipo que solta foguetes quando o time adversário perde pro campeão congolês, vai haver de concordar que alguma razão existe pra isso.
moral da história: você quer manter seu rebanho unido? Encontre um inimigo comum. Aparentemente, tem funcionado pros pastores mundo afora. O que surpreende é que até mesmo um escritor pé-rapado como eu seja candidato a demônio. Mas enfim, todo mundo está sujeito a virar bode expiatório de vez em quando.
ou, alternativamente, talvez meu xará pastor tenha razão, e em breve eu comece a girar o pescoço e lançar jatos de vômito verde. O futuro dirá quem estava certo.

quinta-feira, agosto 11, 2011

possuído!


















minha mais recente acusação de possessão demoníaca, cortesia do meu xará no Twitter, Pastor Olavo Amaral, depois que eu usei a palavra “caralho” em um tweet. Superestima um pouco os meus poderes, é verdade. E também durou pouco tempo, já que fui perdoado logo depois. Mas foi suficiente pra sentir um certo orgulho – nada mais fashion do que ser um escritor excomungado, afinal. Meu assessor de marketing precisa me conseguir mais oportunidades dessas.