quarta-feira, junho 27, 2012

dias da fila redonda

como o outro, espero eu também o momento de nascer. Procurando no meio da selvageria desse falso inverno um fio-guia, quaisquer três migalhas de pão que por acaso formem uma linha. Não pra indicar o caminho de volta, mas simplesmente pra sugerir alguma trilha a seguir no meio dessas tantas abertas a facão, pela minha vontade ou contra ela, no desmatamento geral dos últimos anos. E consciente de que o desejo de seguir por todas elas é o único sincero, mesmo que impossível, já sou capaz de decidir que nada se decide. E exponho o corpo ao sacrifício com uma volúpia incomum, sem saber se isso é abrir picada numa floresta que há pouco parecia sem saída ou buscar alguém pra replantar a porra toda. Mas sabendo lá no fundo que a única opinião possível é encontrar quem seja mato e picada, e possa fazer com que a trilha dure.
e como em todos os tempos que realmente importaram na vida, o que paira suprema sobre todo o resto é a sensação de espera. A expectativa enorme, corporal, de que algo vital vá acontecer a qualquer momento, e que às custas de sua própria intensidade fará com que algo acabe de fato acontecendo. Mas enquanto esse algo não vem eu também espero na fila redonda, aguardando o desfecho inevitável: o momento em que se nasce, em que o canal do parto chega ao fim, em que se enxerga a luz branca da vida de verdade que começará do outro lado. Com a mesma expectativa adolescente de sempre. E com uma pontinha de desconfiança, essa nova, de que talvez o outro lado pouco importe, talvez nem exista, e de que não haja vida maior do que esse úmido e lindo túnel de espera.

sábado, junho 16, 2012

pra quem cansar de ser sustentável

uma semana inteira de Rio+20 foi demais pra você? Cansado de ouvir palavras bonitas sobre sustentabilidade, emissões de carbono e aviões feitos de garrafas PET (várias delas escritas em folhetos em que você vai botar no lixo em cinco minutos, ou então em letreiros luminosos que precisam de umas três Belo Montes pra acenderem)? A fim de curar a ressaca do fim de conferência com um pouco de neurose e insensatez?
se esse for o caso, meu curta-metragem ultraminimalista A Porta do Quarto faz sua estreia carioca no De Modo Geral, evento multimídia criado pelo amigo Paulo Scott e já na sua décima-primeira edição. Afora minha pequena história de vida contada sem movimentos de câmera (em redondos 7'44"), literatura, teatro, performance e conversa jogada fora entre gente legal.
o evento rola na Casa da Gávea na próxima sexta, dia 22 de junho, às 20h30 da noite. Parece que o filme passa por volta das 21h30, mas eu não confiaria lá muito na previsão. Mas não se preocupem, que o resto da noite também promete. Apareçam.