domingo, setembro 30, 2007
sábado, setembro 29, 2007
pequena nota afetuosa sobre a vida cultural em porto alegre, baseada em fatos reais
você suspeita que está numa província quando entra num cinema pra ver um filme relativamente chique e falado na mídia na semana de estréia, depois que os trailers já começaram, e descobre que é a única pessoa ali dentro. Mas você só tem certeza que está na província quando uma segunda pessoa entra na sala, e você constata pasmo que ela é o seu cunhado.
terça-feira, setembro 25, 2007
clipagem (quaseauto)promocional
minha primeira incursão no fascinante mundo dos créditos de cinema (na inédita função de "pitacos tri especiais") ganhou as bê erres da vida no fim-de-semana. E aparentemente teve pelo menos alguém que gostou. Agora é esperar um pouquinho mais pra chegar no resto do universo. Por enquanto, em todo caso, parabéns pra todo mundo que trabalhou de fato no filme. Ao contrário deste que vos fala, cuja cômoda participação foi basicamente ler uns troços e ficar dizendo que não tava bom.
quinta-feira, setembro 13, 2007
transparente como um muro de concreto
em todo caso, eu pessoalmente desisti de fazer campanha contra o Renan, porque já perdeu a graça, e porque no fim das contas o cara tem o grupo Abril inteiro mais meio mundo atrás dele, então mais cedo ou mais tarde ele vai acabar se fodendo igual, nem que seja pra servir de bode expiatório e livrar os outros tantos. A essa altura, eu tô mais interessado em saber quem foram os filhos da puta que livraram a cara dele e não admitiram. Os meios, ainda que tão efetivos quanto jogar balde d'água em incêndio, tão aí: escreva pra esses sujeitos que não abriram o voto na página do Senado e cobre deles pelo menos um pouquinho de coragem, hombridade, ou como queira chamar pra admitir pra população o que eles fazem em nome dela. E em relação aos seis mentirosos, se algum dia a lista aparecer, vamos contratar os seguranças do Senado pra bater neles dessa vez.
segunda-feira, setembro 03, 2007
eu DISSE que era um derivado do petróleo
já era hora. Depois de uns doze anos de internet, pela primeira vez chegou na minha caixa de correio uma corrente de e-mails paranóides trazendo pelo menos uma informação prazerosa. Sim, pasmem, depois de vários milhares de mails dizendo pra eu não comer hambúrguer no mcdonald's (porque era feito de minhoca), não beber coca-cola (porque mata criancinhas no iraque), não ir no cinema (porque eu posso ser seqüestrado ou sentar numa seringa contaminada com HIV), não abrir mail de pornografia (porque pode ter vírus, óbvio) e por aí afora, finalmente alguém se prestou a escrever algo minimamente otimista e positivo e alertar a população mundial a não comer produtos feitos de soja. Aleluia, indeed. Parece quase um milagre.
naturalmente eu não sei se nada que tá escrito nesse troço tem algum fundamento. Agora, que o bom senso faz suspeitar fortemente de que alguma coisa que é capaz de gerar leite, queijo, bifes, óleo, proteína, shoyu e salsicha só pode ser um derivado secundário do petróleo, isso sempre me pareceu meio óbvio. Em algum momento eu cheguei até a montar uma comunidade no orkut a respeito (muito possivelmente a única que eu criei na vida), que aliás mais de um ano depois de sua criação conta com gloriosos três membros – já que, mesmo que num momento de fraqueza eu possa ter caído na tentação de tê-la criado, eu jamais teria a falta de senso crítico necessária pra ficar enchendo o saco das outras pessoas pra entrarem nela. Mas depois resolvi guardar a convicção pra mim, até receber radiantemente esse mail lindo hoje de tarde e decidir que tava na hora de um post catártico.
aliás, se por acaso houver algum fundo de verdade nesse troço, isso não confirma só a minha convicção de que um troço repulsivo e sem gosto chamado “proteína de soja”, com um aspecto cujo correspondente mais visualmente próximo na natureza é cocô de galinha, não pode concebivelmente fazer bem pra saúde. Isso também confirma uma convicção ainda muito mais arraigada na minha mente: o bom e velho ditado sumério de que “não existe nada mais fácil do que enganar um natureba”.
sério, pouca coisa me deixa mais perplexo no mundo moderno do que o fato de que pessoas que se acham ultraespertas, descoladas, críticas e esclarecidas a respeito das pérfidas mentiras que o capitalismo e a sociedade de consumo nos impõem são capazes de acreditar docilmente em gurus barbudos de aspecto psicótico e livros picaretas de cultura macrobiótica comprados em sebos, cujos argumentos megacientíficos pra apoiar o consumo de alimentos naturais variados geralmente são coisas tipo “os chineses fazem isso há cinco mil anos” (assim como acreditam em horóscopo, lêem o futuro em folhas de chá, exploram o trabalho infantil e traficam órgãos) ou “o que é orgânico e vem da natureza não pode te prejudicar” (vide estricnina, urtiga, chá de dama da noite e o vibrião da cólera), ou ainda “fulano foi pra índia comer só arroz e curou sua leucemia em cinco dias” (e, curiosamente, isso passou tão desapercebido que depois de milhares de anos milhões de pessoas continuam gastando bilhões de dólares tentando fazer algo tão simples). Tudo meio baseado na crença primordial neorousseauniana de que a natureza era um lugar inocente e fofo em que ninguém nunca morria nem ficava doente até que a civilização malvada veio tocar o horror. Sem jamais imaginar que talvez a razão pra não existir doença crônica na pré-história é que não tinha comida tampouco, e todo mundo morria com vinte e poucos anos da primeira infecção que aparecesse.
pessoalmente,em termos de coisas naturais e orgânicas sou mais a opinião do Werner Herzog no “Homem Urso”, de que "the common denominator in the universe is not harmony, but chaos, hostility, and murder", como pode facilmente constatar qualquer um que tenha assistido o Discovery Channel ou seus congêneres amadores. Vá lá, eu concedo que o denominador comum da civilização não é muito melhor do que o da natureza nesse aspecto. Mas o mais chocante de tudo é que essa galera natureba consegue se deixar enganar pelos dois. Tipo, nada é mais fácil do que botar um selinho de orgânico e natural em alguma coisa, dizer que tem antioxidantes e sal marinho e que previne o câncer, a cegueira e a infelicidade, e vender por três vezes o preço dum produto industrializado normal. E o pior de tudo é que as pessoas compram e acreditam piamente, torrando dinheiro em nome duma pureza virtual de benefício no mínimo duvidoso – por piores que sejam alguns produtos industrializados, pelo menos a origem deles tende a ser um pouco mais transparente, enquanto que ninguém sabe exatamente a densidade de ratos no porão onde foi feito um queijo colonial qualquer.
mas enfim, acho que o ser humano tem vocação pra ser patinho. E então as pessoas basicamente optam por serem manipuladas pelo McDonald’s ou pela proteína de soja, pelo PT ou pelo PSDB, pelo Papa ou pelo Sai Baba, pela medicina chinesa ou pela indústria farmacêutica. Aliás, a nossa patinhice intrínseca é bem capaz de ter sido uma força evolucionária determinante na escalada da nossa espécie rumo à supremacia global: se o ser humano fosse desconfiado e arredio ao invés de ser ingênuo e propenso a se tornar massa de manobra fácil, provavelmente nunca teria sido convencido a construir essa história de "civilização". Então talvez a gente só tenha a agradecer pelo fato de sermos mais patos e ovelhas do que lobos ou leões, o que nos permite levar bem menos chifrada de búfalo hoje em dia. E deixar de se incomodar com a falta de senso crítico alheio, até porque lá pelas tantas a gente vai acabar ludibriado também. Já que, pelo menos em termos de promoção da saúde, nutrição e essas coisas todas a ignorância e picaretagem da medicina ocidental instituída ainda é quase tão grande quanto a dos gurus macrobióticos.
e enfim, já que ninguém sabe porra nenhuma, o meu bom senso ao menos me diz que é sempre melhor acreditar que um troço gosmento como carne de soja dá câncer do que achar que lasanha à bolonhesa engorda. Se ser enganado é inevitável, afinal, que pelo menos a gente seja enganado por algo gostoso.