quarta-feira, dezembro 17, 2008

câmara escura, guaxinim, trompete, raio-x, gambito da dama, lesmas, Frida, aquário, abdómen, míssil, esturjão, ósmio, aranhas, oxigênio, magnetos...

...pêndulo, radiologia, ponto preto, vassoura.
palavras chave do meu livro de acordo com algum algoritmo automático do google books. Fiquei tri orgulhoso de tamanha salada. Parece até melhor do que realmente é.

eles

eram prateados. Quando chegaram na terra, pensaram em dominá-la. Modestos, porém, contentaram-se com os sinais. No fim do dia, ao sair do trabalho, pintavam-se de cor de pele.

segunda-feira, dezembro 15, 2008

esse post não é um sapato

ok, esse troço (um preview do próximo livro do Chris Anderson, o cara da cauda longa) tá no ar desde o início do ano, mas eu não sou nerd a ponto de ler a wired todos os meses. Em todo caso, achei que ainda valia a pena linkar. Algumas pessoas são capazes de expressar de maneira ultraclara alguns conceitos que são simples, porém anti-intuitivos o suficiente pra continuarem sendo insistentemente negados por muita gente. Particularmente por dinossauros que insistem em achar que cultura e informação possam ser distribuídas através do mesmo tipo de economia que rege o comércio de sapatos (incluindo aí executivos de gravadora, compositores frustrados e jornalistas culturais que terminam críticas com o preço do "produto" de que estão falando). O que é uma causa pra lá de perdida. Como já dizia o Raul, nós não vamo pagá nada. É tudo free.

a uns vinte centímetros da glória

às vezes um único cara toma nas próprias mãos o desejo reprimido da humanidade inteira. E quase consegue satisfazê-lo. Afinal, deve querer dizer alguma coisa o fato de que todas as versões do vídeo do Bush atacado pelo sapato voador tenham cinco estrelas no youtube. Uns vinte centímetros mais pra baixo e teria sido a glória. Mas, parafraseando o que o Bin Laden uma vez disse sobre aviões (e por sorte não cumpriu), a chuva de sapatos não parará tão cedo. Quem dera virasse moda.

quinta-feira, dezembro 04, 2008

segunda-feira, dezembro 01, 2008

ainda sobre deus, e sobre o silêncio, que é mais legal que Ele

"se não fosse o silêncio a verdade mais suprema, Deus não seria tão lacônico."
(roubado do "Solenar", do Rafael Jacobsen)

sexta-feira, novembro 28, 2008

ainda sobre música pop

deus fez o mundo em três acordes maiores (e seus relativos menores, posto que de bonzinho não tinha nada). Qualquer coisa a mais do que isso é invenção da soberba humana.

sonhos despedaçados pelos sistemas de vigilância eletrônica (xix): dormir no caixa eletrônico numa noite de verão

será que eu sou a única pessoa sem ar condicionado em casa que daria tudo pra poder acampar num caixa eletrônico de banco, daqueles com ar condicionado atômico? Porra, é só chegar o verão que cada vez que eu passo no Banco Real da minha quadra eu me pego fantasiando a respeito de exercer os meus direitos de correntista, passar com um colchão pela porta giratória e me acomodar num cantinho ali dentro. E aí logo depois eu penso na resposta imediata de seguranças carregando fuzis e metralhadoras que isso ia desencadear, e vou pra casa cabisbaixo suar mais um pouco. Maldito grande irmão.

quinta-feira, novembro 27, 2008

urgência, papapás

estava eu no show da mallu magalhães no gig rock há uns dez dias atrás quando uma amiga minha do meu lado largou um “impressionante, não?”. Eu meio que estranhei, afinal as pessoas costumam descrever shows com palavras tipo “legal”, “a fudê”, “do caralho” ou algo assim. Não foi senão uns dias depois que eu descobri que aquilo no palco não era uma guria de vinte e poucos tentando aparentar um certo charme infantil (afinal, mulheres cantando com voz de criança viraram um troço cool e fashion de uns tempos pra cá), senão uma criança de verdade.

sim, eu sou meio lento e vivo em marte. Anyway, aí eu entendi o comentário.

uma semana e vários tchubarubas e papapapapás depois, ainda não sei se concordo.

na real me parece que o que soa tão charmant nessa guria tem qualquer coisa a ver com uma certa confiança de se saber o centro do mundo enquanto tá no palco. Mesmo na época em que ela cantava pra câmera no youtube. Ter presença em música é um pouco uma questão de se fazer imbuir de uma verdade, de ter algo urgente pra dizer. Mesmo quando não se tem. E sair dizendo de um jeito de quem não tá nem aí se aquilo faz sentido ou não. Tipo o Caetano jovem gritando que o Gil fundiu a cuca de vocês por debaixo das vaias. Ou o Stephen Malkmus cantando sobre a data de validade de nozes brasileiras. Ou até a Panquis tocando covers toscos no violão, mesmo que só eu e mais meia dúzia tenham visto essa última.

e talvez fazer música no fundo seja mesmo conseguir cantar um refrão que diz “papapapapá” com uma voz meio desafinada, e que se foda o resto. E claro, alguns sabem fazer isso com graça particular, como é o caso dessa pirralha.

isso dito, no entanto, confesso que nem me parece tão impressionante assim. Pelo contrário, acho que quando se tem dezesseis anos e todo o charme do mundo, soar genial é simplesmente natural. Difícil é conseguir fazer isso depois que a vida te botou no devido lugar. O que deve ter algo a ver com o fato de que mesmo os gênios incontestáveis acabem declinando com a idade, pelo menos na música. Se botar no próprio lugar pode ser uma virtude humana, mas no palco inegavelmente fode com tudo.

o que me leva a concluir é que impressionante de verdade é o Neil Young, que depois de sessenta e tantos anos, toneladas de drogas pesadas, depressões infindáveis, dois filhos deficientes de casamentos diferentes, um aneurisma cerebral, vários cabelos perdidos e uns cinqüenta discos gravados, ainda parece imbuído da mesma verdade. E da capacidade de te fazer sentir instantaneamente que a angústia dele é a mesma que a tua quando abre a boca e pega a guitarra, mesmo que todas as músicas tenham três acordes e letras toscas de dar dó. Um cara que uma vez escreveu que é melhor queimar do que enferrujar, e segue queimando continuamente por três décadas desde então (ao contrário de um certo imitador supervalorizado que não agüentou o tranco e citou esse verso numa nota de suicídio).

isso sim é impressionante. A mallu é simplesmente o óbvio.

mas ser o óbvio às vezes é um puta mérito. Que siga soando assim pelo tempo que der.

segunda-feira, novembro 24, 2008

novas formas de solidão no mundo moderno (xix): puxar papo no soulseek

deixando o desktop ligado por dias a fio, volta e meia agora me deparo com mensagens esquecidas de usuários do soulseek perguntando "ei, cara, posso baixar sua música?". Tipo assim, desde quando alguém pede permissão pra essas coisas? Se ela tá ali compartilhada poderia ser por algum motivo que não fosse esse?
enfim, só pra dizer que deve haver um bocado de gente mais solitária do que eu pelo mundo afora.

terça-feira, novembro 18, 2008

se algum dia eu abrir uma empresa

eu quero pra minha assessoria de marketing o cara que fez a campanha publicitária da proteína de soja. Sério, é incrível como em algum momento alguém tenha tido sucesso em convencer a opinião pública de que um troço repugnante e obviamente industrializado desses pode ser não só saudável como até saborosos. Nem vem ao caso se é verdade ou não, a pergunta é simplesmente a seguinte: num mundo livre de marketing e discursos sobre o que é saudável, alguém no universo comeria esse troço aí do lado?

segunda-feira, novembro 17, 2008

novas formas de solidão no mundo moderno (xviii): melancolia do ipod de 80 GB

literalmente todos os dias eu ouço alguma coisa no meu iPod que me parece do caralho. Que me dá vontade de gritar pro mundo "cara, olha só que do caralho". E aí logo depois me pego fantasiando com cenas imaginadas em que eu mostro isso pra alguém, boto o som pra tocar numa festa, ou até toco um cover num estádio lotado, ou faço qualquer coisa que me permitisse compartilhar o sentimento de estar achando aquilo do caralho de alguma maneira.
E aí me lembro que
(a) minha banda só se apresenta uma vez por ano pra meia dúzia de pessoas, e por pura preguiça acaba voltando pros mesmos sons de sempre, até por causa das nossas limitações óbvias.
(b) eu não sou dj, festa lá em casa só uma vez a cada dois meses, e pra alguém se animar a ir pra pista tu sempre tem que acabar tocando os mesmos infectos hits pop dos anos oitenta.
(c) pouquíssima gente à minha volta parece realmente interessada em música, e quando eu encontrar esses poucos já vou ter esquecido do qeu eu queria mostrar, até porque provavelmente já não vai fazer sentido mesmo.
e então me resta tentar escrever algo pra tentar partilhar algo com o mundo, mas simplesmente não tem a mesma graça: letrinhas são sempre medíocres perto das suas amigas notas.
ou então deixar o soulseek ligado, e acreditar que alguém em algum canto do universo vá baixar aquilo e ser feliz. O que é um pouco como postar isso aqui.
no fim das contas é sempre questão de fé.

sábado, novembro 15, 2008

oh but i was so much older then

passei as 24 horas de sexta-feira sem checar o meu e-mail. Suponho que isso deva ser um bom sinal. Algo deve estar ficando mais saudável na minha vida.
mas em todo caso é estranho. Até um tempo bem curto atrás checar e-mail era um processo essencialmente prazeroso. Eu me lembro que não faz nem uma década que eu caminhava quilômetros e perdia horas em cidades estrangeiras atrás de uma lanhouse de graça. E que aquilo às vezes era tão ou mais importante do que o mundo lá fora.
talvez porque eu ainda achasse que ainda tinha assunto com alguém naquela época. Ou porque era um tempo onde o tal correio eletrônico de fato servia pras pessoas se corresponderem. Com todas as vantagens da comunicação escrita: o tempo de escolher as palavras, a oportunidade de poder falar por oito parágrafos sem ser interrompido, etc.
aí veio o trabalho. Os yahoogrupos. As notificações automáticas de periódicos científicos. O spam. Os arquivos de powerpoint. E a infernal scrapização da comunicação da internet, que de uma hora pra outra deixou de ser correspondência pra ser mensagem de texto. E checar a caixa de e-mail virou um suplício pra ser aturado todos os dias.
e ainda que o volume de correspondência tenha decuplicado de lá pra cá, a impressão é cada vez mais a de que não tem nada mais sendo dito. OK, eu costumo colocar a culpa nas pessoas por não ter nada pra dizer. Mas acho que talvez os meios disponíveis pra dizê-lo algo hão de ter alguma coisa a ver com isso também.
ainda que provavelmente o maior problema seja só a idade mesmo, que me faz escrever um post rabugento desses à uma da manhã. Aliás, nostalgia dos tempos áureos da internet é o cúmulo da falta de charme: novo demais pras cartas escritas, velho demais pro msn. Como sempre, andamos no limbo. Que aliás me cai muito bem.

quarta-feira, novembro 12, 2008

mais autopromoção gratuita (fxviii)

eu já tinha avisado por e-mail, e suponho que a maior parte das pessoas que acessam esse blog regularmente deva estar no meu mailing list. Mas enfim, se você por acaso veio aqui atrás de frases que digam quem você é pra botar no perfil do orkut:
(a) eu não sei quem você é.
(b) e mesmo que soubesse, não ia estar espalhando isso na internet.
(b) por outro lado, estarei participando de um tal Encontro de Jovens Escritores na Feira do Livro, o que é quase tão legal quanto uma frase pra botar no orkut. Vai rolar nesse sábado, dia 15 de novembro às 19h num lugar chamado Ducha das Letras na área infantil da Feira (a parte que fica no Cais do Porto).
(c) comigo vão estar o Carlos Augusto Brum, o Antônio Xerxenesky, o Rafael Jacobsen, a Carol Teixeira e a Larissa Martins, com mediação do Juremir Machado da Silva. Mais informações aqui.
(d) se você já foi num evento similar no ano passado, ou acha que debates literários geralmente são um saco (eu tenderia a concordar), eu prometo tentar me comportar pior do que a minha timidez normalmente me permite. Mas só tentar.
(e) se ainda assim eu não conseguir causar polêmica, pelo menos vale um passeio na beira do rio. Bem na hora do pôr-do-sol.

ainda sobre quem sou eu

não sei exatamente se estavam falando de mim, mas adorei o "pessoa tranqüila, agradável e desonesta".

terça-feira, novembro 11, 2008

pictures of me

qual é o verdadeiro?













(segundo a minha identidade de leão)
















(segundo o kzuka)















(segundo o open source cinema)


















(segundo o Leandro Dóro)













(segundo a Vanessa)

domingo, novembro 09, 2008

versatilidade sem limites

eu mesmo, agora também pesquisador em nanociências. Seja lá o que quiser dizer, parece chique.

segunda-feira, novembro 03, 2008

é sábado






















o quê
: Um debate sobre literatura e outras mídias (cinema, música, quadrinhos and the like) seguido de um sarau literário-musical-bêbado-caótico. Eu participo dos dois, em tese.
aonde: no porão do beco (independência, 936)
quando: esse sábado, dia 8, das 20h em diante.
por que o meu nome aparece em itálico no flyer: não faço a mais vaga idéia. Mas em termos de fontes especiais, sou muito mais o negrito

é hoje

dá-lhe.

quarta-feira, outubro 22, 2008

literatura (iv)

a literatura é um subproduto de olhar a janela. Mas não é a parte que importa. A parte que importa é olhar a janela. E escrever, quando importa, é apenas uma maneira de olhá-la com palavras.

terça-feira, outubro 21, 2008

sobre masturbação e copyright

estava eu assitindo o trailer do "Rip", documentário do projeto Open Source Cinema (que parece bem legal, pra quem quiser dar uma olhada) quando um dos caras na tela (talvez até seja o diretor do filme) lascou a melhor frase sobre copyright nos últimos tempos, namely:
"what's happening to copyright is essentially what happened to masturbation, in that people are starting to admit that "uh, well... I do it too."
e aí pensei em postar esse troço no blog. Então fui ver se catava a frase no google pra copiar e colar. Mas o melhor link que achei sobre masturbação e copyright foi esse, numa página com a letra da música "Garota Cabeção", da banda First Masturbation, em que somos informados que
"All First Masturbation - Garota Cabeção lyrics

(mais especificamente estes)

Passo dias e noites
sempre pensando em você
acabo fikando loko
tentando te entender
e como vc me agrada com esse seu jeitinho
se naum fosse pelo troxa
pau no kú Juninho viadinho.

Refrão:
Garota Kbção
olhe para mim
esse seu jeito loko foi q me deixou asssim.

E todo meu esforço
para agradar vc
andando sempre junto
vc me olha e naum me vê
se me pede para parar
então pq me trata assim
nessa porra eu naum agüento mais um dia
agonia sem fim.

..., artist names and images are copyrighted to their respective owners. All
First Masturbation - Garota Cabeção song lyrics are restricted for educational and personal use only."

o que, bem ou mal, ilustra ainda muito melhor o quão ridícula uma legislação de propriedade intelectual pode ser. Assim sendo, posto no blog. Para fins educacionais, antes que alguém me processe.

pra quem por acaso ainda ande aí do outro lado do atlântico

nessa cidade tão terrivelmente fora de moda desde que eu saí de lá, nessa sexta (24) às 22h30 rola no Casal (Ausiàs March, 60) mais uma exibição do "Perro en el Columpio", dessa vez com direito a cerimônia de entrega de prêmios pra nós, conforme explicado nesse cartaz terrivelmente escuro aí abaixo no qual não dá pra ler uma única vírgula. Que aprovechen por mim, nois e noias do mundo afora.

domingo, outubro 19, 2008

por essas e outras, ando tão desesperadamente necessitado de amigos com uns cinco anos a menos que eu, pelo menos

é urgente, sério.

uns vinte, vinte e cinco anos

é o que demora pra algo que algum dia talvez até tenha sido legal ser definitivamente absorvido pelo mundo cão e virar um troço indescritivelmente brega. Não é por acaso que tudo o que foi feito em meados dos anos oitenta com a melhor das intenções hoje virou trilha sonora pra bares vazios com gente careca, reuniões nostálgicas de dez anos de formatura, programas de rádio em estações caretas, casamentos de gente divorciada e festas lotadas de mulheres desesperadas tentando fazer valer os óvulos que restam. Exatamente como tinha acontecido com o que tinha sido feito em meados dos anos setenta há dez anos atrás. E é menos por acaso ainda que esse é o tempo pras pessoas irem dos quinze ou vinte anos aos quarenta.
minhas previsões? esperem videokês gold edition do Nirvana pra dois mil e quatorze, musicais melosos com trilhas sonoras do Oasis em dois mil e dezessete e peças sobre a vida da Amy Winehouse em dois mil e vinte e dois.
meu conselho? como eu já tinha comentado nesse blog alguma vez, por favor parem com essa moda insuportável. Não é que os anos oitenta tenham sido melhores do que os outros: eram simplesmente vocês que eram jovens naquela época.

não se fazem mais líderes como antigamente

é incrível como quase dois mil anos depois desse cara, esse troço de presidente ser chupado pela secretária ainda dá algum ibope. O mundo pode até ter melhorado um pouco no sentido de que é menos provável ser decapitado ou castrado ritualisticamente por qualquer bobagem. Mas que virou um lugar com bem menos graça, ah virou.

quarta-feira, outubro 15, 2008

vida breve, janela aberta, primavera feroz


minha janela da sala não fecha mais desde que pintaram a casa. E de certa forma não podia haver melhor metáfora dos meus dias. Não me lembro da última vez de ser tão sensível aos rumores do mundo, da rua, dos discretos caprichos e idiossincrasias de cada dia. E mesmo nesses dias primaveris tão agradáveis e tranqüilos o mundo se alterna em parecer infinitamente desfrutável ou verdadeiramente feroz lá fora. Sem que isso signifique sofrimento. Apenas uma forma milenar e obscura de sensibilidade. E apesar dos rumores e da janela aberta, tantas vezes houve tanto silêncio. Um silêncio bonito que quase chega a acolher, cada vez que eu ando atento pela casa escura. O que me faz pensar, um pouco budista e envergonhado, que o ruído quase sempre tem vindo de dentro. E ao me afastar da rotina, seja por acaso, por opção ou mesmo pelo sono diurno do qual eu acordo assustado já no princípio da noite, me aproximo dum fluxo íntimo das coisas, de um mundo contendo espaços imensos de liberdade e silêncio. De uma vida breve e secreta, como dizia o Onetti, sem nem mesmo ter que ir até o apartamento do vizinho. Dentro da minha própria casa, o mundo ruge com o som e a fúria de seus encantados objetos imóveis. Logo ali na sala ensolarada, aquela da janela aberta.

sábado, outubro 04, 2008

metafísica

"Sinto-me profundamente na superfície." (Pedro Maciel)

eu também. As águas andam claras esses dias.

domingo, setembro 28, 2008

filhos rebeldes e surpresas legais

abri minha caixa de e-mails hoje e fui surpreendido por um punhado de mails me parabenizando por um texto meu que tinha saído no cronópios (um dos sites realmente legais de literatura do brasi, no qual até onde eu me lembrava nunca tinha publicado nada). E aí eu me perguntei "ué, que texto?", e procurando dei de cara com um troço que tinha escrito há uns seis meses atrás pro jornal vaia, em mídia impressa mesmo, que de alguma forma se esgueirou pra dentro da web sem eu saber e acabou postado lá.
suponho que algumas pessoas poderiam ter ficado bravas com a história. Eu diria que é exatamente por causa desse tipo de situação que eu escrevo. Como os filhos, as palavras só começam a ter graça de fato quando saem do teu controle. Por mim, podem seguir roubando o carro da garagem quando quiserem.

segunda-feira, setembro 22, 2008

abismo generacional

de uns tempos pra cá meus amigos saíram pra jantar e nunca mais voltaram.

quinta-feira, setembro 11, 2008

ganhando o mundo enfim


já faz um tempo, já tinha avisado pra alguns, mas tardei um monte pra fazer o anúncio oficial por causa da correria dos últimos tempos

em todo caso, a notícia é que o Estática, meu livro de contos lançado pelo IEL no final de 2005, tá disponível online em PDF há mais ou menos umas duas semanas. E, ao que tudo indica, deverá permanecer assim para todo o sempre.

o livro tá licenciado sob uma licença creative commons (assim como esse blog, aliás), que permite a distribuição, citação e utilização da obra pra fins não comerciais, contanto que citada a fonte e que as obras derivadas sejam disponibilizadas também. E me parece quase uma obrigação ética mantê-lo assim, já que:

(a) o livro foi editado por um órgão público, com dinheiro público, e portanto não pode ser mantido fora do alcance do público.

(b) a distribuição do IEL é mínima, fazendo com que o livro seja muito difícil de encontrar fora de Porto Alegre (e às vezes mesmo dentro).

(c) o que sobrou em livrarias já estava meio encalhado mesmo, ou seja, a exclusividade de direitos autorais não me dá retorno financeiro algum.

e

(d) a tiragem do livro é de 1.000 exemplares, enquanto o número estimado de usuários da internet ao redor do mundo está estimado em cerca de 1.463.632.361 pessoas, e crescendo rápido.

ou seja, não faz o menor sentido pra alguém que pretende ser lido se limitar a um troço tão tosco e restrito quanto papel.

até o momento o livro pode ser encontrado no overmundo, no scribd e no cypedia, mas talvez a lista venha a aumentar. E eu certamente não me importo nem um pouco com quem queira espalhá-lo por outros lugares.

a minha parte na história do livro está cumprida, portanto.

o resto da vida dele é com vocês bilhões de leitores todos.

compartilhar a aventura será um prazer.

segunda-feira, setembro 08, 2008

coisas a fazer quando você anda meio down (xxvii)

poucas coisas no mundo são tão terapêuticas quanto mexer no currículo lattes. O único lugar no mundo em que tudo se adiciona e nada se subtrai. Nada jamais é perdido depois de ser ganho no lattes, num confortante contraponto ao tempo, que nunca é ganho depois de perdido. Não que essa simétrica substituição da vida pela obra chegue perto de ser alguma forma de compensação. Mas é um grato refúgio pra desviar os olhos do desmoronamento contínuo da vida nos momentos de fraqueza.

sexta-feira, agosto 22, 2008

enxurrada de lançamentos com o meu nome nos créditos (ii)























ok, esse é mais curtinho. Mas é bem mais meu. Minha primeira e gloriosa incursão no cinema espanhol (junto com uma outra gente legal de POA), o Perro en el Columpio, tá sendo lançada oficialmente em Porto Alegre em exibição única no dia 28/8 (5a feira) às 20h30, na sala P.F. Gastal da Usina do Gasômetro. Cinco minutos de cinema, mais umas taças de champanhe pra comemorar uns prêmios que o filme ganhou do outro lado do globo terrestre enquanto a gente tava longe demais pra avisar. Espero-vos lá de verdade. Vai ser massa.

quinta-feira, agosto 21, 2008

pirateie um filme que passa no cinemark

semana passada fui assistir o filme do batman no cinemark de porto alegre. primeiro multiplex em um tempão. eu tinha até esquecido porque não vou muito nesses lugares. agora lembrei.
1.1. o ingresso custou 10 reais numa segunda-feira.
1.2. depois de pagar o ingresso, eu entrei na sala e fui forçado assistir pelo menos uns 8 comerciais.
1.3. como cada um tinha uns 2 minutos, mais os trailers, o filme começou com quase meia hora de atraso.
1.4. e como cereja no sorvete, depois de pagar o ingresso e perder meia hora da minha vida, eu ainda fui acusado de financiar o crime organizado no Brasil por esse comercial patético, que me recuso a postar aqui pra não manchar esse blog.
então faça a sua boa ação do dia:
2.1. entre no site do cinemark.
2.2 veja os filmes que estão passando.
2.3. escolha um.
2.4 baixe no emule, bittorrent ou similar.
2.5. disponibilize na rede, e com sorte alguém que baixe o filme será poupado de freqüentar esse lugar ridículo e ser tachado de assassino por um publicitário imbecil pago por uma indústria mentirosa.
porra, se é esse sistema que financia a arte no mundo, a mim pelo menos quase me dá vergonha de ser chamado de artista de vez em quando.

quarta-feira, agosto 20, 2008

enxurrada de estréias com o meu nome nos créditos (i)

depois de um ano de frescurinha de festival aqui, festival ali, o incomparável ainda orangotangos finalmente chega num cinema perto de você. Pré-estréia aberta ao público pagante dias 22 e 23 de agosto em Porto Alegre. Hora e lugar, pergunte a alguém mais da equipe ou ao seu jornal preferido, já que nem eu consegui descobrir (mas como já vi o filme três vezes, não chegou a me preocupar). Senão, entra em cartaz dia 29 de agosto em Porto Alegre, dia 5 de setembro no Rio e em São Paulo. Uma chance única de ver o meu nome nos créditos de um longa-metragem. Aliás, única mesmo: ele só aparece uma vez e é bem curtinho. Talvez porque toda a minha participação no filme tenha sido falar mal dele.

sexta-feira, agosto 15, 2008

sinais do fim dos tempos (xxiiviilx)


em mais uma crise global, alguns basquetebolistas espanhóis malvados e racistas estão sendo acusados de terem dado a entender que os chineses TÊM OLHOS PUXADOS! É sério. Olha aqui. Ou aqui. E aqui. E aí mande o seu multiculturalista politicamente correto preferido (como esse ou esse por exemplo) catar coquinho. O mundo agradece.
e o mais engraçado, na real, é que todos os idiotas que acusaram os caras de racismo parecem ter incluído uma história de "os espanhóis são mesmo uns racistas, porque xingam os negros em jogos de futebol". Como se fossem realmente os coitados da seleção de basquete que estivessem na arquibancada. Ou seja, acusar gente de ser racista pelo simples fato de ser espanhol é super OK. Mas dizer que chinês tem olho puxado, nem pensar.

quinta-feira, agosto 07, 2008

moto-contínuo

e talvez no fim das contas o mundo como ele é hoje gire de maneira tão autônoma e implacável que ajudar a empurrar a roda pra frente já não tenha tanto mérito assim. Talvez mais louvável seja tentar empurrar pra trás. Ou pelo menos tentar corrigir a rota.

domingo, julho 20, 2008

não se torne você também um criminoso

e não deixe que os seus filhos, vizinhos, amigos, e praticamente todo mundo que você conhece e acessa a internet caiam no crime também. Passa aqui e assina esse troço. É sério.

sexta-feira, julho 18, 2008

hilaridade involuntária

dum artigo da Science sobre transtorno bipolar em crianças, citando declaração da ex-atriz mirim Patty Duke num congresso de psiquiatria, descrevendo as agruras pelas quais passou devido ao atraso em receber o tal diagnóstico:
"Former child star Patty Duke, now 61, was diagnosed with bipolar disorder at the age of 35. In her late teens, she told psychiatrists at their May meeting, she experienced “eruptions of temper alternating with taking to bed for months at a time, getting up only to go to the bathroom and attempt suicide.”
(negritos meus)
ok, pode ser trágico, mas também foi a coisa mais engraçada que eu li nos últimos tempos. Aliás, parece algo saído diretamente de um filme do Woody Allen. Aliás, não duvido que tenha sido ele que tenha escrito o roteiro do tal depoimento pro analista dele levar pro congresso.
(e, já que eu tô no assunto, alguém pode dizer que alguém que vai a público na frente de centenas de psiquiatras com uma frase overthetop dessas realmente ficou muito melhor depois de tratado? Tipo, isso me parece o pico do pico da megalomania histérica. Mas enfim, talvez aí eu já esteja entrando na minha própria implicância com o sistema. For now, let's keep it just for laughs)

segunda-feira, julho 07, 2008

razões pelas quais a volta é a maior das viagens

andar no meio dos restos e olhar o lado de fora das coisas que se costumava ver de dentro. Descobrir aos poucos que o lado de dentro persiste impregnado de sentido, mas invariavelmente feito em pedaços, uma sugestão de um cheiro familiar, um meio sorriso, uma inflexão de voz, o jeito que a neblina dá lugar ao sol. Viajar com ares de turista por lugares familiares, caminhar pela terra semidevastada e deixar a luz entrar pelas rachaduras, pra ver se em algum lugar surge alguma sombra nova. Trocar a rigidez da geografia real pelo fluxo da geografias internas, países pelas linhas da mão, continentes por oceanos de lembranças. Ver o mundo em cacos e não ter pressa em preencher o espaço. E construí-lo de novo devagar, sem a pretensão de fazê-lo a partir de tábua rasa como o pintor abstrato, nem a partir de um modelo qualquer como o retratista. Mas sim como o mosaicista, fazendo uma colagem dos pedaços que restam dos sentidos antigos, dos que explodiram e dos que permanecem, dos pedaços da cidade nova e dos da que se foi, pra criar algo novo a partir das mesmas peças de sempre. Que no fundo é o que a gente sempre faz, porque afinal de contas é a única opção que o mundo nos dá. Apenas algumas dentre as muitas razões pra que as voltas costumem ser viagens muito maiores do que as viagens em si. Espero que continuem sendo.

segunda-feira, junho 30, 2008

diálogos curtos pra lembrar que o retorno e a vida valem a pena (dccxiii)

- quanto é a água de côco?
- um real.

pequenas transgressões que eu sempre tive vontade de cometer mas nunca tive coragem (lxxii)


só pelo prazer de ver a cara do tio da alfândega.

razões para ficar feliz com a existência das universidades privadas (i)








porque, francamente, eu ficaria realmente puto se soubesse que os meus impostos pagaram o diploma de publicitário de um cara que monta um sistema de milhagem em que a maior honra possível é ganhar um “cartão vermelho”. Se bem que, na real, o mundo precisa muito mais de maus publicitários do que de bons publicitários. Então acho que dessa vez passa. Mas só dessa vez.

evidência de que o pedestrianismo não existia na América dos peregrinos, e muito provavelmente é um vírus danoso trazido por imigrantes incultos













onde está a calçada?

sábado, junho 28, 2008

you may not help me

por que diabos o simples gesto de ficar parado com ar perdido em algum lugar desse país onde você supostamente não deveria fazê-lo (aeroporto, teatro, estádio de futebol, museu) faz com que em questão de segundos um segurança se aproxime com a indefectível pergunta “may i help you, sir?”. Suponho que essa frase em português deva significar algo como “com licença, mas nessa posição o senhor é uma ameaça à segurança nacional e é melhor ir dizendo rapidinho o que está fazendo aí”. Ou, menos paranoicamente, talvez isso queira simplesmente dizer que alguém que pareça sem direção por alguns segundos nesse país deva ser presumivelmente alguém que precisa de ajuda. De uma maneira ou de outra: não, você não pode me ajudar.

patenteando o mundo em todas as suas línguas














dia desses a gente não vai mais poder abrir a boca sem pagar esmola pro tio ronald. Alguém aí pode me explicar como esse tipo de coisa pode estar dentro da lei?
(p.s. ecologicamente pasmo: sim, o copo é de isopor. Como quase tudo que contenha comida nesse buraco negro)

sábado, junho 21, 2008

elaboração lógica a partir da existência dos números de série marcados a lápis nos cantos de gravuras e fotografias

- limitar o número de cópias é uma forma de agregar valor monetário a uma obra que, em tese, poderia ser reproduzida infinitamente a custo nulo ou muito baixo.
- logo, algo com poucas cópias tem mais valor do que algo com muitas.
- mesmo que o objeto seja exatamente o mesmo nos dois casos.
- tal valor, portanto, não tem nada a ver com mérito artístico, e sim com um fator mercadológico similar ao do mercado de figurinhas.
- logo, a obra de arte só possa a ter valor financeiro quando não está disponível para todo mundo.
- se o artista optasse por fazer cópias ilimitadas, ele perderia dinheiro.
- logo, ele tem que optar entre (a) ganhar dinheiro ou (b) deixar que mais gente tenha acesso a sua obra.
- mesmo que em tese alcançar outras pessoas deveria ser o objetivo fundamental de uma obra de arte.
- logo, o sistema obriga o artista a optar entre ganhar dinheiro com a arte ou a prejudicar ativamente seu objetivo primeiro, que é ser vista.
- logo, o sistema funciona de forma não só a não estimular o artista a divulgar sua obra, mas ativamente estimulando-o a escondê-la, ou mesmo a destruir sua possibilidade de reprodução.
- em última análise, a sociedade paga ativamente ao artista para que ele faça sua obra inacessível, efetivamente destruindo-a para a maior parte da sociedade.

com licença, mas sou eu a única pessoa a ter a impressão que algo tem que estar errado nesse sistema?

terça-feira, junho 17, 2008

melhor diálogo do dia de hoje


Personagens:
HOMEM 1, americano tradicional padrão, por volta dos 50 anos, meio gordo e com boné de beisebol.
HOMEM 2, americano cool padrão, por volta dos 30 anos, jornalista, bem-vestido e metido a engraçadinho.

HOMEM 1
- (olhando uma fila grande de pessoas) What is this line for?

HOMEM 2
- Sigur Ros concert. They're an Icelandic band.

HOMEM 1
- Oh... (segue em frente sem olhar pra trás)

domingo, junho 15, 2008

dois dias de metrô















(sábado)

meia hora de metrô de Jamaica até Manhattan em um sábado de tarde. Umas vinte pessoas no vagão quando eu entro. Nenhuma sorri. Eu pareço ser o único que olha em volta. Todas olham fixamente para baixo ou para frente, exceto por uma afro-americana que discute com o marido. A luz fluorescente tem uma aura de bar de cemitério.

talvez seja um vagão ruim, penso que pode ser que melhore quando troquem as pessoas. Mas metade da população se recicla e nada de sorrisos. O primeiro casal sorridente só vai aparecer lá pelos quinze minutos depois do embarque, um par de latinos com um bebê no carrinho. Um pouco depois, aparece um segundo par de meninas sorridentes. E é só. Dois pares de sorrisos entre cinqüenta ou sessenta pessoas passam pelo vagão em que eu estou. Algo não parece certo.

(domingo)

dez minutos de metrô de Washington Square até a Lexington com 63. Quando eu saio do metrô eu ouço um “Sir... excuse me”. Olho pra trás e vejo a minha câmera na mão de uma mulher, atrás da porta de vidro já fechada. Com certeza caiu do bolso. Eu bato na porta freneticamente e nada. Sinalizo “next stop” pra mulher que tem a câmera na mão. Ela não reage. Mas uma senhora oriental se compadece e prestativamente se levanta dizendo “next stop”. Ou pelo menos é o que a minha leitura labial me diz.

eu penso em correr até a próxima parada pra chegar antes, mas me dou conta que teria que atravessar o rio nadando. Melhor esperar o próximo trem. Que parece não chegar nunca, enquanto eu me remordo de constrangimento por estar atrasando a vida duma imigrante inocente que vai pro Queens no domingo de tarde. Quinze minutos de espera e nada. Nem ruído. As pessoas começam a olhar pro túnel. Eu sinto saudade de Barcelona. Quando o metrô finalmente chega, uns vinte minutos depois, um senhor de meia-idade pára na beira dos trilhos e faz sinal de “vai se foder” pro motorista. E mesmo depois do trem parar ele segue mandando o metrô se foder. Suponho que seja pelo atraso, mas vai saber.

a senhora oriental me espera na próxima parada. Eu tento agradecer o mais efusivamente que posso, expressando a minha felicidade, gratidão e essas coisas pra tentar demonstrar que o esforço dela valeu a pena. Ela não parece muito interessada. Parece mais preocupada em pegar o trem pra recuperar o tempo perdido. Talvez também não fale inglês. Em poucos segundos ela já está atrás das portas de vidro, sem falar palavra.

e também não sorri em nenhum momento.

sábado, junho 14, 2008

você sabe que está no novo mundo quando

o comissário avisa que a legislação proíbe “congregar-se na área de toaletes do avião”. Seja lá o que isso quer dizer.

quando acaba bem antes de poder chamar de amor


quando minha namorada (o rosto bonito da foto ao lado) chegou em Barcelona ela colocou um texto bonito no perfil do orkut (sim, eu sigo tentando mendigar uns hits pra este blog escrevendo "texto no perfil do orkut"), algo que falava sobre os nomes de ruas que ela ia lendo e que, ainda que não quisessem dizer nada naquele momento, pareciam indicar que viriam a significar algo. Uns dias depois ela tirou o texto correndo ao se dar conta que uma coisa muito parecida era mencionada no aborto espontâneo cinematográfico misteriosamente popular chamado “L’Auberge Espagnole”. Assim que (castelhanice bombando) eu não vou falar de ruas que virão a fazer sentido, porque não é fashion. Mas eu acho que eu tô no momento certo pra poder falar das ruas que quase chegaram a fazer sentido.
meus seis meses cronológicos de solo europeu acabaram hoje, abortados bruscamente pela improrrogabilidade do meu ridículo visto de estudos que quase me deporta cada vez que eu passo na fronteira. E sinto que nesse tempo eu conheci meio mundo, em termos de ruas, pessoas, lugares ou o que seja. Mas muito pouco disso teve tempo de se tornar realmente querido. Mesmo que tanto desse a impressão de que ia.
então essa é um pouco a história das inúmeras ruas que eu passei uma ou duas vezes. Dos restaurantes baratos cuja localização eu guardei mentalmente pra voltar mas nunca cheguei a ir de fato. Dos bares onde eu entrei uma única vez pra ver um jogo de futebol ou encontrar alguém e jurei que ia voltar, sem fazê-lo. Dos meus pratos favoritos que eu comi uma só vez. Das pessoas que apareceram e foram e começam a ser esquecidas tão rápido quanto chegaram a ser lembradas. Enfim, de um monte de experiências irrepetíveis. Não porque sejam tão incríveis ou espetaculares. Mas simplesmente porque o tempo não deu muito tempo pra que se repetissem.
quase nada chega a se repetir em seis meses de Barcelona, e suponho que isso seja um elogio à cidade. Mas me falta intimidade pra poder dizer muito mais sobre ela. E ao falar de Barcelona me sinto um pouco como um fracassado sexual tentando descrever as amigas que pensou em comer como se tivessem sido suas amantes de fato. Parecendo muito entendido mas no fundo não tendo ido fundo o suficiente em nenhuma pra falar com propriedade.
e pra não sair do campo sexual, uma coisa que começa a acontecer quando a gente deixa de ser adolescente (ou pelo menos fica um pouquinho menos) é que levar alguém pra cama ou mesmo se mudar pra casa de alguém passa ser um troço meio fácil e natural. E ainda assim, apaixonar-se vai se tornando cada vez mas difícil. E amar de verdade segue sendo tão difícil quanto sempre.
e enfim, um pouco maduro demais pra me apaixonar, tentei ir morar com uma certa mulher chamada Barcelona por um certo tempo, algo como um certo flerte que parecia que poderia levar a algum lugar e que subitamente virou “quem sabe a gente mora junto” na manhã seguinte. E agora me separo sem ressentimentos, sabendo que mudei muito pouco na vida dela. Que provavelmente ela nunca mais vai querer porra nenhuma comigo.
e, ainda que já seja calejado o suficiente pra saber que não tem nada de tão trágico nisso, vou embora meio de luto (e enrolando ao máximo a hora de chegar) pro meu apartamento de solteiro no fim do fundo do subtrópico, sem ter presunto cru nem janta me esperando quando chegar do trabalho. E no fundo morria de vontade de ter uma chance de continuar tentando ter e dar prazer à cidade, ao saber das milhares e milhares de ruas e dobras e pedaços do corpo dela que outros amantes percorreram e percorrerão com muitíssimo mais propriedade do que eu.
enfim, no fim das contas, nada que não se supere. Só um pouco de frustração. E não pelo tempo aqui, que foi dos mais felizes. Mas simplesmente porque ele acaba, porque o tempo é rei de fazer essas putadas. E depois de ter se escondido por uns tempos e me deixado viver meio fora dele por uma temporada, ele sempre volta pra mostrar quem manda. E pra me jogar de volta na consciência de que a gente não se desloca. É o tempo que nos carrega, e ele sempre tá andando, como um ônibus enfurecido que nos faz devorar quilômetros mesmo que a gente se sinta sentado no mesmo lugar.
enfim, nada que deixe ressentimentos. No fim das contas, é só mais uma história romântica que acaba bem. Mas também acaba bem antes do que se poderia chamar de amor.

terça-feira, junho 10, 2008

mais um que roubou a minha alma

mas enfim, tem sempre um discreto prazer em fazer parte da história. Quem me achar ganha um doce, em todo caso.

mais uma desvantagem da documentação obsessiva na era digital

já não se pode invadir o palco pulando que nem um adolescente e ficar incógnito. Particularmente quando visto de cima você é um amontoado de cachos balançantes.

domingo, junho 01, 2008

segunda-feira, maio 19, 2008

tudo é questão de perspectiva















nada no mundo que não se resolva empurrando meio centímetro pra baixo.

terça-feira, maio 13, 2008

canguro en el columpio


minha singela (e única, até agora) aventura cinematográfica barcelonina vai dar uma volta na Austrália. "Perro en el columpio" é o nome do bebê (meu, do Rabin, e de outros pais e mães). Desejem-nos sorte no tal festival, até porque prêmios em dinheiro nunca são demais pra quem paga o aluguel em euros. E se alguém andar aí do outro lado do mundo aí por junho ou julho, por algum acidente do destino, aqui estão as datas em que ele estará num cinema perto de você.

sábado, maio 03, 2008

sabedoria zen feita em casa - com o sabor da mamãe! (lxxxviii)


ser um cara focado certamente te ajuda a chegar mais longe na vida. Mas quando tu tá no ônibus errado chegar mais longe não é vantagem nenhuma.

quarta-feira, abril 23, 2008

filma nóis aqui, galvão!

ó eu aí na nature. ok, é só correspondência. ok, são só 3 parágrafos. ok, falar mal de psiquiatra e da indústria farmacêutica no século XXI é como tirar doce de criança. ok, foda-se a autocrítica. ó eu aí do lado de dentro.

segunda-feira, abril 21, 2008

evolução inegável

pra quem só era o número um do google em "higiene do cu" até então, descobrir que também se é o primeiro em "trepada massa" é no mínimo um belo dum salto qualitativo.

domingo, abril 20, 2008

tentativa escarrada e infame de quadruplicar o movimento deste blog

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e assim por diante, atendendo a demanda de todos os dias. taquilalia ao seu dispor.

pequeno ponto luminoso no currículo














acabo de tomar conhecimento que já faço parte do mundo dos sebos, que tanta felicidade me trouxe ao longo da vida. Sorte ou azar (e preço de 6 reais à parte), tenho que admitir que é uma puta honra. Aproveitem a barbada.

pequena explicação sobre o post abaixo

talvez pra evitar protestos escandalizados, o site em questão retirou os resultados da pesquisa citada do ar. Mas basicamente eram pais respondendo "o que mais lhe preocupa que seus filhos vejam num videogame. As opções eram
a) um homem e uma mulher fazendo sexo
b) dois homens se beijando
c) uma cabeça decepada
d) múltiplos usos da palavra "fuck"
não me lembro dos números exatos, mas o fato é que o sexo ganhava disparado, com os homens se beijando em segundo lugar. E a cabeça decepada, coitada, só conseguia ser mais perturbante do que a palavra "fuck" (talvez por mérito de hollywood ou do hip hop, que banalizaram a dita cuja). Suponho que dispense comentários.

terça-feira, abril 15, 2008

como eu ia dizendo uns dezessete ou dezoito posts mais pra baixo



tem alguma coisa muito errada com o mundo lá fora. Pelo menos na terra dos klingons. Dê você também uma olhada estarrecida nos resultados da pesquisa no canto inferior direito da tela desse site de pais preocupados. Dá vontade de cortar a cabeça dessa gente. Sem nem dar um beijo antes.