quando minha namorada (o rosto bonito da foto ao lado) chegou em Barcelona ela colocou um texto bonito no perfil do orkut (sim, eu sigo tentando mendigar uns hits pra este blog escrevendo "texto no perfil do orkut"), algo que falava sobre os nomes de ruas que ela ia lendo e que, ainda que não quisessem dizer nada naquele momento, pareciam indicar que viriam a significar algo. Uns dias depois ela tirou o texto correndo ao se dar conta que uma coisa muito parecida era mencionada no aborto espontâneo cinematográfico misteriosamente popular chamado “L’Auberge Espagnole”. Assim que (castelhanice bombando) eu não vou falar de ruas que virão a fazer sentido, porque não é fashion. Mas eu acho que eu tô no momento certo pra poder falar das ruas que quase chegaram a fazer sentido.
meus seis meses cronológicos de solo europeu acabaram hoje, abortados bruscamente pela improrrogabilidade do meu ridículo visto de estudos que quase me deporta cada vez que eu passo na fronteira. E sinto que nesse tempo eu conheci meio mundo, em termos de ruas, pessoas, lugares ou o que seja. Mas muito pouco disso teve tempo de se tornar realmente querido. Mesmo que tanto desse a impressão de que ia.
então essa é um pouco a história das inúmeras ruas que eu passei uma ou duas vezes. Dos restaurantes baratos cuja localização eu guardei mentalmente pra voltar mas nunca cheguei a ir de fato. Dos bares onde eu entrei uma única vez pra ver um jogo de futebol ou encontrar alguém e jurei que ia voltar, sem fazê-lo. Dos meus pratos favoritos que eu comi uma só vez. Das pessoas que apareceram e foram e começam a ser esquecidas tão rápido quanto chegaram a ser lembradas. Enfim, de um monte de experiências irrepetíveis. Não porque sejam tão incríveis ou espetaculares. Mas simplesmente porque o tempo não deu muito tempo pra que se repetissem.
quase nada chega a se repetir em seis meses de Barcelona, e suponho que isso seja um elogio à cidade. Mas me falta intimidade pra poder dizer muito mais sobre ela. E ao falar de Barcelona me sinto um pouco como um fracassado sexual tentando descrever as amigas que pensou em comer como se tivessem sido suas amantes de fato. Parecendo muito entendido mas no fundo não tendo ido fundo o suficiente em nenhuma pra falar com propriedade.
e pra não sair do campo sexual, uma coisa que começa a acontecer quando a gente deixa de ser adolescente (ou pelo menos fica um pouquinho menos) é que levar alguém pra cama ou mesmo se mudar pra casa de alguém passa ser um troço meio fácil e natural. E ainda assim, apaixonar-se vai se tornando cada vez mas difícil. E amar de verdade segue sendo tão difícil quanto sempre.
e enfim, um pouco maduro demais pra me apaixonar, tentei ir morar com uma certa mulher chamada Barcelona por um certo tempo, algo como um certo flerte que parecia que poderia levar a algum lugar e que subitamente virou “quem sabe a gente mora junto” na manhã seguinte. E agora me separo sem ressentimentos, sabendo que mudei muito pouco na vida dela. Que provavelmente ela nunca mais vai querer porra nenhuma comigo.
e, ainda que já seja calejado o suficiente pra saber que não tem nada de tão trágico nisso, vou embora meio de luto (e enrolando ao máximo a hora de chegar) pro meu apartamento de solteiro no fim do fundo do subtrópico, sem ter presunto cru nem janta me esperando quando chegar do trabalho. E no fundo morria de vontade de ter uma chance de continuar tentando ter e dar prazer à cidade, ao saber das milhares e milhares de ruas e dobras e pedaços do corpo dela que outros amantes percorreram e percorrerão com muitíssimo mais propriedade do que eu.
enfim, no fim das contas, nada que não se supere. Só um pouco de frustração. E não pelo tempo aqui, que foi dos mais felizes. Mas simplesmente porque ele acaba, porque o tempo é rei de fazer essas putadas. E depois de ter se escondido por uns tempos e me deixado viver meio fora dele por uma temporada, ele sempre volta pra mostrar quem manda. E pra me jogar de volta na consciência de que a gente não se desloca. É o tempo que nos carrega, e ele sempre tá andando, como um ônibus enfurecido que nos faz devorar quilômetros mesmo que a gente se sinta sentado no mesmo lugar.
enfim, nada que deixe ressentimentos. No fim das contas, é só mais uma história romântica que acaba bem. Mas também acaba bem antes do que se poderia chamar de amor.
então essa é um pouco a história das inúmeras ruas que eu passei uma ou duas vezes. Dos restaurantes baratos cuja localização eu guardei mentalmente pra voltar mas nunca cheguei a ir de fato. Dos bares onde eu entrei uma única vez pra ver um jogo de futebol ou encontrar alguém e jurei que ia voltar, sem fazê-lo. Dos meus pratos favoritos que eu comi uma só vez. Das pessoas que apareceram e foram e começam a ser esquecidas tão rápido quanto chegaram a ser lembradas. Enfim, de um monte de experiências irrepetíveis. Não porque sejam tão incríveis ou espetaculares. Mas simplesmente porque o tempo não deu muito tempo pra que se repetissem.
quase nada chega a se repetir em seis meses de Barcelona, e suponho que isso seja um elogio à cidade. Mas me falta intimidade pra poder dizer muito mais sobre ela. E ao falar de Barcelona me sinto um pouco como um fracassado sexual tentando descrever as amigas que pensou em comer como se tivessem sido suas amantes de fato. Parecendo muito entendido mas no fundo não tendo ido fundo o suficiente em nenhuma pra falar com propriedade.
e pra não sair do campo sexual, uma coisa que começa a acontecer quando a gente deixa de ser adolescente (ou pelo menos fica um pouquinho menos) é que levar alguém pra cama ou mesmo se mudar pra casa de alguém passa ser um troço meio fácil e natural. E ainda assim, apaixonar-se vai se tornando cada vez mas difícil. E amar de verdade segue sendo tão difícil quanto sempre.
e enfim, um pouco maduro demais pra me apaixonar, tentei ir morar com uma certa mulher chamada Barcelona por um certo tempo, algo como um certo flerte que parecia que poderia levar a algum lugar e que subitamente virou “quem sabe a gente mora junto” na manhã seguinte. E agora me separo sem ressentimentos, sabendo que mudei muito pouco na vida dela. Que provavelmente ela nunca mais vai querer porra nenhuma comigo.
e, ainda que já seja calejado o suficiente pra saber que não tem nada de tão trágico nisso, vou embora meio de luto (e enrolando ao máximo a hora de chegar) pro meu apartamento de solteiro no fim do fundo do subtrópico, sem ter presunto cru nem janta me esperando quando chegar do trabalho. E no fundo morria de vontade de ter uma chance de continuar tentando ter e dar prazer à cidade, ao saber das milhares e milhares de ruas e dobras e pedaços do corpo dela que outros amantes percorreram e percorrerão com muitíssimo mais propriedade do que eu.
enfim, no fim das contas, nada que não se supere. Só um pouco de frustração. E não pelo tempo aqui, que foi dos mais felizes. Mas simplesmente porque ele acaba, porque o tempo é rei de fazer essas putadas. E depois de ter se escondido por uns tempos e me deixado viver meio fora dele por uma temporada, ele sempre volta pra mostrar quem manda. E pra me jogar de volta na consciência de que a gente não se desloca. É o tempo que nos carrega, e ele sempre tá andando, como um ônibus enfurecido que nos faz devorar quilômetros mesmo que a gente se sinta sentado no mesmo lugar.
enfim, nada que deixe ressentimentos. No fim das contas, é só mais uma história romântica que acaba bem. Mas também acaba bem antes do que se poderia chamar de amor.
2 comentários:
Achei lindo!
Bem legal!
Postar um comentário