(sábado)
meia hora de metrô de Jamaica até Manhattan em um sábado de tarde. Umas vinte pessoas no vagão quando eu entro. Nenhuma sorri. Eu pareço ser o único que olha em volta. Todas olham fixamente para baixo ou para frente, exceto por uma afro-americana que discute com o marido. A luz fluorescente tem uma aura de bar de cemitério.
talvez seja um vagão ruim, penso que pode ser que melhore quando troquem as pessoas. Mas metade da população se recicla e nada de sorrisos. O primeiro casal sorridente só vai aparecer lá pelos quinze minutos depois do embarque, um par de latinos com um bebê no carrinho. Um pouco depois, aparece um segundo par de meninas sorridentes. E é só. Dois pares de sorrisos entre cinqüenta ou sessenta pessoas passam pelo vagão em que eu estou. Algo não parece certo.
(domingo)
dez minutos de metrô de Washington Square até a Lexington com 63. Quando eu saio do metrô eu ouço um “Sir... excuse me”. Olho pra trás e vejo a minha câmera na mão de uma mulher, atrás da porta de vidro já fechada. Com certeza caiu do bolso. Eu bato na porta freneticamente e nada. Sinalizo “next stop” pra mulher que tem a câmera na mão. Ela não reage. Mas uma senhora oriental se compadece e prestativamente se levanta dizendo “next stop”. Ou pelo menos é o que a minha leitura labial me diz.
eu penso em correr até a próxima parada pra chegar antes, mas me dou conta que teria que atravessar o rio nadando. Melhor esperar o próximo trem. Que parece não chegar nunca, enquanto eu me remordo de constrangimento por estar atrasando a vida duma imigrante inocente que vai pro Queens no domingo de tarde. Quinze minutos de espera e nada. Nem ruído. As pessoas começam a olhar pro túnel. Eu sinto saudade de Barcelona. Quando o metrô finalmente chega, uns vinte minutos depois, um senhor de meia-idade pára na beira dos trilhos e faz sinal de “vai se foder” pro motorista. E mesmo depois do trem parar ele segue mandando o metrô se foder. Suponho que seja pelo atraso, mas vai saber.
a senhora oriental me espera na próxima parada. Eu tento agradecer o mais efusivamente que posso, expressando a minha felicidade, gratidão e essas coisas pra tentar demonstrar que o esforço dela valeu a pena. Ela não parece muito interessada. Parece mais preocupada em pegar o trem pra recuperar o tempo perdido. Talvez também não fale inglês. Em poucos segundos ela já está atrás das portas de vidro, sem falar palavra.
e também não sorri em nenhum momento.
Um comentário:
Como fica difícil mudar o perfil das pessoas e apressar trens, pelo menos usa um bolso mais fundo da próxima vez... Fica safo.
Postar um comentário