segunda-feira, dezembro 10, 2012
segunda-feira, dezembro 03, 2012
o que aprendi com o olímpico monumental
estranho nutrir uma sensação de dívida com esse tosco anel de concreto, mas é inegável que ela existe. Pois por mais chavão e piegas que seja dizê-lo, vários pedaços do que eu sei sobre a vida depois de trinta e três anos de campeonato eu aprendi por aqui. A começar pela verdades mais óbvias, e mais difíceis de aceitar: como a de que na vida às vezes se ganha, às vezes se perde, às vezes se empata (e às vezes o juiz encerra o jogo porque fica com medinho). Aprendi que o mundo é fundamentalmente injusto, que o melhor nem sempre ganha, e que de certa forma é bom que seja assim, porque senão seria beisebol. Mas também aprendi que as derrotas podem ser tão épicas e notáveis quanto as vitórias, e que passada a ressaca a convivência de ambas na memória é surpreendentemente harmoniosa. Aprendi a abraçar estranhos, e a compartilhar experiências e estados de espírito de uma forma que a vida lá fora quase nunca proporciona. Aprendi que nem derrotas nem vitórias duram pra sempre, que a cada ano a tabela do campeonato começa do zero, e que no fim das contas a vida sempre anda em círculos. Conheci o esforço hercúleo dos comentaristas esportivos em fingir que não repetem suas frases pela milésima vez, em fazer tudo parecer tão novo como no primeiro dia em que se pisa no estádio. E conheci a imensa capacidade do ser humano em de fato acreditar nisso, sentir que uma noite qualquer de quarta-feira será a última e que tudo o que já se ganhou ou vai se ganhar na vida pouco vale em relação ao que está em disputa no instante presente. Também aprendi a constância: triste ou alegre do lado de fora, eufórico ou fodido na vida, uma vez dentro do anel de concreto sempre voltam a valer as regras: os mesmos noventa minutos, os mesmos onze de cada lado, a mesma lógica inabalável do jogo. E aprendi sobre os inesquecíveis momentos em que toda essa lógica se dissolve, em que alguém apanha a bola e contraria frontalmente o fluxo natural do universo, em que sete podem ser mais que onze mesmo com um pênalti contra (ok, confesso que isso foi pela tevê). Aprendi que esses momentos raros são os que contam, que se vive oitenta e nove minutos e meio de marasmo pra ver o destino decidido em dez ou quinze segundos, por um lance genial ou por um erro bobo. Mas ainda que tudo se decida nesses instantes, no lampejo brusco de um ataque fulminante, talvez a lição mais importante que o estádio me ensinou é que a maior parte da vida é meio de campo. Zero a zeros frustrantes, toques pro lado, volantes de contenção, carrinhos escorregadios e bolas divididas. E que por mais que o destino da partida se decida em um instante, de certa forma ela é ganha ou perdida nesse meio de campo truncado. Nos tempos mortos em que nada parece acontecer, mas nos quais se urge silenciosa e imperceptivelmente a agonia ou o êxtase do que está por vir. Pois são a dedicação e a espera pacientes durante esses oitenta e nove minutos aparentemente fúteis que, de dividida em dividida, terminam por levar ao ponto em que a sorte irrompe. E esse é o grande mistério. Saio do Olímpico pela última vez graduado, um tanto mais sábio do que se aqui não tivesse pisado. E sobre o quanto a vida ainda há de ensinar pela frente, através desse estranho rito entre as quatro linhas do campo, só a Arena agora é capaz de dizer.
Assinar:
Postagens (Atom)