na fila da janela, levo atrás do tapa-olho meu rosto exausto de sala de embarque. E me pergunto se do outro lado do vidro ainda há algum lugar imóvel que dê pra chamar de casa. Que por vezes já acredito que o mundo possa ter se convertido de vez nessa caixa de Pandora ao contrário, em que eu entro a cada dia pra sair em outro lugar, outra órbita, outro território pra mapear. E por mais que eu o tenha tantas vezes desejado, cada vez mais me pego pedindo à estrela cadente pra me tomar os pedidos de volta. Porque na medida em que ganho velocidade, sempre um passo à frente de uma ferrugem imaginária, vou também perdendo a capacidade de sentir o movimento do mundo, o ruído quieto a ser intuído na imobilidade e no silêncio. Perdido na nuvem que me dá liberdade, em meio à eletricidade latente, eu me pergunto como fazer pra condensar. Juntar as gotas de vapor pra tentar traçar a rota de volta ao tempo presente, guiado por alguma trilha esquecida de migalhas de pão. Num mundo sem barreiras, eu sonho com o limite, com a parede que dê forma a um caminho que não aponte sempre de volta pra mim. Mas com os próximos passos todos comprados em promoções na madrugada, já não sou eu quem me navego, quem me navega é a nuvem. E minha resolução de ano novo não é outra senão chover e voltar pro chão.