terça-feira, dezembro 27, 2005
pra ser escrito num museu do holocausto qualquer
Matar um camundongo é um troço tri fácil. Como, aliás, deve ser toda e qualquer coisa destrutiva contra alguém com um peso duas mil vezes menor do que o teu. Em todo caso, é só ter uma mão direita, uma mão esquerda e um tesourão que a coisa funciona. Parando pra pensar parece tri cruel matar um camundongo, e quem trabalha com isso geralmente usa pencas de argumentos pra tentar justificar esse tipo de coisa. Tipo que eles (os camundongos, não as pessoas) nasceram pra isso, que é rápido e indolor, que é importante pra cura do câncer, essas coisas todas. Mas no fim das contas é tudo meio enrolação. No fundo o que faz com que a gente lide bem com a situação é que é fácil pra burro. Sem ninguém olhando, tu pega a tesoura, enfia a cabeça do bicho no meio e fecha. Normalmente é tri rápido, e o bicho, afora bater as perninhas do corpo decapitado por uns segundos, parece de fato não sentir nada. Às vezes não é tão fácil, é verdade. A tesoura pode trancar, tu pode errar o corte, e aí o bicho sente dor por um tempo breve, e tu fica ansioso até conseguir matar. Uma vez um amigo meu decapitou um rato meio errado, e ao invés de tirar a cabeça tirou só o rosto. E aí o bicho ficou mexendo lá por uns segundos, sem rosto, até alguém dar conta da situação. Mas mesmo nessas horas tu não chega a se sentir culpado. Porque passado o momento de angústia, tu acaba acertando o pescoço, e aí o bicho silencia. E aí tudo silencia, e o mundo passa a ser igual a antes. E quando o mundo continua igual a antes, e a consciência que sentiu a dor já não existe mais, parece duvidoso até que alguma vez ela tenha existido, e tu simplesmente não consegue sentir mais culpa. Talvez por isso tanta porcaria ande arquivada nos porões dos dops da vida. Não existe maldade sem memória.
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