sexta-feira, maio 29, 2009

amigo que é amigo só lembra dos amigos quando eles saem no jornal

é impressionante o impacto que o caderno de cultura do jornal tem na opinião das pessoas. Só pra dar um exemplo, há uns anos atrás eu fui num festival de cinema em Buenos Aires tentar ajudar o Gilson Vargas a arrecadar uns fundos prum eterno projeto de longa-metragem (sem sucesso, diga-se de passagem). E aí antes de sair de casa eu devo ter dito algo como "tchau, mãe, estou indo apresentar um projeto num festival de cinema em Buenos Aires". E ninguém deu nem bola.

e aí uns dias depois saiu uma notinha a respeito na coluna do Roger Lerina na contracapa do segundo caderno da zero hora, com o meu nome ali em algum lugar do pé da página. E ainda de manhã o meu celular toca e era a minha mãe emocionadíssima porque eu estava num festival de cinema em Buenos Aires. E eu tentando explicar que eu tinha dito tudo isso pra ela antes, enquanto pagava o roaming internacional.

mas algumas coisas só se tornam verdade quando saem no caderno de cultura.

e pra não me deixar mentir, faz uns dois ou três ou quatro meses que os meus amigos dos Cartolas me dizem pra olhar o clipe novo deles no youtube. "Tá do caralho", eles diziam. E eu nem aí. Até que hoje de manhã eu abro a zero hora e tava a notícia do clipe na mesma coluna do Lerina. E maldito seja este que vos fala, mas confesso que só então eu me mexi pra apertar a meia dúzia de teclas necessária pra ver o troço. Suponho que isso sirva pra aprender a não falar mal da minha própria mãe.

pra tentar me redimir pela imperdoável omissão de lembrar dos amigos só quando eles saem no jornal, em todo caso, taí o clipe. Que aliás é bem legal, o suficiente pra merecer ter sido visto muito antes.


quarta-feira, maio 27, 2009

primeiros efeitos dos trinta






depois de um interlúdio em que volta e meia alguém me convidava pra coisas tipo “debates de jovens escritores” ou "matérias com jovens escritores" ou outras coisas assim, hoje abri o segundo caderno da zero hora e dei de cara com uma matéria cheia de fotos de amigos e conhecidos literários que até ontem tinham o que parecia ser a mesma idade que a minha. Mas do lado da matéria tinha um logotipozinho dizendo “geração 80”. E embaixo, vários trechos tipo

"Uma nova onda literária composta de escritores e poetas com menos de 30 anos forma o panorama da atual ficção contemporânea gaúcha."

ou ainda

"Boa parte dos atuais autores abaixo dos 30 anos reparte-se entre a criação de sua literatura e o estudo ou a pesquisa."

e então eu, orgulhosamente nascido em setenta e nove, me dei conta que tinha deixado de ser anônimo e promissor pra passar a ser, bem, simplesmente anônimo. O que não está mal. E enquanto ninguém presta atenção, posso me ocupar despreocupado em deitar na rede às três da tarde pra ler os meus próprios manuscritos. E depois atirá-los no chão gritando "roquenrol" e fazendo pose de jogador de futebol americano que celebra um touchdown.

quarta-feira, maio 20, 2009

meu presente de aniversário pra mim mesmo














não é o resultado de trinta anos vividos, e nem uma compensação por envelhecer. Mas é o que sobra do processo. A arte são os escombros da vida.

segunda-feira, maio 18, 2009

letrinhas ambulantes (ii)

eu também quero escrever em letrinhas que se mexem... alguém aí se habilita a animar?

domingo, maio 17, 2009

terça-feira, maio 12, 2009

melhor typo falho do ano até agora

trabalhando num já quase mítico conto de ficção científica erótica que ninguém leu (mas que eu acho massa), fui trocar "peitos" por "seios" na frase
"o troço escorregou praticamente sozinho até a cintura dela, revelando uns peitos até bem firmezinhos e gostosos."
e aí depois de apagar ali, escrever ali, etc. etc., de repente eu olhei pra tela do computador e constatei que tinha escrito
"o troço escorregou praticamente sozinho até a cintura dela, revelando uns seis peitos até bem firmezinhos e gostosos."
ô, cabeça suja. Nessas horas que eu penso que deveria melhorar a qualidade da pornografia que ando consumindo.

segunda-feira, maio 04, 2009

enquanto o H1N1 toca o horror
















o zaffari marca passo. Eu é que não compro um negócio desses.

sexta-feira, maio 01, 2009

impregnados até a medula

hilário trecho de uma reportagem da revista Época de janeiro sobre "vida simples" lida no consultório da minha otorrino ("Viver Bem com Pouco, Revista Época,nº 555, p. 44 - 05/01/05)

reparem no item 3 da tabela de "sintomas da vida consumista e suas curas":

sintoma: não acreditar que existe diversão boa e gratuita.
cura: comprar um guia da cidade e conhecer seu bairro a pé.
(itálicos meus)

como diria o tio patinhas, quack.

não sei se tomo isso como um ato falho involuntário ou como apoio (bem pouco) subliminar das Organizações Globo ao mundo capitalista. Mas na real até acredito mais na primeira hipótese. Em todo caso, suponho que a conclusão seja a mesma: todo sistema que só consegue se criticar a partir do lado de dentro sempre estará fodido e mal pago. Lógicas como o capitalismo impregnam, a ponto de nem as nossas críticas conseguirem escapar da lógica que criticam. No fundo, é tudo o mesmo discurso.