quinta-feira, abril 08, 2010
ressaca do apocalipse
velho chinês grita com a moça da lavanderia do outro lado da rua, em chinês. Garotos ensaiam jogadas de rugby na beira da praia em Copacabana. Na TV do boteco um amigo meu beija uma atriz gostosa na novela das oito. A vida parece voltar lentamente ao normal no Rio. Mas em cada canto alguma coisa insiste em indicar que não foi só um sonho ruim, do mar em ressaca furiosa à lama barrenta das calçadas ao trânsito que inexplicavelmente flui à pequena multidão aglomerada em frente ao IML da Leopoldina. E mais do que incitar pensamentos de fim do mundo, tudo isso meramente me faz pensar se algum dia houve ou haverá alguma coisa que possa ser chamada de vida normal por aqui. Pra mim ao menos, acho que não. E mesmo se a Lagoa seguir aumentando e acastanhando e completar sua lenta metamorfose em Rio Guaíba, mesmo se todos os morros desabarem até chegarem na altura do Ricaldone, ainda assim nunca será exatamente a minha casa. Por mera falta de repouso. Aqui é o acontecer permanente.
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