em dezembro implodem a famigerada “perna seca” do hospital do fundão. Aquela ruína com pinta de garagem intergaláctica que nunca chegou a ser ocupada. Minhas férias vão começar uma semana mais cedo às custas disso, mas de resto não parece nada de mais. Implosões são um procedimento simples e previsível, como explicou o pessoal engravatado que veio explicar pra gente esses dias, cheio de vídeos institucionais em que um prefeito sorridente detonava um prédio condenado. Pareceram convincentes.
mas o que importa na história não é a implosão (novamente, simples e previsível). O que fascina é a lenta, gradual e inexorável separação da parte funcionante do hospital da parte condenada. Que há semanas vem sendo executada a martelada, andar por andar, num ritmo agonizantemente lento por homenzinhos de laranja. E que pelas minhas contas ainda deve demorar uns dois meses de trabalho. Ou algo assim. Porque implodir um troço morto é a coisa mais fácil do mundo. Mas separar a parte morta da viva, pra que a parte viva não desabe junto com a outra, é uma sequência repetitiva e interminável de marteladas no concreto. Uma a uma. Do décimo quarto andar até o rés-do-chão.
não sei se sou eu que ando propenso a enxergar metáforas. Mas sei lá, ainda não me acostumei a chegar no trabalho e olhar praquele buraco. Ao contrário de todo o povo que passa, eu não ando imune aos abalos. Pain is in the eye of the beholder.
Um comentário:
Esse povo que passa, não balança e nem cai mal sabe que está de pé quando está, se é que isso um dia acontece.
Viva os olhos que enxergam metáforas!!!
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