domingo, maio 22, 2011

para a Espel














não existe silêncio quando se está sozinho. O ruído interno sem ninguém pra interromper é um arranha-céus em obras dentro da minha cabeça. E isso por si só, somado com a inquietação da falta de alguém, impede qualquer possibilidade de paz.
estar acompanhado, por outro lado, tampouco traz silêncio. Estar junto com alguém é uma experiência intensa e uma demanda constante. E precisar falar, responder, estar atento e corresponder ao que o outro procura é um diálogo interminável do qual não se descansa.
então talvez a única situação onde eu consiga ficar em paz seja com muita gente em volta. Minha mãe nunca entendeu porque eu tinha que levar quinze pessoas pra praia ao invés de cinco. Ou porque qualquer festa lá em casa com menos de cinquenta pessoas parecia um fracasso. E eu mesmo por um tempo acreditei que de fato fosse vaidade, alguma ânsia boba de popularidade a ser superada.
mas nesse fim de tarde pós-festa, em que o dia acaba lento do outro lado da enseada, eu considero a possibilidade de que a razão seja outra. De que ter gente o suficiente em volta talvez seja a única maneira de desligar o fluxo e não pensar em nada. Porque depois dos convites feitos, da cerveja no gelo, da porta aberta, eu posso suavemente ficar no meu canto e me tornar dispensável. Sem ter que prestar contas a ninguém. E sem ter que aturar a mim mesmo. Porque a companhia ao meu redor é grande e querida. E porque ela deixa de precisar de mim. E sobramos então eu e o mundo, terno e indiferente, sem nenhum pensamento ou compromisso se interpondo entre nós.
meu único silêncio é a multidão.

5 comentários:

Karine disse...

Desconfio que tu esteja certo.

Karine disse...

Mesmo não sendo uma questão de certo e errado.

Anônimo disse...

Ahã 15 amigos, isso é porque tua mãe vai ler teu blog!!!

verapz disse...

Sublime, Olavo.

Bípede Falante disse...

Às vezes, é muito bom não existir um eu na multidão.