domingo, janeiro 29, 2012

Captura de tela 2012-01-29 às 14.43.20

trovoou trusz, dava vento, fez-se correnteza.

segunda-feira, janeiro 23, 2012

enquanto os tártaros não vêm

você espera. Monta seus quebra-cabeças e ensaia suas peças imaginárias e veste suas bonecas e monta seus castelos indestrutíveis. Brinca de esconder e chuta bolas divididas como se a sua vida dependesse disso. Até o dia em que começa a parecer óbvio e evidente que ela não depende. Que aquilo que antes parecia tão importante é apenas a espera de uma outra coisa, um ritual de preparação pra algo que aguarda logo adiante. Uma conflagração que vai dominando aos poucos os seus pensamentos e os dos seus amigos e não tarda por acontecer, despedaçando a ordem inocente do que era antes.
e então você chega na idade adulta, e descobre toda uma gama de brinquedos novos, que envolvem pessoas ao invés de bonecas, poderes reais e não imaginários, capacidades reais de seduzir, recompensar, machucar. E brinca com eles por um bom tempo como se a sua vida dependesse disso. Até que em algum momento isso tudo também começa a parecer insuficiente como da primeira vez. Como se fosse apenas a espera de uma outra coisa, um ensaio interminável para algo que você não consegue precisar o que seja, mas que permeia o seu tempo morto, os seus sonhos, os seus primeiros instantes depois de acordar, antes que o mundo tenha tempo de disfarçar-se.
só que dessa vez ninguém mais à sua volta parece notar, e seus amigos continuam andando de balanço e jogando verdade e consequência feito pré-adolescentes, como se nada estivesse por acontecer. E encoberta pela conspiração da ordem vigente, a conflagração que você espera não chega, mesmo que você a intua cada vez mais nítida cada vez que acorda.
até o dia em que ela vem, e então já é tarde demais pra fazer qualquer coisa a respeito.

segunda-feira, janeiro 09, 2012

porto alegre, dois mil e doze

a cidade num domingo de verão é toda estase, asfalto quente. Prédios feios e concreto cinza, vivos só no verde desconexo que infiltra a laje como se fosse uma ruína antiga. E é: porto alegre é hoje todos os mundos que foram antes e que se recusam a sumir, que eu encontro aqui pelos cantos sem procurar. Quase como um reflexo de mim mesmo, com minhas lajes infiltradas e goteiras, fazendo água também. Como de hábito, sinto que mudei mais que o mundo ao redor, que minhas goteiras são mais vivas do que as das ruas nesse tempo de seca; rápido a laje começa a parecer estéril, tédio, modorra ensolarada. E só devagar, à medida que a efervescência do contato passa, é que eu me lembro do que eu costumava encontrar nesse lugar. Que nunca foi mesmo muito mais do que rés-do-chão, terra arrasada, tabula rasa. Um lugar seguro pra pisar e ser eu mesmo risco, meu próprio desenho em hidrocor. Um sólido necessário, pra que sobre ele eu seja líquido, correnteza, desejo, escombros.

terça-feira, janeiro 03, 2012

relatividade













há duas maneiras de relativizar as coisas.
a primeira é se dar conta de que tudo depende da maneira com que você enxerga o mundo. Que dependendo da forma com que se olha, a mesma garrafa pode não só estar meio cheia ou meio vazia, mas também pode conter uma mensagem secreta ou um gênio da lâmpada (contanto que olhada com desejo suficiente). Que um mesmo fato representa infinitas histórias possíveis, e que com um pouco de criatividade você terá pelo menos um leque razoável de versões na mão. E por mera estatística, nas próximas jogadas da vida, é provável que você tenha alguma carta pra baixar.
e a segunda é se dar conta de que nada depende da maneira com que você enxerga o mundo. Por que não importa o que aconteça, o que você faça, pense ou escolha, algumas coisas vão continuar acontecendo exatamente do mesmo modo. A tarde vai cair do mesmo jeito, escorregando devagar no escuro na hora prevista, enquanto os rumores aumentam ao redor de quem a olha de um canto quieto o suficiente (pois as cigarras não fazem idéia de como você enxerga o mundo). E no fim das contas as cartas que você tem na mão talvez nem importem tanto, porque algumas cartas sempre estarão no monte pra serem compradas. Como essa de ficar em silêncio e olhar o mundo.
que as versões da história continuem mudando, e que os fins de tarde continuem iguais. Feliz ano novo.