segunda-feira, janeiro 09, 2012

porto alegre, dois mil e doze

a cidade num domingo de verão é toda estase, asfalto quente. Prédios feios e concreto cinza, vivos só no verde desconexo que infiltra a laje como se fosse uma ruína antiga. E é: porto alegre é hoje todos os mundos que foram antes e que se recusam a sumir, que eu encontro aqui pelos cantos sem procurar. Quase como um reflexo de mim mesmo, com minhas lajes infiltradas e goteiras, fazendo água também. Como de hábito, sinto que mudei mais que o mundo ao redor, que minhas goteiras são mais vivas do que as das ruas nesse tempo de seca; rápido a laje começa a parecer estéril, tédio, modorra ensolarada. E só devagar, à medida que a efervescência do contato passa, é que eu me lembro do que eu costumava encontrar nesse lugar. Que nunca foi mesmo muito mais do que rés-do-chão, terra arrasada, tabula rasa. Um lugar seguro pra pisar e ser eu mesmo risco, meu próprio desenho em hidrocor. Um sólido necessário, pra que sobre ele eu seja líquido, correnteza, desejo, escombros.

Um comentário:

Bípede Falante disse...

Na ironia do nome e do rio sem vista e sem banho, a gente navega entre o marrom e o cinza e não encontra o fundo e nem o raso que essa cidade é pequena mesmo quando está grande.
Bom 2012.
Beijo
BF