como o outro, espero eu também o momento de nascer. Procurando no meio da selvageria desse falso inverno um fio-guia, quaisquer três migalhas de pão que por acaso formem uma linha. Não pra indicar o caminho de volta, mas simplesmente pra sugerir alguma trilha a seguir no meio dessas tantas abertas a facão, pela minha vontade ou contra ela, no desmatamento geral dos últimos anos. E consciente de que o desejo de seguir por todas elas é o único sincero, mesmo que impossível, já sou capaz de decidir que nada se decide. E exponho o corpo ao sacrifício com uma volúpia incomum, sem saber se isso é abrir picada numa floresta que há pouco parecia sem saída ou buscar alguém pra replantar a porra toda. Mas sabendo lá no fundo que a única opinião possível é encontrar quem seja mato e picada, e possa fazer com que a trilha dure.
e como em todos os tempos que realmente importaram na vida, o que paira suprema sobre todo o resto é a sensação de espera. A expectativa enorme, corporal, de que algo vital vá acontecer a qualquer momento, e que às custas de sua própria intensidade fará com que algo acabe de fato acontecendo. Mas enquanto esse algo não vem eu também espero na fila redonda, aguardando o desfecho inevitável: o momento em que se nasce, em que o canal do parto chega ao fim, em que se enxerga a luz branca da vida de verdade que começará do outro lado. Com a mesma expectativa adolescente de sempre. E com uma pontinha de desconfiança, essa nova, de que talvez o outro lado pouco importe, talvez nem exista, e de que não haja vida maior do que esse úmido e lindo túnel de espera.
Nenhum comentário:
Postar um comentário