sexta-feira, julho 31, 2009

de volta à sanidade, por ora


"... não é em absoluto a tarefa daqueles que estão com boa saúde ocupar-se dos doentes, curar os doentes, e isso leva a compreender também uma necessidade a mais - a necessidade de médicos e enfermeiros que eles próprios sejam doentes"

(tio Friedrich em ataque de misantropia, Zur Genealogie der Moral. Por ora, amém)

quarta-feira, julho 29, 2009

buchada de estrelas




















ler jornal na web ainda é um pouco canhestro, mas em todo caso tô aqui. Com direito a riscos alheios.

sábado, julho 25, 2009

e depois neguinho vem dizer que o mundo não gira em torno de mim










não fosse isso, como explicar que a temperatura pudesse acompanhar tão de perto a alma?

quarta-feira, julho 22, 2009

cafunés em tio julio, dessa vez em versão oficial






















de tanto babar o ovo da obra do cortázar extra-oficialmente (e às vezes involuntariamente, particularmente no que eu escrevo), resolveram me convidar pra fazer isso em público, em nome da secretaria municipal da cultura. Suponho que ele mereça. Quanto a eu fazer jus, vai saber.
o sarau é parte do Festival de Inverno de Porto Alegre, e rola no Centro Municipal de Cultura (Érico Veríssimo, 307), no dia 28 de julho (terça), "das 18h30 até acabar" (nas palavras da própria organização, inspirada pelo sucesso da maratona literária). Se tiver quentão de grátis como nas últimas maratonas, eu pelo menos vou ficando.

segunda-feira, julho 20, 2009

perguntas para o caderno de cultura do seu jornal favorito

(i) agora que ioga virou coisa de dondoca, vegetarianismo virou coisa de executivos bem intencionados e a Índia virou tema de novela das oito, no que o meio pseudointelectual bichogrilo vai passar a acreditar pra se sentir diferente? Adotará o Islã? Criará uma religião nova? Enxergará extraterrestres com frequências cada vez maiores?

(ii) quando a galera da classe C e D invadir o Twitter e o Facebook como fez com o Orkut, o que vai fazer a elite cibercultural do Brasil pra se sentir diferente? Criarão mais uma nova rede social completamente redundante? Ou voltarão sorrateiramente pra boa e velha tela azul, brincando de gato e rato com a ralé e trocando as cores e sites da moda circularmente a cada estação?

(iii) agora que a fotografia e o cinema digitais viraram uma obviedade e filme e película são tão úteis quanto máquinas de escrever, o que vão fazer os autodenominados fotógrafos e cineastas pra se sentirem diferentes? Fundarão uma seita de fanáticos que ingerem sais de prata em busca da imortalidade? Criarão o super 8 bluray? Ou simplesmente mentirão que alguém precisa de ainda mais pixels do que já existem, apenas pra tornar suas artes novamente inacessíveis para os amadores?

(iv) quando toda a música do mundo estiver disponível sem esforço, o que farão os órfãos da época em que se colecionava discos, que por um tempo ainda conseguiram entreter-se virando madrugadas no soulseek atrás de músicas que “ninguém mais tem” pra acumular em seus HDs? Seguirão atualizando seus perfis da last.fm? Desfilarão conhecimento enciclopédico em mesas de bar pra ouvintes cada vez menos interessados? Ou seguirão comprando vinil e jurando que é porque “o som é melhor” (e não porque o custo e a impossibilidade de cópia permitem que ele satisfaça ânsias de consumo que a música digital já não aplaca)?

(v) quando o papel e o mercado editorial morrerem, o que vai fazer a pseudointelectualidade literária pra se sentir diferente? Financiarão uma cara indústria de relíquias e sebos obscuros a exemplo do vinil? Trocarão suas bibliotecas por home theaters de última geração pra continuarem tendo com que impressionar as pessoas que vão aos seus apartamentos? Ou seguirão escrevendo uns pros outros num meio cada vez mais minguado e empoeirado entre sessões de chá de academias literárias?

enfim, não que eu esteja realmente interessado em tudo isso. Mas é só que volta e meia eu tenho a impressão legítima que a maior parte das pessoas na chamada “indústria cultural” e no dito “meio artístico” não entende em absoluto o que cultura ou arte deveriam querer dizer. E que os ditos "consumidores" da tal indústria parecem entender ainda menos. E que o que se entende por "cultura" foi se tornando ao longo da história apenas um subitem a mais do modus operandi capitalista, junto com a indústria automobilística e a decoração de interiores.

e num momento em que a indústria cultural balança na beira do abismo, é legal dar pitacos sobre pra onde a coisa vai. Minha esperança sempre foi que do mundo pós-Napster fosse emergir uma forma de se relacionar com a arte um pouco mais descolada das idéias de consumo e posse do que a atual. Mas às vezes acho que o mundo ainda é tão tacanha que mesmo depois que a indústria ruir o conceito de arte vai acabar absorvido por outra estrutura econômica qualquer, que vai seguir alimentando a vaidade das pessoas que se apinham de “cultura” pra terem algo que os outros não tem. E o que era pra ser uma forma de comunicação vai continuar sendo convertido em apenas mais uma forma de criar barreiras.

sábado, julho 11, 2009

grandes expectativas

desde pequeno eu sempre tive certeza de que ia ser alguém genial quando crescesse. E mesmo agora, trinta anos depois, essa certeza não mudou em nada. A única coisa que mudou foi que eu tenho cada vez menos convicção de que vá crescer algum dia.

sexta-feira, julho 03, 2009

opções para orelha (ii)






















da série "minha literatura me reflete, particularmente com o laptop virado pro sol às três e meia da tarde".

quinta-feira, junho 25, 2009

quando dar nome aos problemas só piora as coisas (xviii)

falando sério, alguém consegue pensar em um nome mais inadequado pra um problema relativamente simples do que "disfunção orgásmica"? Tipo, uma mulher procura o médico porque não consegue gozar com o namorado, e sai do consultório com um diagnóstico cujo nome seria mais adequado pra alguma máquina de destruição alienígena (como em "Klaxondroid, vamos acabar com esses malditos terráqueos! Ligue o raio de disfunção orgásmica!"). Eu ao menos acho que broxaria pro resto da vida depois disso.

evidências contundentes em favor do ateísmo (mdclviii)

se (a) deus existe, (b) o sarney é filho de deus, e (c) eu também sou, como pode ser que eu ainda não tenha um emprego no senado?

domingo, junho 14, 2009

por outro lado...






















quanto mais imbecil o moralismo, maior o divertimento em potencial. Pimenta nos olhos de quem acredita no corretor do Word é colírio.

ei, bill gates, vai tomar no cu

































ok, se o corretor do Word simplesmente não entendesse pornografia ainda vá lá. Mas o fato dele entender e tentar corrigi-la é certamente um sinal do fim dos tempos. Tipo, alguma pessoa no mundo consegue conceber uma situação em que alguém estivesse escrevendo "trepar" (como em "grrr, tô morrendo de vontade de trepar contigo, minha putinha gostosa") e, sob sugestão do corretor ortográfico, pensasse "hm, de fato realmente é melhor escrever "ter relações sexuais" (como em "grrr, tô morrendo de vontade de ter relações sexuais contigo, minha putinha gostosa")?
enfim, tenha suas relações sexuais anódinas como quiser, seu monstrengo nerds de óculos. Mas deixe os meus personagens treparem em paz. Viva o plebeísmo.

quarta-feira, junho 10, 2009

breve epitáfio de um aspirante a filósofo

sempre teve curiosidade de saber se o ser e o nada acabavam juntos no final. Mas oitocentas páginas pareciam demais.

domingo, junho 07, 2009

a clarividência é a alma de todo grande plágio

meu melhor amigo nesse inverno até agora mostra que também sabia copiar o belle and sebastian. Uns vinte e cinco anos antes deles existirem, mais ou menos.

sexta-feira, maio 29, 2009

amigo que é amigo só lembra dos amigos quando eles saem no jornal

é impressionante o impacto que o caderno de cultura do jornal tem na opinião das pessoas. Só pra dar um exemplo, há uns anos atrás eu fui num festival de cinema em Buenos Aires tentar ajudar o Gilson Vargas a arrecadar uns fundos prum eterno projeto de longa-metragem (sem sucesso, diga-se de passagem). E aí antes de sair de casa eu devo ter dito algo como "tchau, mãe, estou indo apresentar um projeto num festival de cinema em Buenos Aires". E ninguém deu nem bola.

e aí uns dias depois saiu uma notinha a respeito na coluna do Roger Lerina na contracapa do segundo caderno da zero hora, com o meu nome ali em algum lugar do pé da página. E ainda de manhã o meu celular toca e era a minha mãe emocionadíssima porque eu estava num festival de cinema em Buenos Aires. E eu tentando explicar que eu tinha dito tudo isso pra ela antes, enquanto pagava o roaming internacional.

mas algumas coisas só se tornam verdade quando saem no caderno de cultura.

e pra não me deixar mentir, faz uns dois ou três ou quatro meses que os meus amigos dos Cartolas me dizem pra olhar o clipe novo deles no youtube. "Tá do caralho", eles diziam. E eu nem aí. Até que hoje de manhã eu abro a zero hora e tava a notícia do clipe na mesma coluna do Lerina. E maldito seja este que vos fala, mas confesso que só então eu me mexi pra apertar a meia dúzia de teclas necessária pra ver o troço. Suponho que isso sirva pra aprender a não falar mal da minha própria mãe.

pra tentar me redimir pela imperdoável omissão de lembrar dos amigos só quando eles saem no jornal, em todo caso, taí o clipe. Que aliás é bem legal, o suficiente pra merecer ter sido visto muito antes.


quarta-feira, maio 27, 2009

primeiros efeitos dos trinta






depois de um interlúdio em que volta e meia alguém me convidava pra coisas tipo “debates de jovens escritores” ou "matérias com jovens escritores" ou outras coisas assim, hoje abri o segundo caderno da zero hora e dei de cara com uma matéria cheia de fotos de amigos e conhecidos literários que até ontem tinham o que parecia ser a mesma idade que a minha. Mas do lado da matéria tinha um logotipozinho dizendo “geração 80”. E embaixo, vários trechos tipo

"Uma nova onda literária composta de escritores e poetas com menos de 30 anos forma o panorama da atual ficção contemporânea gaúcha."

ou ainda

"Boa parte dos atuais autores abaixo dos 30 anos reparte-se entre a criação de sua literatura e o estudo ou a pesquisa."

e então eu, orgulhosamente nascido em setenta e nove, me dei conta que tinha deixado de ser anônimo e promissor pra passar a ser, bem, simplesmente anônimo. O que não está mal. E enquanto ninguém presta atenção, posso me ocupar despreocupado em deitar na rede às três da tarde pra ler os meus próprios manuscritos. E depois atirá-los no chão gritando "roquenrol" e fazendo pose de jogador de futebol americano que celebra um touchdown.

quarta-feira, maio 20, 2009

meu presente de aniversário pra mim mesmo














não é o resultado de trinta anos vividos, e nem uma compensação por envelhecer. Mas é o que sobra do processo. A arte são os escombros da vida.

segunda-feira, maio 18, 2009

letrinhas ambulantes (ii)

eu também quero escrever em letrinhas que se mexem... alguém aí se habilita a animar?

domingo, maio 17, 2009

terça-feira, maio 12, 2009

melhor typo falho do ano até agora

trabalhando num já quase mítico conto de ficção científica erótica que ninguém leu (mas que eu acho massa), fui trocar "peitos" por "seios" na frase
"o troço escorregou praticamente sozinho até a cintura dela, revelando uns peitos até bem firmezinhos e gostosos."
e aí depois de apagar ali, escrever ali, etc. etc., de repente eu olhei pra tela do computador e constatei que tinha escrito
"o troço escorregou praticamente sozinho até a cintura dela, revelando uns seis peitos até bem firmezinhos e gostosos."
ô, cabeça suja. Nessas horas que eu penso que deveria melhorar a qualidade da pornografia que ando consumindo.