segunda-feira, maio 22, 2006

exército de um homem só

da coluna do Gabeira na Folha de SP (disponível na íntegra no site do cara):

"[...] Segunda-feira, auge da crise de violência em São Paulo, parti para Brasília para fazer um discurso de solidariedade e propostas, pensado durante o fim de semana sangrento. Não pude realizá-lo até o fim, embora o plenário estivesse vazio. Minha palavra foi cortada por um presidente ocasional. Ele vem do Norte toda segunda-feira e assume a presidência porque não há ninguém para abrir as sessões. Dá a impressão aos seus eleitores de que é importante, embora já tenha sua prisão preventiva decretada e inúmeras processos. Limitei-me a dizer: "Vossa Excelência é um bandidaço", embora soubesse que até os insultos seriam usados por ele junto aos eleitores como sinal de importância. A um jornal de Brasília, declarou que aqueles que assistem à TV no seu Estado pensam que é o presidente da Câmara.
Ele é desse numeroso e sórdido grupo com que, depois de tantos anos de lutas e sonhos, tenho de conviver no café da Câmara: contas fantasmas, entidades fantasmas, ambulâncias superfaturadas, desvios de verbas no hospital do câncer. A própria luz do Planalto atravessando as vidraças e banhando os flocos de poeira que flutuam nos torna também fantasmas, e você olha a mancha de iogurte na mesa do café, duvida se aquilo não é um ectoplasma desses putos que pintam o cabelo e beliscam a bunda das secretárias. [...]"

E, bom... Alguém pode até argumentar que não é lá muito político chamar os membros da Câmara de "putos que pintam o cabelo e beliscam a bunda das secretárias. E que talvez isso seja simplesmente jornalismo, literatura, barulho, que não é isso que vai mudar alguma coisa e, enfim, é capaz até de estar certo. Mas no meio do lamaçal o Gabeira transparece pra mim como o único cara que parece reagir duma forma humana em relação à tal crise política. Tipo, o cara aparenta ficar simples e sinceramente puto, como qualquer um de nós, a ponto de chamar deputados de ectoplasma. E enquanto uns se defendem por necessidade e os outros atacam por interesse num lugar onde todo mundo já perdeu a moral, ele parece ter sobrado como a única figura que parece ser humana antes de ser Vossa Excelência. Algo como o que o próprio Lula conseguia passar antes de engolir o gravador que alterna variantes de quatro ou cinco frases ("eu fui traído", "isso é conspiração de quem quer me derrubar", "esse é o melhor governo que esse país já teve", "eu sou um homem do povo", e não muito mais). Só que parecendo bem mais inteligente. Ou pelo menos escrevendo melhor.
Enfim, claro que talvez eu esteja errado. Talvez ele simplesmente escreva bem. E talvez falar dos colegas como "putos que pintam o cabelo e beliscam a bunda das secretárias" seja simples marketing eleitoral, assim como fazer discurso pomposo ou se fingir de presidente da Câmara. Que se foda. Se é pra ganhar voto, já ganhou o meu.

Um comentário:

Anônimo disse...

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