terça-feira, agosto 29, 2006

roam seus ridículos negativos de 35 mm


Da Folha, sobre o festival de curtas de São Paulo
"... o curta, justamente por sua duração, se adapta bem para exibição em espaços que há alguns anos eram estranhos ao cinema: a internet e os telefones celulares. E a mostra dialoga com tais mídias: serão exibidos 18 trabalhos do Fluxus, festival de cinema na internet, e também o filme brasileiro "Tapa na Pantera", visto mais de 1 milhão de vezes no http://www.youtube.com/..."

Com licença? 1 milhão de pessoas? Desculpem, mas isso não é tipo, a segunda ou terceira bilheteria do cinema nacional esse ano?
(bom, checando no youtube o número ali presente é 590.087. E crescendo. Ainda assim, puta que o pariu)

Algumas considerações:
a) o pior é que, pelo menos pra quem tá de cara, o filme nem tem muita graça.
b) mas a questão não é essa.
c) A pergunta que não quer calar é "o que raios a gente ainda tá fazendo em festival de cinema?"
d) Tipo, o curta-metragem mais bem sucedido na história do cinema brasileiro não deve ter tido essa audiência toda em anos. Quanto mais em semanas.
e) Em todo caso, é mais ou menos o mesmo fenômeno que faz com que editar um livro fuleiro com uma tiragem de uns mil exemplares (dos quais quinhentos vão pro teus amigos e quinhentos vão encalhar) seja pra quem escreve o passo posterior a botar um blog no ar que vai estar disponível instantaneamente pra uns dois bilhões de pessoas (cerca de dois milhões de vezes mais)
f) o que no fim das contas deve ser só reserva de mercado. No momento em que qualquer adolescente espinhento pode montar um blog ou filmar alguma merda numa câmera digital e montar em casa, quem se diz "escritor", "cineasta", essas coisas pomposas, tem que se defender de algum jeito. E aí, como bons capitalistas, se apela como sempre pro grande fator de exclusão e estratificação universal
g) o dinheiro, óbvio.
h) e subitamente se declara que cineasta é quem filma em 35 mm, escritor é quem tem editora, fotógrafo é quem tem sabe-se lá que câmera, e assim por diante.
i) e assim se mantém os adolescentes longe do campinho.
j) vá lá, um pouco disso também é porque a gente ainda não aprendeu a se fazer ouvido nesse mar lamacento de informação. Ou não parou pra estudar uma estratégia.
k) mas puta que o pariu, que a gente tem que reformular urgentemente algumas idéias, ah tem.
l) porque a mentira que arte é uma coisa cara de fazer simplesmente não tem como perdurar por tanto tempo assim. Graças a deus, aliás.

Um comentário:

Mari.MtB disse...

Grande Olavo! Mais uma vez a "aurática" de Walter Benjamin aparece! Antes o cinema acabava com a obra de arte, era a época da "reprodutibilidade técnica" e a chegada da cultura às massas. E agora a internet. Paradigmas se rompem. Novos e(e sub)mergem. Rápido como um clic. Abraço!