por algum motivo acho que essa versão moderna da lista de schindler não vai ganhar aqueles óscares todos. Mas me fez botar o link da anistia internacional aí no canto da página. De vez em quando um soquinho no estômago faz bem. Pena que tenha estreado com ridículas 15 cópias lá na terra dos klingons e tenha desaparecido da programação do cinema por aqui tão rápido quanto entrou. Suponho que a assessoria de imprensa dos judeus deva ser melhor do que a dos paquistaneses. De qualquer maneira, não custa clicar no link da anistia. Funcionando ou não, é sempre divertido mandar e-mails pra endereços tipo f_castro@cuba.gov.
sábado, dezembro 23, 2006
terça-feira, dezembro 19, 2006
breviário de uma ponte aérea comprida
todos os posts que eu teria colocado anteontem se já tivesse internet na estratosfera
(a) agradecimentos à Organização Mundial do Comércio e às Leis de Propriedade Intelectual
pela oportunidade única de ver as economias de pessoas doentes serem revertidas para entreter o meu vôo de San Francisco pra Miami com anúncios televisivos de homens de meia idade felizes recomendando remédios pro colesterol, antialérgicos e descongestionantes nasais. Era exatamente o que eu queria ter de volta por toda a grana que já gastei em Claritin D na vida. Sério, como diabos o mundo pode ter sido convencida de que a grana que se gasta em remédio serve pra fazer ciência?
(b) frases que eu gostaria de ter dito mas deixei a oportunidade pra alguém mais (i)
“If you’re a creative doctor, someone dies and you get sued”
(um certo Miles Beckett, ex-residente de cirurgia plástica e atual co-criador do bizarro fenômeno pop chamado Lonelygirl15).
(c) gestos brilhantes de autopromoção gratuita (i)
se algum dia eu for grande o suficiente em qualquer coisa pra despertar a ira dos críticos, eu juro que quero fazer igualzinho a esse cara. A história tá na “wired” desse mês.
(d) aliás
você sabe que o mundo anda estranho quando as tuas fontes sobre cultura pop passam a ser as revistas de informática.
(e) e por fim, um último comentário sobre idiotas correndo atrás duma bola do outro lado do mundo
tal como eu disse na alfândega, tão logo terminei de assistir o jogo no desembarque internacional, nada a declarar.
(a) agradecimentos à Organização Mundial do Comércio e às Leis de Propriedade Intelectual
pela oportunidade única de ver as economias de pessoas doentes serem revertidas para entreter o meu vôo de San Francisco pra Miami com anúncios televisivos de homens de meia idade felizes recomendando remédios pro colesterol, antialérgicos e descongestionantes nasais. Era exatamente o que eu queria ter de volta por toda a grana que já gastei em Claritin D na vida. Sério, como diabos o mundo pode ter sido convencida de que a grana que se gasta em remédio serve pra fazer ciência?
(b) frases que eu gostaria de ter dito mas deixei a oportunidade pra alguém mais (i)
“If you’re a creative doctor, someone dies and you get sued”
(um certo Miles Beckett, ex-residente de cirurgia plástica e atual co-criador do bizarro fenômeno pop chamado Lonelygirl15).
(c) gestos brilhantes de autopromoção gratuita (i)
se algum dia eu for grande o suficiente em qualquer coisa pra despertar a ira dos críticos, eu juro que quero fazer igualzinho a esse cara. A história tá na “wired” desse mês.
(d) aliás
você sabe que o mundo anda estranho quando as tuas fontes sobre cultura pop passam a ser as revistas de informática.
(e) e por fim, um último comentário sobre idiotas correndo atrás duma bola do outro lado do mundo
tal como eu disse na alfândega, tão logo terminei de assistir o jogo no desembarque internacional, nada a declarar.
sexta-feira, dezembro 15, 2006
américa, essa puta
digam o que queiram, o fato é que os Estados Unidos são uma puta. Uma puta fazida, é bem verdade. Fazem um charminho aqui e ali e vivem se fingindo de difíceis, feito na hora de te deixar tomando chuva na calçada enquanto espera pra pegar visto (pra alegria dos camelôs vendendo guarda-chuva a vinte reais), ou na cara cada vez mais mal-humorada dos funcionários da imigração. Mas no fim das contas, em menor ou menor grau, a América acaba dando pra todo mundo. Verdade que a qualidade do sexo varia conforme a grana do cliente. Pra alguns ela se entrega de fato, bundinha e tudo; pra maioria, por outro lado, sobra só um carinho de vez em quando, um cafuné aqui e ali, uma rapidinha num banheiro público. Mas qualidade do sexo à parte, todo mundo nesse país vai te contar que alguma vez teve uma de suas maiores fantasias realizada pela América.
Como uma meretriz da melhor qualidade, os Estados Unidos conseguem atender a todos os tipos de demandas, desejos e fetiches. Porque independentemente das possibilidades e expectativas do cliente, sempre haverá algo a ser conquistado aqui. Uma casa de subúrbio pra molhar o jardim depois de quarenta anos de dedicação à empresa? Got it. Internet sem fio com um emprego part time numa república de estudantes? Também tem. Educação razoável pros filhos que ficam em casa enquanto você carrega sofás? You bet. Maconha importada do Afeganistão via tele-entrega? Quando quiser, é só ligar.
É foda ter de admitir, mas essa ainda é a terra das oportunidades pra muita gente. E numa idade em que a minha geração está no momento de se agarrar nelas com unhas e dentes isso só se faz mais claro. E em cada cidade por que passo eu encontro alguém que de alguma maneira foi seduzido pelo fascínio da Grande Puta e conta que anda comendo ela de um jeito ou de outro. Uns são imigrantes clandestinos, outros são importados com méritos, outros estiveram aqui desde que se conhecem por gente. Mas todos parecem ir atrás de alguma coisa, e parecem encontrá-la. Sejam eles mexicanos de inglês porco trabalhando no McDonald’s, jovens empresários promissores em empregos de quatorze horas por dia, pseudointelectuais que acabaram a universidade e relaxam trabalhando como baby sitters ou surfistas brasileiros subempregados na Califórnia. Todos se aproveitando dos Estados Unidos, cada um pros seus próprios fins.
E ainda assim, mesmo com a genitália assada de tanta gente pra satisfazer, a América segue se comportando como uma profissional do sexo por excelência. E como as melhores prostitutas, ela jamais se deixa apaixonar por nenhum dos seus clientes. Por mais que trepe com montes de gentes nos mais diferentes níveis e posições, ela nunca se entrega de fato, e o seu cerne permanece intocado e inalterado. Porque independentemente do uso que se faça do sistema, o pressuposto básico da vida aqui é que o sistema em si permaneça imutável, e que sua lógica fundamental não seja questionada. Paga-se uma quantia e se recebe por um serviço, de maneira geralmente mais regular e previsível do que em qualquer outro lugar. Os Big Macs são sempre iguais, como são os Whoppers, como são as highways, como são os shoppings de beira de estrada, como são as lojas de souvenirs. As ruas são sinalizadas, os correios funcionam, os garçons são gentis, e os Republicanos e Democratas se alternarão eternamente no poder pelo resto dos dias. Mudar o mundo e fazer revolução já saíram de moda há uns 40 anos, e mesmo mudar o país não parece um discurso particularmente efetivo. Até porque quem ia alimentar os mendigos se o Mc Donald’s fosse embora?
E o que me deixa meio perplexo, de vez em quando, é tentar entender como diabos a máquina continua rodando tão vigorosamente e sem acidentes quando a vida é fácil mesmo pra quem se mantém à parte dela. É fácil entender que a galera estrebuche trabalhando no Brasil, em que mesmo com uma jornada de doze horas muita gente mal consegue pagar as contas. Mas quando qualquer um se sustenta mais ou menos tranqüilo trabalhando de entregador de pizza, às vezes parece paradoxal que o sistema não entre em colapso. Mas suponho que o grande mérito da América seja exatamente o de saber seduzir as pessoas pra continuarem correndo. As cenouras na frente dos cães são inúmeras, elas brilham nas vitrines da Quinta Avenida enquanto o pessoal faz as compras de natal, elas se escondem atrás da parede de clubes lotados em que seguranças expulsam arbitrariamente as pessoas da fila, elas escorregam entre as celebridades nas revistas de fofocas. E mais do que qualquer outra coisa, talvez a maior das cenouras que mantêm a máquina girando seja a própria indiferença da Grande Puta. Porque como qualquer mulher esperta, ao nunca se entregar por inteiro, ela sempre deixa entrever alguma coisa a mais. E enquanto houver alguém que parecer estar comendo ela dum jeito diferente, é quase certo que todo mundo vai continuar tentando melhorar.
E assim, independentemente da gente, das eleições, do Iraque, do aquecimento global ou de quem quer que seja, a América segue andando em frente como um monolito imutável, proporcionando a satisfação garantida, imediata e previsível do consumo, contanto que se tenha grana. E ao mesmo tempo em que nunca pareceu tão fácil mudar o mundo (pelo menos se você for o dono do Google), nunca pareceu tão improvável que alguém consiga mudar os Estados Unidos, que vão continuar botando gasolina nos carros, comendo fast food, comprando nachos em jogos de baseball e enrolando copos de plástico em sacos plásticos pra servir drinks de plástico. O sistema é simples e direto demais pra aceitar sutilezas, e é exatamente isso que torna ele acessível pra tanta gente. E os detratores não se dão conta que o que faz o fascínio da América é justamente a sua previsibilidade.
Vá lá, pra quem quer virar o mundo de cabeça pra baixo, pode parecer péssimo. Mas a maior parte das pessoas está mais preocupada com a certeza do sustento em troca duma quantidade pré-estabelecida de suor e de grana. E pra isso, feliz ou infelizmente, continua não havendo lugar melhor no mundo. Pouco poético? Sim, e certamente em alguma outra terra os poetas hão de continuar sonhando com pássaros revoando e fontes murmurantes de água fresca. Mas em resposta a eles, os americanos hão de perguntar, perplexos, por que diabos se precisa de água fresca quando o Gatorade é mais barato. E não deixarão de ter alguma razão.
Como uma meretriz da melhor qualidade, os Estados Unidos conseguem atender a todos os tipos de demandas, desejos e fetiches. Porque independentemente das possibilidades e expectativas do cliente, sempre haverá algo a ser conquistado aqui. Uma casa de subúrbio pra molhar o jardim depois de quarenta anos de dedicação à empresa? Got it. Internet sem fio com um emprego part time numa república de estudantes? Também tem. Educação razoável pros filhos que ficam em casa enquanto você carrega sofás? You bet. Maconha importada do Afeganistão via tele-entrega? Quando quiser, é só ligar.
É foda ter de admitir, mas essa ainda é a terra das oportunidades pra muita gente. E numa idade em que a minha geração está no momento de se agarrar nelas com unhas e dentes isso só se faz mais claro. E em cada cidade por que passo eu encontro alguém que de alguma maneira foi seduzido pelo fascínio da Grande Puta e conta que anda comendo ela de um jeito ou de outro. Uns são imigrantes clandestinos, outros são importados com méritos, outros estiveram aqui desde que se conhecem por gente. Mas todos parecem ir atrás de alguma coisa, e parecem encontrá-la. Sejam eles mexicanos de inglês porco trabalhando no McDonald’s, jovens empresários promissores em empregos de quatorze horas por dia, pseudointelectuais que acabaram a universidade e relaxam trabalhando como baby sitters ou surfistas brasileiros subempregados na Califórnia. Todos se aproveitando dos Estados Unidos, cada um pros seus próprios fins.
E ainda assim, mesmo com a genitália assada de tanta gente pra satisfazer, a América segue se comportando como uma profissional do sexo por excelência. E como as melhores prostitutas, ela jamais se deixa apaixonar por nenhum dos seus clientes. Por mais que trepe com montes de gentes nos mais diferentes níveis e posições, ela nunca se entrega de fato, e o seu cerne permanece intocado e inalterado. Porque independentemente do uso que se faça do sistema, o pressuposto básico da vida aqui é que o sistema em si permaneça imutável, e que sua lógica fundamental não seja questionada. Paga-se uma quantia e se recebe por um serviço, de maneira geralmente mais regular e previsível do que em qualquer outro lugar. Os Big Macs são sempre iguais, como são os Whoppers, como são as highways, como são os shoppings de beira de estrada, como são as lojas de souvenirs. As ruas são sinalizadas, os correios funcionam, os garçons são gentis, e os Republicanos e Democratas se alternarão eternamente no poder pelo resto dos dias. Mudar o mundo e fazer revolução já saíram de moda há uns 40 anos, e mesmo mudar o país não parece um discurso particularmente efetivo. Até porque quem ia alimentar os mendigos se o Mc Donald’s fosse embora?
E o que me deixa meio perplexo, de vez em quando, é tentar entender como diabos a máquina continua rodando tão vigorosamente e sem acidentes quando a vida é fácil mesmo pra quem se mantém à parte dela. É fácil entender que a galera estrebuche trabalhando no Brasil, em que mesmo com uma jornada de doze horas muita gente mal consegue pagar as contas. Mas quando qualquer um se sustenta mais ou menos tranqüilo trabalhando de entregador de pizza, às vezes parece paradoxal que o sistema não entre em colapso. Mas suponho que o grande mérito da América seja exatamente o de saber seduzir as pessoas pra continuarem correndo. As cenouras na frente dos cães são inúmeras, elas brilham nas vitrines da Quinta Avenida enquanto o pessoal faz as compras de natal, elas se escondem atrás da parede de clubes lotados em que seguranças expulsam arbitrariamente as pessoas da fila, elas escorregam entre as celebridades nas revistas de fofocas. E mais do que qualquer outra coisa, talvez a maior das cenouras que mantêm a máquina girando seja a própria indiferença da Grande Puta. Porque como qualquer mulher esperta, ao nunca se entregar por inteiro, ela sempre deixa entrever alguma coisa a mais. E enquanto houver alguém que parecer estar comendo ela dum jeito diferente, é quase certo que todo mundo vai continuar tentando melhorar.
E assim, independentemente da gente, das eleições, do Iraque, do aquecimento global ou de quem quer que seja, a América segue andando em frente como um monolito imutável, proporcionando a satisfação garantida, imediata e previsível do consumo, contanto que se tenha grana. E ao mesmo tempo em que nunca pareceu tão fácil mudar o mundo (pelo menos se você for o dono do Google), nunca pareceu tão improvável que alguém consiga mudar os Estados Unidos, que vão continuar botando gasolina nos carros, comendo fast food, comprando nachos em jogos de baseball e enrolando copos de plástico em sacos plásticos pra servir drinks de plástico. O sistema é simples e direto demais pra aceitar sutilezas, e é exatamente isso que torna ele acessível pra tanta gente. E os detratores não se dão conta que o que faz o fascínio da América é justamente a sua previsibilidade.
Vá lá, pra quem quer virar o mundo de cabeça pra baixo, pode parecer péssimo. Mas a maior parte das pessoas está mais preocupada com a certeza do sustento em troca duma quantidade pré-estabelecida de suor e de grana. E pra isso, feliz ou infelizmente, continua não havendo lugar melhor no mundo. Pouco poético? Sim, e certamente em alguma outra terra os poetas hão de continuar sonhando com pássaros revoando e fontes murmurantes de água fresca. Mas em resposta a eles, os americanos hão de perguntar, perplexos, por que diabos se precisa de água fresca quando o Gatorade é mais barato. E não deixarão de ter alguma razão.
segunda-feira, dezembro 11, 2006
este blog orgulhosamente anuncia
que já é o sexto hit do google para os termos de procura "bebendo+própria+porra". Agradecimentos ao extreme tracker pela estupefaciente notícia. Aparentemente o meu hábito de usar a palavra "porra" pra qualquer porra finalmente anda rendendo frutos.
sábado, dezembro 09, 2006
uma razão pra perder a esperança no mundo
Discotecas que tocam hip hop nos EUA. Algo assim tipo um baile funk em que ninguém come ninguém.
uma razão pra ter esperança no mundo
depois de cruzar com incontáveis cinemas que viraram igrejas pelo mundo, eu finalmente encontrei uma igreja que virou uma discoteca. OK, pode ser só uma gota no oceano, ou só um gol de honra numa goleada contra. Mas mesmo que seja, ainda assim é uma bicicleta de fora da área.
(Denver, 8/10/06)
terça-feira, dezembro 05, 2006
brinque você também de robin hood
nunca fui muito com a cara desses filhos da puta da indústria farmacêutica. Mas já que eles querem expiar a sua parcela de culpa pelo sofrimento do mundo e melhorar a sua imagem, não custa entrar no site da Bristol-Myers Squibb e doar um dólar deles pro National Aids Fund. Dinheiro fora do bolso dos outros é colírio.
todos os caminhos levam a Roma
a) New York é o centro do mundo
b) O Times Square é o centro de New York
c) No centro do Times Square tem um centro de recrutamento das forças armadas norte-americanas
não sei o que isso quer dizer, mas na dúvida não parece muito bom. Ainda mais quando botaram o posto das forças armadas exatamente no lugar aonde costumava ter uma barraquinha que vendia ingresso com desconto pro teatro.
breve agradecimento a deus pela existência de Kurt Cobain
na real nunca gostei muito do Nirvana. Mas depois de ver o Sebastian Bach com quarenta e poucos anos abrindo um show do Guns n’ Roses e gritando uns troços tipo “are you ready to fuckin’ rock n’roll with guns n’ fuckin’ roses” pruns gordos cabeludos de quarenta anos, deu pra ter um feeling tipo aquele de “o que teria sido do mundo se os nazistas tivessem ganhado a segunda guerra”. E enfim, um pouquinho de gratidão eterna não faz mal pra ninguém.
Assinar:
Postagens (Atom)