segunda-feira, dezembro 17, 2007

ciência é dispensável, couro é fundamental


antes tarde do que nunca, gostaria de manifestar minhas saudações à câmara de vereadores de Florianópolis pelos imensos esforços para manter viva a milenar tradição gaúcha de fazer chacota com o QI médio dos habitantes da Ilha de Santa Catarina. Proibir a experimentação animal com uma lei municipal já é um ato risível por si só, por uma penca de razões expostas uns dois ou três posts abaixo deste. Fazê-lo com base num projeto de lei proposto por um empresário do ramo do couro (proprietário da nobre Indústria e Comércio Artefatos de Couro Deglaber Goulart, Ltda.) é ainda mais risível: suponho que a mensagem aí seja a de que "ciência é dispensável, mas coleira de cachorro feita de couro é fundamental pra civilização." Mas ouvir esse pessoal falando mentiras escabrosas e obviamente absurdas no ar praticamente não tem preço. Agora tiraram o arquivo de áudio com a entrevista do cara do site do clicrbs, mas eu cheguei a ouvir e era um troço tipo "Como não existe alternativa para o uso de animais? Nós temos dois computadores na universidade! (...) Noutros países, como os Estados Unidos, e até em alguns da Europa, isso já foi abolido há anos. Teremos que submeter os animais ao sofrimento, utilizando um modelo ultrapassado, da Idade Média?". Não sei se isso representa uma mentira deliberada ou um grau assustador de desinformação. Mas consegue ser engraçado das duas formas.
em todo caso, mesmo chegando tarde à discussão, gostaria de agradecer sinceramente aos vereadores de Floripa por essa singular maneira de divertir um cientista no exílio. Afinal, tais demonstrações raras de apreço pelos preconceitos da população dos estados vizinhos hão de permitir que o pessoal no Rio Grande do Sul continue tendo motivo pra rir à beça do vosso estado pro resto da vida. Espero que vocês continuem sempre assim, colocando o humor dos gaúchos em primeiro lugar em suas decisões. E espero também que a mania não pegue, e que alguém com um mínimo de bom senso lá em Brasília resolva cortar esse tipo de iniciativa estúpida rapidinho.

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