quinta-feira, abril 16, 2009
princípio de alguma coisa
de cabeça, em linha reta, traço minha rota de colisão com os paredões de pedra. E imagino meus próprios escombros dentro de ônibus que ziguezagueiam insanos entre túneis e fumaça, corredores improvisados e ratos soltos. O silêncio explode em pedaços espalhados pela cidade, que o trânsito não permitirá que se juntem tão cedo. Urubus e albatrozes pairam sobre a minha cabeça e aposto minhas fichas em que eu seja capaz de pairar também. Pairar sobre o lixo, sobre o asfalto, sobre as infinitas paredes de tijolos, como a linha vermelha imperando magnânima sobre a favela. E retribuir as pedradas e balas perdidas e o redemoinho do mundo ao redor com uma esquisita leveza. A mesma leveza dos rostos desconhecidos, da conversa superficial das pessoas, do vazio que serve de denominador comum à cidade, que assiste ao futebol nos botecos de suco das esquinas. Pra não deixar que o barulho me afaste de mim, prometo-me em voz baixa que flutuarei por cima de tudo, me deixando afundar apenas pra regressar à superfície no maelstrom permanente do asfalto em ebulição. Prometo que com pés e mãos sobre as garrafas plásticas resistirei a afundar, como as garças que pisoteiam as águas infectas da guanabara. E de alguma forma usarei o nome e os poderes dessa insólita nova casa como um atalho esdrúxulo pra algum outro fundo, por debaixo das planilhas de notas, das ruas cheias de fumaça, das geringonças imensas guardadas em improvisados galpões. Pra através da neblina de sonho da maresia tentar chegar uma vez mais ao silêncio, fortalecido e feito mais denso pelo caos ao meu redor. Pra que uma vez mais seja eu, em meio a tudo, a ilha mais funda e mais viva nesse imenso mar de ruído e espuma.
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Um comentário:
Bon courage!
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