imagine o seguinte cenário: você acorda de manhã, meio de ressaca, com aquela fome de não ter jantado na noite anterior. Meio sonolento, você levanta e pensa “pois é, pelo jeito vou ter que fazer o café da manhã”. E então você chega na cozinha e descobre que a sua mulher levantou antes de você e já está terminando de fazer um lindo café da manhã pra dois, com café com leite, chocolate quente, suco de laranja, iogurte, torradas, geléia, ovos mexidos e tudo o mais que você poderia querer.
o que você faz?
(a) diz “que ótimo, meu bem, você leu os meus pensamentos. Vou aproveitar que você já fez o café pra ir botando os talheres na mesa e dando uma limpada na cozinha, OK?”
(b) suspira algo como “caralho, eu te amo” e enche ela de beijos no pescoço, aproveitando que ela está ocupada com os pratos pra dar uma esfregada básica naquele corpo indefeso inclinado sobre a pia da cozinha.
(c) pensa “senhor, eu não mereço tanto” e volta sorrateiramente para o quarto, deitando novamente pra esperar que ela lhe traga o café na cama enquanto você finge dormir e não saber de nada do que está acontecendo.
(d) precipita-se pra dentro da cozinha, abrindo à geladeira às pressas, apanhando a comida e disputando espaço na pia pra fazer o mesmo café da manhã que ela já está fazendo, simplesmente pra terminar antes dela e ter o mérito de colocá-lo na mesa antes. E fica frustrado por semanas ou meses a fio se ela por acaso conseguir servi-lo primeiro.
sinceramente, não importa muito se você simpatiza com a alternativa “a”, “b” ou “c”. O que importa é que é imensamente provável que você (assim como qualquer pessoa minimamente normal) tenha imediatamente relacionado a alternativa “d” a algum grau de psicose em estágio avançado. Certo?
ok.
agora transfira a cena pra um laboratório de pesquisa, em que você tem uma ideia que lhe parece boa, está começando a trabalhar nela, e aí subitamente fica sabendo que alguém em algum lugar do mundo está trabalhando exatamente na mesma coisa que você estava pensando em fazer, e tentando encontrar os mesmos resultados que você esperava encontrar para publicá-los.
o que você faz?
não vou enumerar as alternativas. Mas da próxima vez que você disser que faz ciência (ou seja o que for que você faz) pra fazer uma contribuição para a humanidade, e não pelos seus próprios interesses, pelo menos pense nisso.
9 comentários:
A competição é o combustível e a "contribuição para a humanidade" um mero efeito colateral positivo. Tudo funciona assim. Simples assim.
não disse que tá errado. Na prática, o sistema funciona exatamente porque consegue captar o individualismo de cada um pra desenvolver o todo. Mas que é sumamente esquisito, ah é.
Esse comentário anônimo deve ser da mãe.
Not me, mas concordo tanto com o anônimo quanto com o Olavo. Até mais!
O comentário anônimo foi meu...
Pedro???
Pedro who? Nah...
Adorei o texto! Na realidade este individualismo atrapalha um pouco o progresso da ciência. Tudo porque no fim as pessoas querem colocar seu nome nas coisas... Então é melhor fazer um filho, né? Ou viajei?
hm, confesso que não entendi muito bem o link do que eu tinha escrito pra fazer um filho. Mas se isso era uma proposta, não tenho nada contra a ideia :)
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