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e nesse momento peculiar, talvez o mais solto e desvinculado em uma década, eu olho pra trás e tenho a impressão de que, conscientemente ou não, eu tenho lidado com a minha vida do mesmo jeito que com a minha sala. Fugindo do jeito que posso de construir algo de que eu não vá conseguir me livrar. E mantendo o espaço aberto pra uma festa que talvez seja tão teórica e improvável quanto uma invasão dos tártaros. E cada vez mais eu me sinto capaz de enxergar isso não com remorso ou arrependimento, mas apenas com a consciência de que é inevitável. Porque mesmo que na terceira pessoa a gente seja definido pelo que constrói, a experiência da vida em primeira pessoa sempre vai ser a do espaço que se tem. E mesmo que preenchê-lo ande meio difícil nesses dias, a experiência e a inquietação do espaço aberto por si só já compõem um sentido. E têm sido a minha melhor maneira de me definir, de arranjar direção pro tempo, de encontrar um fio condutor pra narrativa dos meus dias. No fim das contas, mesmo com o apartamento menor, o espaço na sala segue sendo o único reflexo fiel do lado de dentro. O resto é só um punhado de móveis.
4 comentários:
Leio teu blog faz um tempo, e vc tem um jeito lindo de escrever. Nem vou deixar um comentário reflexivo do que tu escreveu, só vou dizer mesmo q vc escreve muito bacana! Bjão
e a porta, aberta?
claro. Janelas também.
Eu tenho uma casa sempre à procura de mobília, atulhada de porcarias de luxo e lixo, de letras e sons, de cores com cores e cores já desbotadas, uma casa para ordenar o que está dentro começando invariavelmente pelo que está no lado fora, o que pode e é, muitas vezes, um punhado de um nada.
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