domingo, março 19, 2006

presbiopia


e se eu quero reavivar o meu amor de olhos cansados de vez em quando ponho óculos de perto, ou então afasto os meus olhos e te seguro à distância que nem meu avô segura um documento de letras miúdas, e com as mãos nos teus ombros e os braços esticados dou um passo atrás, ou então me escondo, me enfio num buraco, atravesso um oceano e sumo de vista só pra voltar pra casa às escondidas e um dia qualquer depois de dias ou meses te ver entrar pela porta com os óculos na cara e rir, com a escova de dente enterrada na boca, presbiopia, dizes, e eu respondo eu sei bobona, olha as minhas lentes de contato, mas tu já me abraças sem nem reparar e eu deixo assim, então, e mantenho velado esse jogo de espelhos que eu construo sem que percebas, pra manter o desejo nesse efêmero equilíbrio, precariamente apoiado na ponta de um telescópio virado às avessas pra te deixar na distância certa, perto pra sempre mas fora de mim.

Um comentário:

Anônimo disse...

:)

presbiopia, ninguém escapa... se tivermos sorte, é claro!

beijo!

PS: já pedi pro eurico comentar aqui... estou me sentindo muito sozinha nos "comments"... hehehe