sexta-feira, novembro 30, 2007

terça-feira, novembro 27, 2007

frases para botar no perfil do orkut depois que uma bomba de nêutrons tiver varrido todos os gerentes de RH da superfície do planeta (i)

até uns tempos atrás volta e meia alguém batia na porta desse blog digitando a pergunta "frases para botar no orkut" no google. Suspeito que esse pessoal procure algo pra responder àquela incômoda perguntinha "quem sou eu?" que fica do lado da fotinho. Bem, amigos adolescentes, se vocês querem respostas prontas, aqui vai a minha sugestão do dia, para o delírio dos setores de recursos humanos de todo o mundo...
"Já exerci quase todos os misteres deste mundo, desde o de deputado até o de cáften profissional, mas ainda me falta encontrar aquele que assente como uma luva ao meu temperamento profundamente humano e que talvez ainda esteja por inventar: algo assim como o de um descobridor de terras e de mares que não fosse obrigado a sair da cama, já que o ócio me parece ser a primeira das virtudes teologais." (Campos de Carvalho, A lua vem da Ásia)

sexta-feira, novembro 23, 2007

considerações sobre o almoço de fim de ano da empresa em que você trabalha


o ímpeto infantil de brincar é um dos grandes mistérios do mundo. Como é que um troço que faz com que uma criança gaste milhares de quilocalorias correndo dum lado pro outro, se perca, se suje, suma da vista dos pais, coma terra, minhocas, tênias, caia tombos, esfole os joelhos e bata a cabeça em quinas de mesa a cada meia hora (e isso tudo num ambiente zilhões de vezes mais protegido do que aquele em que a nossa espécie evoluiu originalmente), pode ter sido selecionado tão fortemente na evolução a ponto de estar invariavelmente presente em qualquer criança (pra não falar em cachorros, leões, golfinhos e mamíferos evoluídos em geral). E sentado na mesa do almoço enquanto os pirralhos sobem em cima dela, fico pensando que se a idéia é a de que a vontade de brincar faz com que a criança explore o mundo e por isso fique mais inteligente, o troço há de realmente funcionar. Caso contrário não justificava tanto tombo.
enfim, era só pra dizer que no fim das contas não é de se estranhar que as pessoas emburreçam tanto quando param de brincar. E os que conseguem envelhecer sem perder o jeito da coisa sejam os gênios de verdade. Longa vida ao homo ludens.

mais divulgação com amplo conflito de interesse


e era isso, na verdade. A primeira vez que eu assisti foi num porão do Julinho, e foi absolutamente claustrofóbico. Depois vi numa noite escura e fria no teatrinho minúsculo do Museu do Trabalho, com uns barulhos angustiantes e um espaço um pouquinho maior, mas não muito. Agora tá no Câmara. Assistam logo antes que chegue no Sesi ou no Madison Square Garden, porque é o tipo da coisa que funciona bem melhor em lugares pequenos e hostis.

segunda-feira, novembro 19, 2007

comentários derradeiros sobre homens e ratos


bom, depois de ter deixado um comentário verdadeiramente puto nesse blog, e de através de e-mails e cartinhas ter dado minha contribuição pro circo das cobaias pegar fogo (às vezes demais), resolvi que talvez fosse melhor me acalmar um pouco e, nem que seja só dessa vez, escrever que nem adulto pra tentar expressar um ponto de vista racional a respeito de experimentação animal. Acho que assim talvez a gente possa levar adiante um debate menos passional e mais passível de resolver pela razão. Então aí vai a minha melhor tentativa.

em primeiro lugar: sim, o sacrifício de animais de outras espécies, contra a vontade dos mesmos, em benefício da nossa própria é cruel. Isso é óbvio, e acho difícil que mesmo o mais ardoroso defensor da experimentação animal conseguisse negá-lo.

o problema todo, no entanto, é que não é só o uso de cobaias que é cruel. A natureza, ao contrário do ideário romântico de algumas pessoas, é extremamente cruel. A condição humana, de nascer, envelhecer, morrer e apodrecer é igualmente cruel. E se a gente explora os ratos em nosso benefício é em larga parte pra evitar que as bactérias, vírus, parasitas e células tumorais explorem os nossos corpos em benefício deles. Então sim, sacrificar cobaias é uma crueldade, mas é uma crueldade racionalmente escolhida e assumida pra evitar outras formas de crueldade que nos atingem mais diretamente.

em segundo lugar: concedo que a decisão por esta forma de crueldade em detrimento das outras é inargumentavelmente arbitrária. E que o ponto de vista oposto, de que o sofrimento de um indivíduo, não importa de que espécie, seja equivalente, e portanto não se justifica sacrificar milhões de ratos pra tentar prolongar as nossas próprias vidas em alguns anos é igualmente válido. E sou da opinião de que a discussão entre um e outro ponto de vista é inútil, posto que são duas posições eticamente concebíveis que dependem de valores pessoais que cada um, e apenas cada um, pode determinar para si. Então não existe argumentação lógica possível que possa resolver essa questão.

apesar disso, no entanto, me parece que existe uma diferença muito grande entre as pessoas que defendem cada um desses pontos de vista, que é a coerência dos atos de cada lado em relação à posição assumida. As pessoas que defendem a experimentação animal geralmente encaram tal fato como um mal necessário, e esforçam-se para conviver com a crueldade inflingida aos animais ao saber que essa se converte na diminuição do sofrimento humano. Isso me parece uma escolha consciente e uma postura racionalmente assumida. Já aqueles que defendem a abolição da experimentação animal, por uma questão de coerência, deveriam por definição:

a) estarem dispostos eles mesmos a servirem de cobaias para quaisquer novos tratamentos médicos, farmacológicos ou de outra natureza, mesmo sabendo que os riscos de consumir um produto químico nunca antes testado num organismo vivo, no estado atual da ciência, são grosseiramente semelhantes aos de consumir um dejeto industrial qualquer, o que certamente implica no sacrifício de milhares de seres humanos.

ou

b) estarem dispostos a abdicar completamente da medicina moderna como um todo, já que ela não surgirá de um passe de mágica, um programa de computador ou uma revelação divina se não se puder experimentar e testar hipóteses e terapêuticas novas.

não surpreendentemente, apesar de inúmeros e ruidosos protestos em favor dos ratos de laboratório, sinceramente não conheço ninguém que de fato assuma os riscos acima em nome dos animais, que me parecem os requisitos mínimos para que essas pessoas sejam coerentes com o seu discurso. Pelo contrário, a grande maioria dessas pessoas sai tomando comprimidos pra menor dor de cabeça que surja. E tenho razoável certeza (e fico feliz com isso, porque me parece indicar um certo grau do que eu ao menos chamo de "humanidade") que pouquíssimos abolicionistas (ou quiçá nenhum) deixariam um filho seu morrer de uma leucemia facilmente curável "porque a quimioterapia foi testada em animais".

então me parece que esse lado da discussão atua só da boca pra fora. Seja por ingenuidade, desinformação, hipocrisia, pra eximir-se de culpa ou simplesmente pra aparecer, a quase totalidade das pessoas que defendem a abolição da experimentação animal reproduz um discurso que é absolutamente incoerente com seus atos. Então no fim das contas a idéia que fica é que sim, a discussão moral a respeito do tema é insolúvel. Mas que a humanidade em peso - incluindo aí os defensores da experimentação animal, os críticos da mesma idéia e a grande massa silenciosa entre os dois - já fez uma escolha moral ativa em prol do uso de animais em pesquisa e reitera essa escolha todos os dias através de seus atos. E tentar argumentar que não devesse ser assim, quando ninguém parece disposto a assumir as conseqüências, me parece simplesmente jogar conversa fora.

talvez por isso nós cientistas pareçamos tão irritados de vez em quando com o discurso "pró-animais". Não é que ele não nos pareça válido. É simplesmente porque ninguém está disposto a sustentá-lo na prática. Discutir questões deste porte significa arcar com as conseqüências do que se defende, e só parece haver um lado da discussão que parece ser capaz disso. O resto é conversa fiada. Que, se não for devidamente identificada e denunciada como tal, pode colocar em risco a vidae o bem-estar de um monte de gente.

era isso, espero que eu tenha sido claro. E estou aberto a discussão, como vários outros. Contanto que ela seja sustentada por posturas coerentes, e não apenas por palavras vazias.

segunda-feira, novembro 12, 2007

comam arroz e banhem-se no ganges, mas deixem o resto da humanidade em paz!


(o coelhinho vai bem, já a criança...)
eu achei que a situação era complicada quando li que o prefeito César Maia tinha sancionado uma lei que efetivamente proibia a experimentação animal no estado do Rio de Janeiro (meio por engano, é verdade, mas isso não nega o fato de que o cara que tá segurando o coelhinho redigiu aquele texto com essa intenção). Mas o debate que tem se seguido mostra que a situação é, pelo menos em alguns casos, muito mais escabrosa do que parecia a princípio. Com todo o respeito às pessoas razoáveis e coerentes que defendem os direitos dos animais e a regulamentação da pesquisa em cobaias (que não são poucas, aliás), o grau de ignorância e obscurantismo de boa parte dessa gente é chocante.
abaixo segue um ponto de vista (reproduzido com orgulho, diga-se de passagem, no site do democratas - vulgo o pêefeéle com vergonha do próprio nome - partido da anta que criou o tal projeto de lei) publicado no jornal mais importante do país por uma professora universitária. O descalabro é tamanho que eu fiz questão de comentar frase a frase. E estimulo todo mundo que se encontra igualmente perplexo a escrever pro tal deputado ou pra autora do estrupício reproduzido abaixo pra xingar, discordar educadamente ou contar alguns fatos básicos sobre a saúde no século XX que a maioria das pessoas aprendeu na quinta série. Ou ainda a escrever protestando pra reitoria da UFSC , que afinal é quem paga essa pessoa (com o nosso dinheiro, aliás) pra falar essas bobagens.
anyway, a situação só não é tão escabrosa porque eu tenho a convicção que esses radicais são a absoluta minoria, mesmo entre quem se preocupa com os direitos dos animais. O problema é que, como todo fanático, eles são muito mais vocais do que os moderados. Então façamos algum barulho. Ou pelo menos aproveitemos que o debate está aberto pra responder a altura. Se essas pessoas querem se curar com arroz e banhos no Rio Ganges, que o façam (ainda que aposto sem medo que a maioria delas preferirá a quimioterapia quando o problema for com elas). Mas que deixem o resto da humanidade em paz. A maioria já decidiu e segue decidindo (ainda que silenciosamente) em favor da experimentação animal, por uma decisão de colocar as pessoas em primeiro lugar. E não tem nada de errado nisso, é apenas o jeito da maioria ver o mundo. Então, queridos fanáticos, se quiserem "fazer a sua parte" não usufruindo da ciência e recusando-se a utilizar a medicina moderna, go ahead. Mas deixem o resto da humanidade em paz pra se governar como bem entender.
anyway, lá vai o descalabro inteiro:

"AS INVESTIGAÇÕES científicas mais relevantes para a preservação da saúde e da vida humanas resultaram de estudos feitos com base na clínica, na observação e no mapeamento das doenças que mais incidem sobre a população humana ou de estudos voltados para a prevenção das doenças, não exclusivamente para o combate de seus sintomas.
(OK, a afirmativa que “a prevenção é mais importante do que o combate dos sintomas” pode até estar certa. Só que esquece que (a) estudos animais são obviamente importantes pra estratégias de prevenção primária e secundária (vide estudos de vacinas ou métodos diagnósticos) e (b) a oposição “prevenção vs. combate dos sintomas” é completamente esdrúxula. A importância de prevenir não diminui em nada a importância de saber remediar ou controlar os sintomas com a doença instalada. Não há nada de errado agir exclusivamente no combate dos sintomas quando o resto falha. Negar isso seria recusar analgésico pra paciente com câncer terminal, o que é uma idéia completamente sádica e vil)
"As descobertas científicas que mais contribuíram para prolongar a vida humana resultaram basicamente de estudos e observações clínicos, e não de testes feitos em animais vivos de outras espécies."
(sim, e os estudos clínicos se baseiam no quê, querida? Como essa pessoa acha que as pessoas desenvolvem não só as drogas a serem testada, mas toda a base de conhecimento de fisiologia, genética, bioquímica e patologia que permite construir modelos teóricos pra interpretar as observações clínicas de maneira que elas sirvam pra alguma coisa?)
Via de regra, estudos baseados no modelo animal vivo (vivissecção) servem apenas para desenvolver a habilidade dos cientistas na construção de modelos que terão de ser, mais tarde, redesenhados para a aplicação em estudos destinados à investigação de possíveis terapêuticas para doenças humanas.
(pra começar, não entendi lhufas dessa frase mal escrita. Mas me parece que jogar esse “desenvolver a habilidade” ali no meio parece uma tentativa de sugerir, falsamente, que os cientistas usam animais pra “treinar habilidades”, o que é absolutamente falso. Eles os usam pra construir conhecimento. Aliás, o próprio uso do termo “vivissecção” pelos “abolicionistas” da experimentação animal pra denominar experimentação animal é um erro de utilização da palavra (que a rigor significa “o ato de examinar internamente um ser enquanto ele ainda está propriamente vivo”, o que é o destino de uma porcentagem ínfima de cobaias sacrificadas no mundo – eu chutaria menos de 1%), que me parece querer evocar cientistas mutilando animais e confundir a questão (válida, a meu ver, pelo menos como debate) da necessidade da vivissecção para o ensino com a questão (completamente descabida, a meu ver) da necessidade da experimentação animal para a pesquisa científica e para a saúde humana)
Após todo esse esforço, as drogas não funcionam como prometido. Muitas delas são retiradas do mercado após constatada sua letalidade para humanos
(esse argumento é completamente idiota. A lógica aqui é (a) “a ciência utiliza animais”. (b) “a ciência tem fracassos e produz drogas que tem que ser retiradas do mercado”. Logo (c) “a culpa é da experimentação animal. Excuse me, qual é o sentido que isso faz? Pense um pouquinho, meu doce. Se a ciência já erra e produz drogas inefetivas e perigosas usando milhares de cobaias, imagine o cenário dantesco que se produziria se ela testasse elas direto em gente).
A ciência usa o dinheiro e investe o tempo de seus operadores se perdendo nos labirintos da vivissecção. Seu investimento nesse único método de pesquisa é diretamente proporcional ao seu fracasso em responder satisfatoriamente às questões às quais se propõe responder com a investigação.
(mesma lógica, mesma bobagem)
Enquanto gerações e gerações de jovens cientistas são transformadas em vivisseccionistas sob a imposição hegemônica de uma ideologia claramente fracassada, outras tantas gerações de jovens, bebês e adultos morrem a cada ano daquelas mesmas doenças que o cientista há mais de cinco ou seis décadas promete curar ao buscar em organismos de ratos e camundongos a resposta para males que afetam cada vez mais devastadoramente organismos de indivíduos humanos.
(de novo o mesmo argumento: (a)“a ciência tem fracassos”, logo (b) “ela não funciona e a culpa da experimentação animal”. De novo, se depois de décadas de pesquisa as pessoas continuam morrendo das mesmas doenças – ainda que geralmente menos – isso só quer dizer que a gente precisa do máximo de ferramentas possíveis)
A ciência vivisseccionista não tem feito nenhum progresso na busca da cura dos grandes males que produzem as doenças crônicas, dolorosas e letais mais comuns em organismos humanos: câncer, acidentes vasculares, diabetes, hipertensão, mal de Alzheimer, mal de Parkinson. Além do fracasso evidente de todas as drogas até hoje empregues para a "cura" dessas doenças, é preciso contabilizar o fracasso de outras inventadas a partir do modelo vivisseccionista para o tratamento das demais doenças que afligem os seres humanos, a exemplo da depressão e de outras formas de sofrimento psíquico
(me dêem licença pra ser um pouco sarcástico, mas isso é um completo atentado contra o bom senso, e um insulto blatante a milhões de cientistas bem-intencionados. Eu não vou citar exemplos de por que isso está errado porque me parece que não precisa, qualquer pessoa que tenha passado do jardim da infância consegue reconhecer o absurdo total das frases acima. Em todo caso, se alguma referência é necessária recomendo à autora que dê uma olhadinha em qualquer estatística de expectativa de vida ou mortalidade por doenças específicas de qualquer lugar do mundo desse século. Falar que a ciência não tem feito nenhum progresso na busca da cura das doenças mencionadas é um descalabro completo e total, e é simplesmente insultante pra humanidade em geral)
(notem que a autora insiste no conceito de “cura” de maneira a enganar o leitor: de fato, a maior parte das doenças citadas permanecem incuráveis (com a honrosa exceção do câncer, que vou discutir abaixo). No entanto, é completamente inegável que o controle, a mortalidade, a morbidade e o sofrimento associado a coisas como diabetes, hipertensão, doenças vasculares cerebrais e Parkinson foi imensamente afetado pela medicina moderna e pela farmacologia, em grande parte devido ao suporte de experimentos animais. O tratamento correto da diabetes faz a diferença entre décadas vividas com qualidade de vida semelhante a um indivíduo saudável e a cegueira, a amputação, a insuficiência renal e a morte precoce por um infarto. Dizer que a doença “não foi curada” pode até ser uma verdade relativa, mas tentar sugerir através daí que a vida dos diabéticos não foi vastamente melhorada pela ciência é um insulto a milhares de cientistas que pesquisam na área e a milhões de pessoas doentes que tem que ouvir uma estultície tamanha)
(ainda no parágrafo acima, gostaria de destacar que também sou um puta crítico da “invenção” (ou pelo menos da diagnostização de sintomas) por parte da psiquiatria moderna. Agora, puta que o pariu, o que diabos isso tem a ver com os pobres dos ratos. É o típico argumento de um observador tosco que coloca a ciência toda dentro dum saco plástico pra jogar dentro do rio)
Ao adotar o organismo de camundongos, ratos, cães, gatos, porcos, cavalos, aves e primatas não humanos como referência para a investigação, a ciência deixa de estudar e conhecer o organismo e o psiquismo dos seres da espécie humana, a destinatária de seus resultados.
(esse é o outro argumento freqüentemente usado que também é completamente idiota. É claro que seres humanos são diferentes de porcos e camundongos, qualquer criança retardada sabe disso. A questão é que é a melhor maneira que a gente tem pra se aproximar. O que a autora pretende defender, que a gente injete células tumorais nos nossos filhos e depois abra a barriga deles pra implantar capsulazinhas de remédio? Ou será que ela acha que um programa de computador ou uma escultura de argila são mais próximos das pessoas do que um camundongo?)
O que o cientista vivisseccionista faz é estudar a fisiologia dessas doenças em organismos que, via de regra, nem sequer as produzem naturalmente. É preciso "fabricar" um camundongo com câncer para testar nele as drogas prometidas para curar o câncer em organismos que não foram "fabricados" com câncer, mas que o desenvolvem.
(sim, e qual é o problema disso? Um engenheiro que quer estudar um cinto de segurança que funcione tem que modelar um acidente de carro, seja no computador, no papel ou numa demonstração ao vivo. O acidente (e o carro) não são intrínsecos ao computador e o papel. O acidente do carro batido ao vivo também é fabricado. Mas a demonstração funciona e produz conhecimento válido e útil. A “naturalidade” ou “inaturalidade” do câncer no camundongo pouco tem a ver com a importância do conhecimento gerado)
A morte por câncer continua a ser praticamente previsível, apesar das drogas às quais o paciente humano é submetido na "luta contra" ele.
(ô sua ignorante, dá uma olhada nisso aqui. Atente particularmente para números como “sobrevivência em cinco anos de câncer de tireóide: 94,6%; testículo: 93,3%; melanoma: 85,1%; útero: 83,2%; mama: 80,4%. Dizer que “a morte por câncer continua a ser praticamente previsível” denota um grau de desinformação grotesco e é um desserviço enorme à saúde pública e ao bem-estar de um monte de gente)
Adiar a morte não cura.
(OK, vá lá, esse é um ponto de vista válido. Que por sinal, se adotado, significa “joguemos fora toda a ciência médica, o sistema de saúde, os profissionais de saúde e por aí afora”. Afinal, tudo que a gente sempre fez em termos de aumentar sobrevivência foi “adiar a morte”. Que eu saiba, nem a medicina nem ciência nenhuma fez ninguém imortal até hoje. Por outro lado, ela provavelmente aumentou a expectativa de vida média da população numa escala de décadas e, ainda que eu (e provavelmente ninguém) possa dizer ao certo o quanto isso se deve à experimentação animal, certamente dá pra dizer que foi um bom naco (uma vez ouvi uma estimativa de dez anos, mas como não sei daonde veio, não vou usar de argumento). Se a autora quiser botar os seus anos a mais de vida fora, sinta-se à vontade e pule dum prédio. Mas deixe os meus pra mim e pros outros, por favor, por favor)
Essa ciência pode abrir mão do uso de animais vivos, pois, embora ela tenha produzido uma quantidade incalculável de drogas para combater os sintomas de tais males, ao sustentar sua investigação no vivisseccionismo, não produz resultados que garantem a "cura" de nenhum daqueles males mais freqüentes que afetam crônica ou agudamente a saúde e destroem a vida humana
(de novo o mesmo argumento tosco. As minhas perguntas que ficam, no fim das contas, são as seguintes: (a) se essa pessoa fosse diagnosticada com diabetes ou hipertensão ou HIV amanhã, será que ela não se trataria porque “o tratamento não cura”, mesmo sabendo que ganharia talvez dez ou vinte anos de vida com isso? (b) Se ela tivesse câncer terminal, será que ela não tomaria analgésico pra tratar sua dor excruciante porque “o tratamento não cura”? (c) Se ela tivesse gastado ridículos cinco minutos da carreira acadêmica dela cruzando “taxa de mortalidade” e “câncer” no google, será que ela teria descoberto que câncer se cura sim?)
(e no fim das contas, deixo o mesmo apelo à autora que costumo deixar a todo defensor da abolição da experimentação animal: NÃO SUBMETA SEU FILHO A NENHUM TRATAMENTO MÉDICO! Deixe a criança arder em febre ao ser consumida por uma pneumonia. Deixe ele urrar de dor quando quebrar a clavícula. Deixe ele ficar seqüelado pra vida inteira porque não tratou uma meningite. É o mínimo que se pode esperar, em termos de coerência.
Espero que eu tenha sido claro.)

SÔNIA TERESINHA FELIPE, 53, doutora em filosofia moral e teoria política pela Universidade de Konstanz (Alemanha) com pós-doutorado em bioética-ética animal pelo Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa (Portugal)
(alguns cientistas pró-experimentação diriam que filósofo não tem nada que se meter em assunto do qual não entende; eu discordo absolutamente: acho que o assunto não é dos cientistas que fazem experimentação, é da humanidade em geral. Mas um mínimo de estudo e conhecimento do assunto, do qual a autora obviamente não dispõe seria, digamos assim, útil, antes de escrever prum jornal de circulação nacional)
é professora da graduação e da pós-graduação
em filosofia e do doutorado interdisciplinar em ciências humanas da Universidade Federal de Santa Catarina
(ou seja, esse descalabro desvairado foi sustentado com grana do meu bolso. Super legal).

(Folha de S. Paulo, 10/11/07, seção "Debates": "A ciência pode abrir mão de fazer experiências com animais?")

sábado, novembro 10, 2007

melhor frase que eu li no jornal nos últimos tempos

tava na zero hora esses dias:
"- O que eu vejo de b... na internet. É gente que está emporcalhando a profissão, é gente que não leu. Blog é depósito de lixo... - disparou o colunista da revista Caras." ("De Olho nos Mestres, ZH 7/11/07). (negrito do autor deste blog)
se aquela história de "literatura é saber o que deixar no subtexto" (conforme o assis brasil disse na mesma reportagem) é verdade, o cara que escreveu a matéria certamente tem as bases. Eu é que não vou dizer pra ele que jornalista não sabe escrever.

ícones pop natimortos (i)

o barulhinho de conexão discada (trrrrrrrrrrrrrr - tum dum - tum dum - taaaaaah - shhhhhhhh). tadinho, passou de símbolo de modernidade a artefato retrô sem nem saber o que aconteceu.

sexta-feira, novembro 02, 2007

aviso de utilidade pública

se você, leitor, puder aceitar um conselho na vida a respeito de avisos de utilidade pública, aceite esse, que o meu pai me deu pouco antes de morrer:
"meu filho (suspiro apertado pelo câncer de esôfago)... se eu não estiver aqui, eu peço que você me prometa que (tosse com escarro purulento) , não importa o que acontecer, você vai desconfiar seriamente de qualquer coisa que junte as palavras "flanelinha" e "ácido muriático" na mesma frase antes de repassar um e-mail. Ah, e se der tempo cuide bem da sua mãe tamb... (gasp, glup, acesso de tosse e parada respiratória)."