quarta-feira, dezembro 23, 2009
o segredo do mundo é saber até onde ler
just to dig it all and not to wonder that's just fine
and i'll be satisfied not to read in between the lines.
entendam o que quiserem, mas acho que as camisetas infantis devem ter algo de sabedoria. Feliz natal.
quarta-feira, dezembro 16, 2009
da cultura como um grande arroto
lá fora o caos, calor e multidão indo do metrô pro ônibus, do escritório pro bar, ou qualquer trajeto combinando esses elementos. Lá dentro ar-condicionado, e eu sozinho. Passei quase uma hora do final da tarde num enorme salão vazio olhando gravuras, sem companhia além de uma única senhora curiosa (que não parecia entender muito bem a história toda, a julgar pelo papo dela com a facilitadora de plantão, e saiu dali meio rápido). Na saída, olhei o livro de assinaturas. Devia ter umas dez no dia de hoje.
não sei o custo de trazer aquelas 140 gravuras pro Brasil. Nem o de montar a exposição toda, manter uma sala enorme pra abrigá-las em pleno centro do Rio, pagar as dezenas de funcionários do complexo, e assim por diante. Mas se a gente for calcular o preço que uma brincadeira dessas (ou de um longa-metragem nacional, espetáculo de dança ou concerto da Osesp) sai por pessoa que usufrui, suspeito que dificilmente vá chegar à conclusão de que vale a pena.
não, isso não é mais uma lenga-lenga sobre o desinteresse do público pela arte. E nem é mais uma crítica ao financiamento público da cultura ou à isenção total de impostos via Lei Rouanet.
isso é apenas a constatação de que a maneira de produzir o que se chama de “arte” ou “cultura” no país, e talvez no mundo, é em larga parte um fracasso retumbante, simplesmente porque quase ninguém está ouvindo o que se diz. E não é porque falte dinheiro. É só porque falta todo o resto.
bem ou mal o fato é que a arte na era contemporânea virou uma espécie de subproduto supérfluo do capitalismo. O povo trabalha, a economia cresce, as engrenagens giram, o dinheiro aparece, a isenção de impostos existe. Então lá pelas tantas a máquina é capaz de gerar um centro cultural aqui, uma peça aqui, um filme acolá. Uma sobra das entranhas do sistema, que não contribui nem prejudica o seu funcionamento. Algo assim como um peido ou um arroto, só que com cheiro bom e ar condicionado.
o único problema é que as únicas coisas que o sistema é capaz de fornecer à cultura são (a) dinheiro e (b) uma minúscula elite intelectualizada capaz de produzir e usufruir da arte. Porque o capitalismo que financia o teatro ou a literatura também soterra debaixo de sua realidade inegável e avessa a ficções a idéia de que teatro ou literatura podem ser algo importante. Se não tem ninguém numa exposição massa às seis da tarde na Caixa Cultural, não é por culpa da exposição, nem do público. É porque ninguém tem tempo pra ir em exposição às seis da tarde. Afinal, neguinho tem que trabalhar. Até porque tem que pagar os juros do empréstimo que fez na Caixa pra comprar o carro no início do ano.
claro, sempre haverá a exceção a regra, a meia dúzia privilegiada que tem tempo, paciência, educação e um quê de esnobismo pra assistir o Ciclo de Cinema da Geórgia (isso não é uma metáfora, é de fato a programação atual do CCBB). E diz o discurso pró-cultura que se a arte conseguir influenciar alguma dessas pessoas a iniciativa valeu a pena. O único problema é que influenciar alguma dessas pessoas provavelmente não vai fazer com que ela mude o mundo. No máximo, vai fazer com que ela mude a si mesma, e talvez com que ela escreva ou filme ou pinte alguma coisa que no fim das contas também vai ser visto por meia dúzia. E o que é pior, provavelmente pela mesma meia dúzia. E no fim das contas essa meia dúzia vai formar a tal nata da sociedade. Que como dizia o meu ex-chefe pros alunos de medicina do primeiro semestre, “é aquela coisa gordurenta que fica em cima do leite”, tão fácil de coar e jogar fora.
e enquanto isso o mundo ruge lá fora na Almirante Barroso, alheio a tudo isso. E coa a nata sem grandes problemas ao tomar o café com leite de todos os dias.
e a idéia de que lucro de banco por si só pode gerar cultura é provavelmente uma grande falácia. Não que eu tenha nada contra a existência da Lei Rouanet, na verdade: se não houvesse dinheiro a situação provavelmente seria ainda pior. Mas o problema todo é que cultura não depende só de grana. E nem só de artista falando, escrevendo ou pintando. Cultura depende de quem ouça o que se fala. E pra ouvir se precisa de tempo. Pra ouvir se precisa de fé. E se precisa de um puta silêncio. Coisas que o mundo contemporâneo infelizmente não tem isenção fiscal pra produzir.
todo o dinheiro do mundo não é capaz de comprar o silêncio necessário pra se criar alguma forma de arte que ainda importe.
e a verdade é que o mesmo mundo que tão orgulhosamente canaliza parte dos seus impostos pra sustentar o cinema brasileiro ou a metropolitan opera house ou o que quer que seja raramente tem tempo, fé ou silêncio pra de fato tomar parte na troca que deveria se estabelecer a partir disso. Não que não tente ou finja, comprando livros e botando na estante, indo à FLIP assistir a autores que nunca leu, ou frequentando um que outro concerto porque afinal é chique. Mas a porcentagem das pessoas que muda a sua vida de trajeto um milímetro com a arte que consome (e infelizmente a patética expressão “consumir arte” não poderia ser mais adequada) é ínfima.
e isso é o lado de cima da pirâmide, que ainda é o menos problemático. Porque o lado de baixo simplesmente segue caminhando no largo da Carioca pra pegar o metrô antes que o movimento aperte.
a verdadeira crise da arte contemporânea não tem a ver com a forma nem com o conteúdo. Na verdade, a crise da arte contemporânea tem muito pouco a ver com a arte, e muito mais a ver com o mundo. A crise da arte contemporânea é o fato de ter se tornado inócua, um brinquedinho colorido gerado pelo capitalismo que distrai alguns, entretém outros, e eventualmente até consegue se tornar uma parte vital da existência de um pequeno punhado de gente. Mas que não move o mundo um milímetro. É uma merda dizer isso, mas os dois nerds que criaram o Google, ou até mesmo o pirralho do Facebook, têm um impacto maior em criar novas idéias e formas de existir (o que deveria ser o objetivo da arte) do que toda a produção artística da década. E do jeito que a tecnologia anda, não existe a menor evidência de que a maré vá mudar.
sempre se disse que o dinheiro é importante pra financiar a arte. E há tempos é moda se dizer que se usa a tecnologia pra criar novas formas de arte. Ambas as afirmações são bobagens. Porque se a arte é o que move o mundo, o dinheiro e a tecnologia são a arte. O que se faz com eles pra chamar de arte, como todo o resto, é só um arroto colorido e cheiroso.
terça-feira, dezembro 15, 2009
das lágrimas na faixa de segurança
sábado, novembro 28, 2009
cosmética da fome
do outro lado do vidro fechado, qualquer coisa vira poesia. Difícil é achar graça quando se está no palco, ao invés de na cadeira estofada da platéia.
terça-feira, novembro 24, 2009
afundado até o pescoço no conflito de interesse
segunda-feira, novembro 23, 2009
da arte como bala perdida
não devo, não quero e não vou entrar na discussão mais do que gasta de se um monte de galhos queimados cercados por uma cortina preta em um galpão do cais do porto são arte ou não são. Os objetos são o que são. “Arte” é só um conceito que a gente cria pra entendê-los. E qualquer um que se diga artista tem pleno direito de estender o conceito pra onde bem entender.
eu só gostaria que eles pensassem pra quem eles estão falando quando o fazem.
por que, francamente, me parece que a imensa maioria da arte contemporânea, que tanto usa substantivos abstratos bonitos como “interatividade” e “diálogo” nos cartazes ao lado das obras, quase nunca interage e dialoga de fato com o público que vai vê-la. Claro, há inúmeras honrosas e geniais exceções. Mas a grande maior parte do que se vê nesses armazéns de cais do porto pelo mundo afora parece trabalhar com conceitos herméticos que se remetem a outros artistas, aos curadores, e a críticos de arte. Mas quase nunca ao público, que definitivamente não fala a mesma língua dessa gente.
o que é apenas natural. Qualquer campo da atividade humana compartilha paradigmas próprios, e não haveria porque ser diferente nas artes plásticas. Críticos, curadores e artistas estudam nos mesmos lugares, circulam pelos mesmos meios e acabam criando critérios de valor compartilhados, Nada mais normal, assim, do que artistas tentarem agradar aos curadores falando nessa linguagem própria quando submetem projetos a uma bienal. E não haveria nada de errado nisso. Não fosse o fato de quem paga a história toda é o pobre contribuinte que olha com ar perdido pra um diálogo que pra ele geralmente soa como eslovaco ou mandarim.
e me parece que o tão discutido fracasso da arte contemporânea comunicar com o indivíduo médio não é culpa nem da falta de talento dos artistas nem da falta de preparação do público. Analisando de uma perspectiva friamente capitalista, o fracasso é simplesmente esperado. Curadores distribuem grana. Artistas tem que pagar as próprias contas e querem impressionar curadores. Ambos aprenderam a mesma cartilha hermética e tem uma linguagem particular. E o cidadão médio não entra na equação em nenhum momento. Exceto na hora de pagar.
pensando dessa maneira, também parece natural que o tal cidadão comum se sinta no direito de achar aquilo tudo uma merda. Mas o establishment cultural não dá a ele sequer o direito de reclamar, sob a pena de parecer inculto e tosco. Então ele fica quieto, olhando com um ar de incompreensão. E o circo todo segue funcionando da mesma maneira.
a mesma lógica vale pra música clássica, videoarte, dança ou quase qualquer forma de arte que seja sustentada na ausência de mercado. É fácil falar mal da influência da grana na cultura, citando exemplos como blockbusters de Hollywood ou boy bands de plástico. Mas a ausência total de feedback do mercado é capaz de criar aberrações quase tão nefastas. Exceto que no caso destas não é culto e fashion reclamar. E então todos nós ficamos quietinhos enquanto o rei está nu. Mas cá pra nós, de vez em quando um pouquinho de superego mercadológico não faz mal a ninguém.
querem soluções? Por que diabos não se faz a bienal do povo? Da próxima vez, peguemos gente a esmo no centro da cidade (a esquina é democrática, afinal) pra servir de curadores. E mais do que isso, avisemos os artistas que os projetos serão escolhidos pelo público em geral (que afinal de contas é quem paga a brincadeira, porra). Artistas são espertos, ou pelo menos alguns deles são. E eu particularmente duvido que eles não se saiam com algo muito mais divertido do que apresentariam pros curadores. E que certamente precisaria de bem menos discurso enlatado e substantivos abstratos pra justificar.
querem diálogo? Então guardem os dicionários e manuais de instruções. E gritem numa língua que eu consiga escutar.
quinta-feira, novembro 19, 2009
filosofia de bar
quinta-feira, novembro 12, 2009
dentro do mundo, longe de mim
terça-feira, outubro 27, 2009
quem gosta de miséria é intelectual
quarta-feira, outubro 21, 2009
comentários sobre as suas frases no perfil do orkut quando o avaliador do seu estágio probatório resolve entrar pra dar uma olhada
e também não deixa de ser uma desculpa pra ver se recupero meus leitores. Desde que alguns aproveitadores e oportunistas diversos roubaram meu filão de mercado e me passaram no ranking do google pra "frases pra botar no perfil do orkut", o movimento desse blog caiu pela metade. Então resolvi escrever isso várias vezes, pra ver se consigo voltar aos tempos de glória. De repente funciona. Não que importe, em todo caso.
a única necessidade é sobreviver
e por isso vou passar o dia inteiro na cama, só em protesto. Sem fazer nada além de trabalhar o mínimo possível em alguma tarefa fútil e banal que me sustente e não ocupe o meu cérebro de maneira alguma. Nada que perturbe a delicada tarefa de existir, um minuto de cada vez. Nada que seja capaz de quebrar o silêncio com o fel da responsabilidade e da culpa. Existimos apenas, e a coisa alguma se destina. E mesmo os meus escritos serão apenas ejaculações sem esforço, desprovidas de planejamento ou atenção. E se no futuro algum Max Brodt tiver saco de encontrá-las no baú e torná-las apresentáveis apreciarei, mas se ele não aparecer suponho ninguém vá se importar. Eu certamente não vou. Mais do que tudo, cansei da labuta besta de manter uma imagem pros outros: nenhuma das pessoas que eu poderia impressionar com isso realmente vale o esforço de fazê-lo. Minhas vaidades caíram todas por terra, simplesmente porque dava trabalho mantê-las em dia. E com esse exemplo em mente como a melhor das jurisprudências, continuarei a levantar a bandeira da preguiça e a levarei ao colchão mais alto, como justificativa de cada um dos meus atos daqui pra frente. Porque ela é o melhor dos filtros: nada que realmente valha a pena conseguirá me tirar da cama, e isso fará ao natural que tudo que reste na vida sejam cama, cobertores e as coisas realmente do caralho que me façam levantar. E isso será ao mesmo tempo a metafísica de um sistema e a grande verdade do meu poema. Ou apenas mais uma frase pra botar no perfil do Orkut quando você ganha um emprego estável.
segunda-feira, outubro 05, 2009
ainda orangotangos, mas desta vez menorzinhos
sábado, setembro 26, 2009
chega de vaidade
domingo, setembro 20, 2009
cada qual com a nostalgia que lhe toca
segunda-feira, setembro 14, 2009
sincretismos (i)
mas em termos de sincretismo pós-moderno, nada, absolutamente nada, pode superar o momento em que se entra na igreja central de San Juan Chamula. Sentados no chão sobre ramos de pinheiro, índios Tzotzil cantam rezas estranhas em um dialeto maia, enquanto curandeiros passam galinhas pretas sobre os corpos dos doentes. Milhares de velas acesas e uma melodia melancólica e repetitiva tocada por músicos vestidos com um traje de lã preta lembrando um disfarce de urubu dão um ar surreal à cena. Santos católicos vestidos com roupas vagamente carnavalescas adornam as paredes, com São João Batista acima de Jesus Cristo no altar. E, como não poderia deixar de ser, tudo é regado a centenas de garrafas de Coca-Cola, Pepsi e Fanta Laranja espalhadas por todos os lados. Supostamente pra ajudarem os fiéis a arrotarem os maus espíritos. Não, eu também não teria acreditado se não estivesse lá.
amo muito tudo isso.
sexta-feira, setembro 11, 2009
hecho en hollywood
o filme seguinte parece mais chique, ainda que com muito menos pé e/ou cabeça. Tem o Nicolas Cage e o Harvey Keitel no elenco, e trata de um bando de arqueólogos que desvendam uma teoria da conspiração que gira em torno do assassinato de Abraham Lincoln, pra no fim das contas descobrir um uma cidade Olmeca cheia de ouro, ou algo assim, esquizofrenicamente perdida embaixo do monte Rushmore (afinal, o México não poderia ter nada que os Estados Unidos não sejam capaz de ter).
antes dos filmes, a TV desse ônibus (e de todos os outros) também passa um vídeo turístico mostrando standards mexicanos como Teotihuacán, Cancún, tacos com queijo e Acapulco, que acaba com um slogan tipicamente melodramático que diz “así que digalo a todos: “Vive, México!””, com uma voz tipo a do Cid Moreira narrando o evangelho.
eu, meio desinteressado dos filmes todos, vou espiando eles de cinco em cinco minutos (mais do que suficiente pra complexidade dos mesmos) enquanto escuto no iPod um troço chamado “March of the Zapotec”, do Beirut (um pirralho novaiorquino fissurado em música da Europa Oriental), que nesse EP em particular parece tentar soar meio mexicano, sem muito sucesso (pra mim, continua emanando diretamente da Bósnia, mesmo que eu nunca tenha estado lá).
e o que os elementos acima tem em comum? Bem, (a) todos eles falam do México. (b) Todos eles são feitos no exterior (com a exceção do filminho turístico, que é pra gringo ver de qualquer maneira). E (c) todos parecem evocar um lugar que sinceramente tem muito pouco a ver com o que se vê da janela. Que consiste basicamente, pelo menos nesse trajeto entre Puebla e Oaxaca, em montes de montanhas áridas com umas casinhas meio pobres e bares de beira de estrada no meio do caminho.
minha pergunta é: será que essa gente realmente acredita na sua própria imagem do jeito que lhe é vendida pelos outros?
não tenho certeza, mas não duvido que às vezes sim. Afinal, deve ser meio difícil manter uma autoimagem com uma superpotência olhando pra ti do outro lado da cerca como um grande mercado a ser conquistado. E sabendo que a maneira mais fácil de fazê-lo é determinar o que as pessoas devem querer e, por tabela, devem ser. E então dá-lhe exportar o estereótipo latino pra própria América latina através de ídolos processados em Miami tipo Ricky Martin ou Alejandro Sanz. Pra não falar em transmissões diárias do “Latin American Idol” na TV y otras cositas del género.
e como o México também tem que ser vendido pros americanos, afinal, também dá-lhe guias turísticos alardeando civilizações pré-colombianas, pirâmides a serem pisoteadas por turistas, praias paradisíacas, locas noches de amor, camisetas dizendo “one tequila, two tequila, three tequila, floor”. Ou, pros mais aculturados, socialmente culpados, ou simplesmente descolados carregando seus Lonely Planets, românticas e sofridas comunidades indígenas maias em Chiapas ou artesãos dedicados em vilas zapotecas.
e estará algum desses estereótipos certos? Suponho que sim. Na verdade acho que se uma conspiração coletiva quer determinar que um lugar existe, certamente ele acaba existindo. Com certeza é a impressão que eu e qualquer outro de fora acabamos tendo: o mundo lá fora de fato se parece com o guia turístico, pelo menos na maior parte das vezes. Mas se era aquilo que fomos condicionados a ver (e todo mundo parece estar aqui para ver as mesmas coisas, pois as rotas de viagem são sempre as que estão no guia), como raios poderia ser diferente?
mas ao longo do caminho eu vejo os rostos da gente ao meu redor, e tenho a impressão de que eles olham tudo isso apenas como mais um filme babaca de Hollywood. Que assistem passivamente, talvez não se reconhecendo de verdade. E provavelmente não dando a mínima pra essa coisa de herança asteca, calendário maia, e talvez muito menos com o exército nacional zapatista a mil quilômetros de distância. Que vivem a mesma vida pacata e alheia ao que diz o lonely planet, tão desprovida de pitoresquice quanto qualquer cidadezinha do nordeste do Brasil. E acompanha, a seleção nacional nas eliminatórias da copa, as novelas na televisão, a luta livre na sexta de noite e os palhaços fazendo shows na praças em tardes de domingo. Geralmente com um sorriso no rosto, e com uma simplicidade desprovida de ironia, intelectualidade blasé ou malícia que frequentemente me espanta.
moral da história? Ainda é cedo pra dizer. Mas se alguém quiser conhecer a essência do México, fica a minha dica provisória. Esqueçam ensaios de Octavio Paz. Esqueçam o calendário maia. Esqueçam o guia turístico. Simplesmente cheguem mais cedo em casa, liguem no SBT, e torçam pra que ainda passe o seriado do Chaves (o original, com “s”, não o paspalho de boina vermelha que assumiu o nome no inconsciente coletivo). E se quiserem realmente ir fundo, dêem seguimento à imersão assistindo Marisol, Chispita (ai minha anacronice...) ou seja lá que novela mexicana a Record possa estar passando.
e o mais importante de tudo, esqueçam definitivamente idéias idiotas como vir até aqui. O Chaves é muito mais México do que qualquer coisa que esse lugar possa oferecer.
quinta-feira, setembro 03, 2009
backwards is the new forward
em todo caso (e ainda que talvez tenha pego a onda já na fase de virar espuma), confesso que até simpatizei. Fundamentalmente pela exigência de brevidade. Não sou nenhum acadêmico da área, mas me parece que o twitter é o primeiro grande hit da era da informática que se define por uma negativa. Ele não se baseia em nenhum avanço tecnológico, senão no absoluto retrocesso: não dá pra fazer nada nele, exceto escrever os tais 140 caracteres. E eu confesso que aceito o paradoxo com alívio.
porque deve ser algo sintomático que, como história midiática do momento, a ascensão do twitter suceda a decadência do second life, uma rede social em que se podia andar, vestir-se, falar, trabalhar, ganhar dinheiro, ir no cinema, construir casas, trepar com prostitutas e deus sabe o que mais (eu não sei, porque no meu laptop antigo o troço sempre dava pau). E isso talvez seja o primeiro indício que pelo menos a geração mais adulta já não dá conta da oferta de opções e informação. E dá boas vindas às restrições pela porta da frente, porque a única maneira de ir em frente é resumir.
e não me surpreenderia em nada se o próximo hit da internet fosse um flickr de uma foto só, ou algo do gênero (aliás, só não é, porque isso já existe: é a foto que se põe no msn). Afinal, um monte de gente tem saco pra botar um álbum de fotos inteiros no orkut ou no facebook, mas ninguém tem mais tempo ou paciência pra olhar mais que isso. O paradoxo de Kalakow reina supremo.
claro, a julgar pelo número de gente seguindo centenas de pessoas no twitter, eu posso muito possivelmente estar errado, porque por puro efeito de massa ele também acaba se tornando um excesso de informação inapreensível, algo como um zapping anencéfalo por centenas de canais que não te interessam na TV a cabo. Mas pelo menos o proof of principle de que menos tecnologia de vez em quando pode ser uma grande idéia está dado. E se a moda de que “não precisamos de mais” pegar, talvez isso abra alguma avenida interessante pro mundo. Ainda acho que a gente anda muito longe do dia em que todo mundo que hoje olha pra frente vá começar a olhar pros lados. Mas talvez o twitter seja um passinho pra frente. Digo, pra trás.
sábado, agosto 22, 2009
parem a espécie que eu quero descer
terça-feira, agosto 18, 2009
perro en el columpio
antes tarde e sem legendas do que nunca, taí um dos meus filhos favoritos (de paternidade dividida com o Rabin e outros amigos), filmado num sábado de sol em Barcelona, e depois premiado do outro lado do planeta e rodado pelo mundo afora. Pra mim ao menos, continua tão lindo quanto no primeiro dia.
e todos juntos somos nós uma pessoa só
cem mil amebas viram um só organismo em tempos de fome, pra poderem ir pescar pessoas em algum outro mar.
domingo, agosto 16, 2009
desconstruindo discursos (lxxxiv)
sexta-feira, agosto 14, 2009
apenas mais uma teoria conspiratória
enfim, cada vez mais me convenço que algo nessa história não pode estar certo. E caminho na rua olhando pros lados. Feliz e tranquilo, curtindo a paisagem com apenas uma leve paranóia de fundo. Como se esperasse o momento em que o palco vá desabar revelando as entranhas. E enquanto nada acontece continuo inteiro, e me fortaleço pra hora das perdas chegarem.
terça-feira, agosto 11, 2009
sexta-feira, julho 31, 2009
de volta à sanidade, por ora
"... não é em absoluto a tarefa daqueles que estão com boa saúde ocupar-se dos doentes, curar os doentes, e isso leva a compreender também uma necessidade a mais - a necessidade de médicos e enfermeiros que eles próprios sejam doentes"
(tio Friedrich em ataque de misantropia, Zur Genealogie der Moral. Por ora, amém)
quarta-feira, julho 29, 2009
buchada de estrelas
ler jornal na web ainda é um pouco canhestro, mas em todo caso tô aqui. Com direito a riscos alheios.
sábado, julho 25, 2009
quarta-feira, julho 22, 2009
cafunés em tio julio, dessa vez em versão oficial
de tanto babar o ovo da obra do cortázar extra-oficialmente (e às vezes involuntariamente, particularmente no que eu escrevo), resolveram me convidar pra fazer isso em público, em nome da secretaria municipal da cultura. Suponho que ele mereça. Quanto a eu fazer jus, vai saber.
o sarau é parte do Festival de Inverno de Porto Alegre, e rola no Centro Municipal de Cultura (Érico Veríssimo, 307), no dia 28 de julho (terça), "das 18h30 até acabar" (nas palavras da própria organização, inspirada pelo sucesso da maratona literária). Se tiver quentão de grátis como nas últimas maratonas, eu pelo menos vou ficando.
segunda-feira, julho 20, 2009
perguntas para o caderno de cultura do seu jornal favorito
(ii) quando a galera da classe C e D invadir o Twitter e o Facebook como fez com o Orkut, o que vai fazer a elite cibercultural do Brasil pra se sentir diferente? Criarão mais uma nova rede social completamente redundante? Ou voltarão sorrateiramente pra boa e velha tela azul, brincando de gato e rato com a ralé e trocando as cores e sites da moda circularmente a cada estação?
(iii) agora que a fotografia e o cinema digitais viraram uma obviedade e filme e película são tão úteis quanto máquinas de escrever, o que vão fazer os autodenominados fotógrafos e cineastas pra se sentirem diferentes? Fundarão uma seita de fanáticos que ingerem sais de prata em busca da imortalidade? Criarão o super 8 bluray? Ou simplesmente mentirão que alguém precisa de ainda mais pixels do que já existem, apenas pra tornar suas artes novamente inacessíveis para os amadores?
(iv) quando toda a música do mundo estiver disponível sem esforço, o que farão os órfãos da época em que se colecionava discos, que por um tempo ainda conseguiram entreter-se virando madrugadas no soulseek atrás de músicas que “ninguém mais tem” pra acumular em seus HDs? Seguirão atualizando seus perfis da last.fm? Desfilarão conhecimento enciclopédico em mesas de bar pra ouvintes cada vez menos interessados? Ou seguirão comprando vinil e jurando que é porque “o som é melhor” (e não porque o custo e a impossibilidade de cópia permitem que ele satisfaça ânsias de consumo que a música digital já não aplaca)?
(v) quando o papel e o mercado editorial morrerem, o que vai fazer a pseudointelectualidade literária pra se sentir diferente? Financiarão uma cara indústria de relíquias e sebos obscuros a exemplo do vinil? Trocarão suas bibliotecas por home theaters de última geração pra continuarem tendo com que impressionar as pessoas que vão aos seus apartamentos? Ou seguirão escrevendo uns pros outros num meio cada vez mais minguado e empoeirado entre sessões de chá de academias literárias?
enfim, não que eu esteja realmente interessado em tudo isso. Mas é só que volta e meia eu tenho a impressão legítima que a maior parte das pessoas na chamada “indústria cultural” e no dito “meio artístico” não entende em absoluto o que cultura ou arte deveriam querer dizer. E que os ditos "consumidores" da tal indústria parecem entender ainda menos. E que o que se entende por "cultura" foi se tornando ao longo da história apenas um subitem a mais do modus operandi capitalista, junto com a indústria automobilística e a decoração de interiores.
e num momento em que a indústria cultural balança na beira do abismo, é legal dar pitacos sobre pra onde a coisa vai. Minha esperança sempre foi que do mundo pós-Napster fosse emergir uma forma de se relacionar com a arte um pouco mais descolada das idéias de consumo e posse do que a atual. Mas às vezes acho que o mundo ainda é tão tacanha que mesmo depois que a indústria ruir o conceito de arte vai acabar absorvido por outra estrutura econômica qualquer, que vai seguir alimentando a vaidade das pessoas que se apinham de “cultura” pra terem algo que os outros não tem. E o que era pra ser uma forma de comunicação vai continuar sendo convertido em apenas mais uma forma de criar barreiras.
sábado, julho 11, 2009
grandes expectativas
sexta-feira, julho 03, 2009
opções para orelha (ii)
quinta-feira, junho 25, 2009
quando dar nome aos problemas só piora as coisas (xviii)
evidências contundentes em favor do ateísmo (mdclviii)
domingo, junho 14, 2009
por outro lado...
ei, bill gates, vai tomar no cu
ok, se o corretor do Word simplesmente não entendesse pornografia ainda vá lá. Mas o fato dele entender e tentar corrigi-la é certamente um sinal do fim dos tempos. Tipo, alguma pessoa no mundo consegue conceber uma situação em que alguém estivesse escrevendo "trepar" (como em "grrr, tô morrendo de vontade de trepar contigo, minha putinha gostosa") e, sob sugestão do corretor ortográfico, pensasse "hm, de fato realmente é melhor escrever "ter relações sexuais" (como em "grrr, tô morrendo de vontade de ter relações sexuais contigo, minha putinha gostosa")?
enfim, tenha suas relações sexuais anódinas como quiser, seu monstrengo nerds de óculos. Mas deixe os meus personagens treparem em paz. Viva o plebeísmo.
quarta-feira, junho 10, 2009
breve epitáfio de um aspirante a filósofo
domingo, junho 07, 2009
a clarividência é a alma de todo grande plágio
meu melhor amigo nesse inverno até agora mostra que também sabia copiar o belle and sebastian. Uns vinte e cinco anos antes deles existirem, mais ou menos.
sexta-feira, maio 29, 2009
amigo que é amigo só lembra dos amigos quando eles saem no jornal
é impressionante o impacto que o caderno de cultura do jornal tem na opinião das pessoas. Só pra dar um exemplo, há uns anos atrás eu fui num festival de cinema em Buenos Aires tentar ajudar o Gilson Vargas a arrecadar uns fundos prum eterno projeto de longa-metragem (sem sucesso, diga-se de passagem). E aí antes de sair de casa eu devo ter dito algo como "tchau, mãe, estou indo apresentar um projeto num festival de cinema em Buenos Aires". E ninguém deu nem bola.
e aí uns dias depois saiu uma notinha a respeito na coluna do Roger Lerina na contracapa do segundo caderno da zero hora, com o meu nome ali em algum lugar do pé da página. E ainda de manhã o meu celular toca e era a minha mãe emocionadíssima porque eu estava num festival de cinema em Buenos Aires. E eu tentando explicar que eu tinha dito tudo isso pra ela antes, enquanto pagava o roaming internacional.
mas algumas coisas só se tornam verdade quando saem no caderno de cultura.
e pra não me deixar mentir, faz uns dois ou três ou quatro meses que os meus amigos dos Cartolas me dizem pra olhar o clipe novo deles no youtube. "Tá do caralho", eles diziam. E eu nem aí. Até que hoje de manhã eu abro a zero hora e tava a notícia do clipe na mesma coluna do Lerina. E maldito seja este que vos fala, mas confesso que só então eu me mexi pra apertar a meia dúzia de teclas necessária pra ver o troço. Suponho que isso sirva pra aprender a não falar mal da minha própria mãe.
pra tentar me redimir pela imperdoável omissão de lembrar dos amigos só quando eles saem no jornal, em todo caso, taí o clipe. Que aliás é bem legal, o suficiente pra merecer ter sido visto muito antes.
quarta-feira, maio 27, 2009
primeiros efeitos dos trinta
depois de um interlúdio em que volta e meia alguém me convidava pra coisas tipo “debates de jovens escritores” ou "matérias com jovens escritores" ou outras coisas assim, hoje abri o segundo caderno da zero hora e dei de cara com uma matéria cheia de fotos de amigos e conhecidos literários que até ontem tinham o que parecia ser a mesma idade que a minha. Mas do lado da matéria tinha um logotipozinho dizendo “geração 80”. E embaixo, vários trechos tipo
"Uma nova onda literária composta de escritores e poetas com menos de 30 anos forma o panorama da atual ficção contemporânea gaúcha."
ou ainda
"Boa parte dos atuais autores abaixo dos 30 anos reparte-se entre a criação de sua literatura e o estudo ou a pesquisa."
e então eu, orgulhosamente nascido em setenta e nove, me dei conta que tinha deixado de ser anônimo e promissor pra passar a ser, bem, simplesmente anônimo. O que não está mal. E enquanto ninguém presta atenção, posso me ocupar despreocupado em deitar na rede às três da tarde pra ler os meus próprios manuscritos. E depois atirá-los no chão gritando "roquenrol" e fazendo pose de jogador de futebol americano que celebra um touchdown.
quarta-feira, maio 20, 2009
meu presente de aniversário pra mim mesmo
segunda-feira, maio 18, 2009
letrinhas ambulantes (ii)
eu também quero escrever em letrinhas que se mexem... alguém aí se habilita a animar?
domingo, maio 17, 2009
terça-feira, maio 12, 2009
melhor typo falho do ano até agora
"o troço escorregou praticamente sozinho até a cintura dela, revelando uns peitos até bem firmezinhos e gostosos."
e aí depois de apagar ali, escrever ali, etc. etc., de repente eu olhei pra tela do computador e constatei que tinha escrito
"o troço escorregou praticamente sozinho até a cintura dela, revelando uns seis peitos até bem firmezinhos e gostosos."
ô, cabeça suja. Nessas horas que eu penso que deveria melhorar a qualidade da pornografia que ando consumindo.
segunda-feira, maio 04, 2009
sexta-feira, maio 01, 2009
impregnados até a medula
reparem no item 3 da tabela de "sintomas da vida consumista e suas curas":
sintoma: não acreditar que existe diversão boa e gratuita.
cura: comprar um guia da cidade e conhecer seu bairro a pé.
(itálicos meus)
como diria o tio patinhas, quack.
não sei se tomo isso como um ato falho involuntário ou como apoio (bem pouco) subliminar das Organizações Globo ao mundo capitalista. Mas na real até acredito mais na primeira hipótese. Em todo caso, suponho que a conclusão seja a mesma: todo sistema que só consegue se criticar a partir do lado de dentro sempre estará fodido e mal pago. Lógicas como o capitalismo impregnam, a ponto de nem as nossas críticas conseguirem escapar da lógica que criticam. No fundo, é tudo o mesmo discurso.
terça-feira, abril 28, 2009
entrelinhas fora do tom, sem melodia
(a) porto alegre não é um lugar tão ruim assim. Na quinta-feira desci da sacada de casa e fui até a palavraria pra dar uma força pro evento (afinal, parecia impossível que alguém teria tempo ou paciência de assistir debate em livraria às quatro da tarde de quinta-feira). E me caiu o queixo ao constatar que o lugar tava relativamente cheio. Dei a volta na quadra pra ir pagar a academia e o café da oca tava igualmente bombando de gente. E terminando a volta na quadra já tinha gente passando som no ocidente. Pra vida cultural às cinco da tarde de um dia de semana, não tá nada mal.
(b) esse tal meio literário é uma das instituições mais esquisitamente retrógradas e conservadoras do planeta. Ou pelo menos de porto alegre. Assisti a dois debates do evento (fora o que eu mesmo participei), um sobre “o fim do livro” e outro sobre “o papel da literatura da sociedade contemporânea”. E em ambos a tônica (um pouco por parte dos palestrantes, mas muito mais ainda por parte da platéia) era um discurso apocalíptico sobre “a literatura está sob assalto”, “não estamos cuidando do livro como devíamos”, “vamos perder espaço para a cultura visual”, “a autoria vai se diluir no hipertexto até virar pó” e outras coisas do gênero. Fora as mesmas perguntas repetidas que sempre pipocam nesses eventos, tipo “o livro vai acabar”, “blog é literatura?”, etcétera e tal. E todo mundo parece abordar essas questões com um medo paranóide de que a literatura vai acabar do dia pra noite.
mais e mais eu me dou conta que mesmo nos meios mais letrados, ou especialmente neles, muita gente equaciona “literatura” com o mundinho literário ultrarestrito do final do segundo milênio, em que a comunicação escrita era predominantemente realizada através de um objeto chamado livro cujos direitos de exploração eram detidos por uma certa companhia que imprimia cópias para vender. E falham em se dar conta de que a palavra já existia antes disso, e vai seguir existindo depois, em uma imensidão de outras formas possíveis, e que a passagem desse caso particular ao próximo é simplesmente mais uma metamorfose na história das idéias. E provavelmente uma das positivas: é provável que nos últimos dez anos, com o advento da internet, tenha se lido muito mais do que em qualquer outra época na história da humanidade. E se isso é literatura ou não é uma questão totalmente irrelevante: o blog ou o msn ou o twitter são o que são. As definições abstratas, tipo a palavra “literatura” é que tem que se atualizar pra acompanhar as coisas concretas, e não o contrário.
e o melhor exemplo disso foi quando alguém perguntou se a internet “poderia propiciar a autoria coletiva” (e, mais estranhamente, o pessoal da mesa se manifestou meio contra). Não sei se alguém parou pra pensar, mas o livro mais lido da história da humanidade nos últimos dois mil anos já era de autoria coletiva, e ainda por cima meio desconhecida. Assim como a maior parte da herança literária de quase todas as civilizações humanas. Novamente, esse conceito o objeto livro atribuído a um autor é apenas um caso particular na história. E provavelmente pode sumir sem fazer muita falta. As idéias seguirão em frente, como sempre, porque nunca dependeram disso mesmo. E provavelmente vão dar um jeito de se espalhar além da meia dúzia de gatos pingados que de fato tem dinheiro pra comprar livros e paciência pra lê-los no nosso país.
(c) me consola saber, pelo menos, que essa insistência conservadora e empoeirada em divinizar pedaços de papel não é uma exclusividade de porto alegre. Outro dia fui assistir ao “Farenheit 451” do Truffaut e fiquei pasmo com a boçalidade do final. No fim da história, a reação das pessoas contra a queima de livros e a censura cultural era decorar um único livro escrito por pessoas de outro século e se transformar em “pessoas livro” que levavam o conhecimento dessa outra pessoa adiante. E a resistência parecia se limitar a isso. Excuse me, mas por que caralho elas não resolviam escrever, ou trocar idéias, ao invés de perder tempo decorando palavras dos outros? Não que manter o patrimônio cultural não seja importante, mas produzir novas idéias me parece bem mais. E aquela cena final de pessoas caminhando de um lado pro outro vomitando palavras de outras pessoas me deu uma certa vergonha alheia. Ô culturinha besta.
(d) hm, tinha mais conclusões a serem tiradas. Mas talvez fiquem pra alguma outra hora. Enquanto isso, vou tentando levar adiante (e parafraseando em leituras públicas) os ideais do tio Caetano, de entrar em todas as estruturas pra sair de todas. Nós entramos em festival pra isso.
(em tempo, fica o agradecimento pra organização da festipoa por botar em prática um evento legal e improvável desses, me convidar pra fazer parte dele, e ainda por cima fazer ele dar certo. O meu ranzinzar não tira nenhum átomo dos méritos de você(s) - inclusive o de estimulá-lo e permitir que ele aconteça).
terça-feira, abril 21, 2009
agenda cultural da semana em curso
em meio aos vários outros eventos legais a serem conferidos na programação saudavelmente heterogênea, faço jus a condição de escritor e porto-alegrense dando as caras em dois deles.
primeiro, participo em um debate sobre a "brevessência" do conto com a Monique Revillion, o José Antonio Silva e a Carol Teixeira (os que me conhecem sabem que não tenho muito a ver com essa tal de brevessência, e devo tomar as dores da verborragia e do excesso na discussão). Rola na livraria Letras & Cia. (Osvaldo Aranha, 444), na sexta (24/04) às 19h30.
depois, no encerramento da festa, participo na segunda edição do Porão da Palavra, um desses saraus eletroacústicos (ou alcoólicos) com gente lendo, tocando, ou fazendo macaquices diversas em cima do palco. Eu e um monte de gente legal estamos listados no flyer aí abaixo. Rola no Porão do Beco (Independência, 936), no domingo (26/04), começando às 20h. Mas se metade dos convidados aparecer, já parece diversão suficiente pra durar até depois da meia-noite.
quinta-feira, abril 16, 2009
princípio de alguma coisa
segunda-feira, abril 06, 2009
metendo o pé na guanabara
a minipílula conceitual Um Filme Brasileiro, obra concatenada com duas tardes e 13 reais por mim e pela vanessa, passa em vários horários, no CCBB, na Casa de Rui Barbosa em Botafogo e no Second Life, conforme descrito a seguir:
- Dia 07-04-2009
- 00:00 - MFL no Second Life (SECOND LIFE - Cine Alexandria - www.mainlandbrasil.com.br)
- Dia 08-04-2009
- 16:00 - Panorama 2 (CCBB - Sala de Cinema)
- Dia 19-04-2009
- 18:00 - Pílulas (CCBB - Sala de Cinema)
- Dia 24-04-2009
- 18:00 - Panorama 2 (CCBB - Sala de Cinema)
- Dia 25-04-2009
- 17:00 - Pílulas (CCBB - Auditório 4º Andar)
- 16:00 - ASCINE-RJ - Cineclube ABDeC (Casa de Rui Barbosa: Rua São Clemente, 134 - Botafogo)
- Dia 11-04-2009
- 16:00 - Panorama 4 (CCBB - Sala de Cinema)
- Dia 22-04-2009
- 18:00 - Panorama 4 (CCBB - Sala de Cinema)
e o mesmo acontece com o Perro en el Columpio, do igualmente caríssimo Eduardo Rabin:
- Dia 18-04-2009
- 18:00 - Panorama 10 (CCBB - Sala de Cinema)
- Dia 21-04-2009
- 16:00 - Panorama 10 (CCBB - Sala de Cinema)
* Legal Disclaimer direcionado ao Comando Vermelho, Amigos dos Amigos e facções análogas: a expressão "dominação do estado do rio de janeiro" tem caráter meramente metafórico, não denotando intenções reais em relação a interesses econômicos e políticos do autor deste blog.
quarta-feira, abril 01, 2009
primeiro de abril
depois de ter viajado meio mundo afora, a conclusão simples é que em nenhum lugar do mundo eu me sinto tão em casa como numa manhã nublada e fria, seja onde for. E a primeira manhã de moleton em Porto Alegre é sempre como se eu estivesse voltando a mim mesmo depois de algum tempo vivendo uma outra vida qualquer num verão estrangeiro.
(p.s. o vídeo acima é um lixo sob inúmeros aspectos, mas era um de dois no youtube com a trilha sonora que cabia ao post. E no fim das contas confesso que alguma coisa na combinação "look super 8 de filme porto-alegrense dos anos 80 + abóboras e laranjas in the sky with diamonds" acabou me cativando. Pode até ser ruim, mas ainda assim parece esquisitamente pertinente.)