quarta-feira, dezembro 28, 2005

recuerdo de una noche buena

Olavo Amaral (eu) e André Silveira in performance no zelig, 20/12/05

terça-feira, dezembro 27, 2005

por que eu odeio a minha capacidade de concentração, bem como esse não lugar chamado internet

O mundo foi feito pra olhar pros lados. Mas a minha capacidade de concentração na frente do computador é grande o suficiente pra me absorver por completo. E eu bem que tento compensar, é verdade, abrindo quinze janelas do Windows por vez toda vez que sento na frente desse troço. Mas não é tão bom quanto passarinhos e bundas passando na rua. E enquanto os spammers não inventarem coisa parecida, a porra do monitor vai continuar levando de dez da minha janela.

pra ser escrito num museu do holocausto qualquer

Matar um camundongo é um troço tri fácil. Como, aliás, deve ser toda e qualquer coisa destrutiva contra alguém com um peso duas mil vezes menor do que o teu. Em todo caso, é só ter uma mão direita, uma mão esquerda e um tesourão que a coisa funciona. Parando pra pensar parece tri cruel matar um camundongo, e quem trabalha com isso geralmente usa pencas de argumentos pra tentar justificar esse tipo de coisa. Tipo que eles (os camundongos, não as pessoas) nasceram pra isso, que é rápido e indolor, que é importante pra cura do câncer, essas coisas todas. Mas no fim das contas é tudo meio enrolação. No fundo o que faz com que a gente lide bem com a situação é que é fácil pra burro. Sem ninguém olhando, tu pega a tesoura, enfia a cabeça do bicho no meio e fecha. Normalmente é tri rápido, e o bicho, afora bater as perninhas do corpo decapitado por uns segundos, parece de fato não sentir nada. Às vezes não é tão fácil, é verdade. A tesoura pode trancar, tu pode errar o corte, e aí o bicho sente dor por um tempo breve, e tu fica ansioso até conseguir matar. Uma vez um amigo meu decapitou um rato meio errado, e ao invés de tirar a cabeça tirou só o rosto. E aí o bicho ficou mexendo lá por uns segundos, sem rosto, até alguém dar conta da situação. Mas mesmo nessas horas tu não chega a se sentir culpado. Porque passado o momento de angústia, tu acaba acertando o pescoço, e aí o bicho silencia. E aí tudo silencia, e o mundo passa a ser igual a antes. E quando o mundo continua igual a antes, e a consciência que sentiu a dor já não existe mais, parece duvidoso até que alguma vez ela tenha existido, e tu simplesmente não consegue sentir mais culpa. Talvez por isso tanta porcaria ande arquivada nos porões dos dops da vida. Não existe maldade sem memória.

segunda-feira, dezembro 26, 2005

paradoxo #1 (ou a fonte da cruel irrelevância de quase tudo que vem abaixo e acima desse post)

Ironia suprema da comunicação. Hoje em dia a gente consegue falar pra cinco bilhões de pessoas ao mesmo tempo com três, quatro cliques do mouse. Mas continua só conseguindo ouvir uma de cada vez.

quinta-feira, dezembro 22, 2005

quase um Maiakowski

A anatomia também errou comigo. Sou todo coração e cotovelo. Ou canela, joelho, essas coisas que batem nas pessoas e nos pratos. Fora derrubar louça e sentir, não tenho mesmo muita função.

segunda-feira, dezembro 19, 2005

Ruído em emergência

Amanhã (20/12), das 20h em diante (com função mesmo começando tipo nove e pouco), no Zelig (Sarmento Leite, 1086). Sessão de autógrafos do Estática e show dos magníficos Cartolas. Apareçam.

sexta-feira, dezembro 09, 2005

prefiro o mensalão

Pelo menos esse bando de deputado que usa dinheiro público pra fazer turismo não costuma colocar isso no Currículo Lattes. Já o pessoal da Antropologia...
Em todo caso, vou tentar fazer um projeto com mais de três substantivos abstratos por frase pra ver se eu ganho verba do CNPq também. Algo tipo assim:
"Ao entrar no Tour d'Argent, percebi imediatamente a pluriculturalidade do lugar ao ser atendido pelo garçom negro de luvas imaculadamente brancas. A influência pervasiva do sistema capitalista globalizado é evidente em todos os itens do menu: caviar russo, aspargos belgas e arroz vietnamita acabam com as chances do produto francês entrar no mercado. Também o capitalismo é responsável pela opressão dos pobres gansos, alimentados até a morte para prover o foie gras..." e assim por diante. De repente eu consigo virar turista profissional também e realizar o meu sonho de consumo.

segunda-feira, dezembro 05, 2005

esperando o Cambriano passar



Acabei de ouvir falar que no tempo em que os trilobitas dominavam o mundo, havia alguma forma de cordado primitivo já existindo ao mesmo tempo em que tais bichinhos espraiavam sua sociedade sem graça pelo planeta. E que, pasmem, depois da grande extinção do final da Era Paleozóica, que transformou aqueles trilhões de tatu-bolas arcaicos em fósseis vendidos a uns poucos dólares nos museus de história natural, de algum jeito o pequeno cordado foi indo, foi indo, foi indo e... bom, foi indo e acabou montando uma outra enorme sociedade sem graça. Então tu vê, acho que daqui pra frente vou ficar bem quietinho no meio desse infecto mundo de trilobitas. Se a evolução resolve ser tão generosa assim de novo, talvez o Cambriano passe e a mãe natureza me dê o mundo de presente também.

terça-feira, novembro 29, 2005

teenage wasteland

as constelações já não são bem mais as mesmas que costumavam ser. Nem mesmo na hora das baladas em show de estádio. E onde se antes se viam os isqueirinhos flamejando em uníssono por todos os lados, hoje neguinho olha em volta e vê uma mistura de flash de câmera digital, luz de celular, display de LCD e mil outras bugigangas idiotas num multicolorido de verdes e vermelhos. E até mesmo um que outro ocasional isqueiro perdido na multidão, prestes a ser derrotado definitivamente pelo ministério da saúde. E mesmo que me irrite deveras essa mania de tirar foto e filmar qualquer merda que acontece no palco, símbolo da tendência irrevocável de niponização do mundo, é curioso que meia hora depois alguém esteja colocando o show inteiro no soulseek, ao mesmo tempo transformando um momento único em bem descartável e democratizando o acesso a quem não tem 90 pilas pra pagar pelo ingresso. E mais curioso ainda é que no palco tá o eddie vedder com cara de alcóolatra que mora em trailer num filme americano, personagem perdido de uma época em que eu gravava clipe da émtivi no vídeocassete pra assistir depois. E ex-paladino que brigava com o Ticketmaster em sua época de glória pra baixar o preço dos ingressos, até o momento em que se deu conta que já não era tão popular pra poder cagar pra mídia e resolveu ceder à pressão de fazer turnê no Brasil a preços extorsivos. Mas é exatamente nessas horas que eu dou plena razão pro cara, eu acho. Porque as constelações mudam muito mais rápido do que a gente consegue entender, se eu olhar pra trás agora tem um neguinho me fotografando com um celular atrás de um arbusto, e lutar contra o fluxo parece fútil. Então, se a gente não pode mudar o mundo, talvez o que dê pra fazer seja cantar. Ou, quando não se tem cacife pra subir no palco, pelo menos comprar o ingresso de cambista a 20 pilas menos do que na bilheteria.

eu já sabia

(em algum lugar do google) Banda Cartolas é a campeã do Claro Que é Rock e abrirá evento no Rio (27/11/05-03h22)
Massa. Depois de tentar ficar famoso de um milhão de jeitos diferentes, eu vou acabar entrando pra história como o cara que fez as fotos do primeiro single. Maldita sensibilidade pop.

segunda-feira, novembro 28, 2005

seis da tarde de sábado num bar chinelo da lima e silva

Parece só mais uma dessas tardes banais de pequenas frustrações quando de repente do nada a lógica do mundo tem um piripaco por dois, três minutos, se derrete toda do outro lado da tevê, e aí um guri de tranças pega a bola e vai costurando um troço novo no universo sem que ninguém entenda muito bem o que tá acontecendo (especialmente aquele zagueiro tacanha do náutico olhando pro chão na risca da área), e de repente tudo ficou diferente antes que qualquer um consiga entender. E a sensação que fica é que se esse jogo existiu (e se deus não existe) então tudo é permitido. Depois disso tudo pode. E talvez por isso a orgia da festa faça tanto sentido, por menos que devesse fazer à primeira vista. Mas são as horas em que as barreiras se desfazem, os momentos em que o acaso se infiltra na fábrica da existência, e isso há de ser celebrado. Longa vida aos buracos e os pênaltis perdidos.

pequena palavra sobre o autor

brasileiro mas parecendo um europeu raquítico, solteiro mas amalgamado, guri pra caralho mas com um incômodo ponto branco na barba, transparente feito um jarro de água mineral, incapaz de se tornar um intelectual pela cara permanente de bobão, taquilálico, taquigráfico e taquipsíquico, tendo superado a ejaculação precoce por puro milagre, vivendo na casa dos hamsters, enxergando fantasmagorias nas paredes, carente de dias frios pra se ficar no sol, perplexo com o preço do plástico, polímata por vocação, lançando um livro essa semana, nascido na fofolândia, movido a correnteza, destinado à perda de audição induzida por ruído, hipotenso quando esfomeado, descrente de sexo tântrico e lésbicas bonitas, decorou as constelações com sete anos pra ser sedutor quando adulto, segue convencido de que não adiantou nada, ex-primeiro colocado no vestibular, cultivador de buracos, expatriado uns meses por ano, cada vez menos acostumado com o mundo, pseudópodo da grande ameba, olhando pros lados e tropeçando sozinho, com vontade de tocar o mundo, apaixonado ao ponto do ridículo, prometendo não falar mais de si nesse não-lugar.