quinta-feira, maio 25, 2006

paciente

(s.m.) aquele cara inconveniente que fica entre o médico e a doença a ser tratada.

segunda-feira, maio 22, 2006

exército de um homem só

da coluna do Gabeira na Folha de SP (disponível na íntegra no site do cara):

"[...] Segunda-feira, auge da crise de violência em São Paulo, parti para Brasília para fazer um discurso de solidariedade e propostas, pensado durante o fim de semana sangrento. Não pude realizá-lo até o fim, embora o plenário estivesse vazio. Minha palavra foi cortada por um presidente ocasional. Ele vem do Norte toda segunda-feira e assume a presidência porque não há ninguém para abrir as sessões. Dá a impressão aos seus eleitores de que é importante, embora já tenha sua prisão preventiva decretada e inúmeras processos. Limitei-me a dizer: "Vossa Excelência é um bandidaço", embora soubesse que até os insultos seriam usados por ele junto aos eleitores como sinal de importância. A um jornal de Brasília, declarou que aqueles que assistem à TV no seu Estado pensam que é o presidente da Câmara.
Ele é desse numeroso e sórdido grupo com que, depois de tantos anos de lutas e sonhos, tenho de conviver no café da Câmara: contas fantasmas, entidades fantasmas, ambulâncias superfaturadas, desvios de verbas no hospital do câncer. A própria luz do Planalto atravessando as vidraças e banhando os flocos de poeira que flutuam nos torna também fantasmas, e você olha a mancha de iogurte na mesa do café, duvida se aquilo não é um ectoplasma desses putos que pintam o cabelo e beliscam a bunda das secretárias. [...]"

E, bom... Alguém pode até argumentar que não é lá muito político chamar os membros da Câmara de "putos que pintam o cabelo e beliscam a bunda das secretárias. E que talvez isso seja simplesmente jornalismo, literatura, barulho, que não é isso que vai mudar alguma coisa e, enfim, é capaz até de estar certo. Mas no meio do lamaçal o Gabeira transparece pra mim como o único cara que parece reagir duma forma humana em relação à tal crise política. Tipo, o cara aparenta ficar simples e sinceramente puto, como qualquer um de nós, a ponto de chamar deputados de ectoplasma. E enquanto uns se defendem por necessidade e os outros atacam por interesse num lugar onde todo mundo já perdeu a moral, ele parece ter sobrado como a única figura que parece ser humana antes de ser Vossa Excelência. Algo como o que o próprio Lula conseguia passar antes de engolir o gravador que alterna variantes de quatro ou cinco frases ("eu fui traído", "isso é conspiração de quem quer me derrubar", "esse é o melhor governo que esse país já teve", "eu sou um homem do povo", e não muito mais). Só que parecendo bem mais inteligente. Ou pelo menos escrevendo melhor.
Enfim, claro que talvez eu esteja errado. Talvez ele simplesmente escreva bem. E talvez falar dos colegas como "putos que pintam o cabelo e beliscam a bunda das secretárias" seja simples marketing eleitoral, assim como fazer discurso pomposo ou se fingir de presidente da Câmara. Que se foda. Se é pra ganhar voto, já ganhou o meu.

quinta-feira, maio 18, 2006

jusante (35 minutos faltando)

sim, a sensação ultimamente tem sido a de estar nadando o tempo inteiro contra a corrente. Mas ao mesmo tempo, e mais sincera, é a sensação de que ainda assim tem alguma coisa me esperando lá no começo do rio, algum lugar mágico bem junto da nascente. Quase vinte e sete, e a jusante é o que me move.

quarta-feira, maio 17, 2006

objetos unidos jamais serão vencidos


troquei a resistência do chuveiro hoje. Segunda vez na vida, tô ficando bom nisso. Mas me sinto estranho mesmo assim. São meio estranhas essas intrusões dos objetos na minha vida. Justo quando tu acha que tudo que se precisa pode ser conseguido no soulseek, e que a vida é só feita de coisas imateriais tipo amor, palavras, números, sol e vento, os objetos vêm e se vingam, te deixando sem banho quente nessa porra de início de inverno. E subitamente tu têm que tirar os olhos das grandes questões existenciais do universo pra ir consertar uma mola dentro do chuveiro com um alicate. Esses dias já tinha acontecido de estourar uma pecinha microscópica do meu clarinete e eu tive que atravessar a cidade no meio da tarde atrás de alguém pra consertar. E a mudança de perspectiva é um troço tão radical que eu cada vez mais tenho até medo de encarar o mundo dos objetos. Tipo, eu chego com a alicate e sinto aquelas molinhas dizendo pra mim algo tipo "fuck off, seu metafísico de meia tigela". Em todo caso, dessa vez eu ganhei. Mas sigo achando que uma hora a conspiração vai me derrubar.

domingo, maio 14, 2006

por que todo filme de lésbica acaba mal?


é sério. Hollywood e congêneres têm uma relação incrivelmente mistificante com o homossexualismo feminino e as relações entre mulheres. Tipo assim, nunca, jamais aparece um filme tipo "mulher conhece mulher e elas vivem felizes para sempre". Ou uma comédia romântica, ou sequer uma comédia pastelão tipo, sei lá, "A gaiola das loucas". Não, o script é sempre "mulheres se conhecem em circunstâncias misteriosas, se fascinam uma pela outra, fazendo tudo que é porralouquice, escandalizam a cidade e no final (a) matam alguém ou (b) são mortas por alguém". Sério. Contabilize aí "Almas Gêmeas", "Monster", "Boys Don't Cry", "O Beijo da Borboleta", e praticamente qualquer um que me venha a cabeça, pelo menos do que seja mais mainstream. Vai entender. Vai ver mulher é tudo louca mesmo. Ou alguém mistificou o troço. Em todo caso, melhor assim. Afinal, a gente tem que continuar fantasiando com alguma coisa.

quinta-feira, maio 11, 2006

ninguém pode ser mais rock and roll


mesmo quando ele não tá tocando "blue suede shoes". Ou pelo menos não sei de ninguém mais no mundo se sentiria confortável fazendo samba com uma máscara do batman na cara
(by the way, nessa até eu me rendi à tentação do celular que tira foto. Mas graças a deus ainda não descobri como é que se tira a foto de dentro do celular depois. Tô íntegro)

terça-feira, maio 09, 2006

Meu eu científico quer atenção! Alguém me faz cafuné!

Tem carta minha na PLoS Medicine desse mês, cumprindo o fiel papel de "mais um desses magrão do terceiro mundo" tentando mudar os dogmas da profissão médica. Se alguém tiver saco de ler, acho que o tema (e toda a edição, focada na indústria farmacêutica tentando fazer o universo inteiro doente) é meio de interesse público.

segunda-feira, maio 01, 2006

realidade

um caso particular da literatura.