segunda-feira, junho 30, 2008

diálogos curtos pra lembrar que o retorno e a vida valem a pena (dccxiii)

- quanto é a água de côco?
- um real.

pequenas transgressões que eu sempre tive vontade de cometer mas nunca tive coragem (lxxii)


só pelo prazer de ver a cara do tio da alfândega.

razões para ficar feliz com a existência das universidades privadas (i)








porque, francamente, eu ficaria realmente puto se soubesse que os meus impostos pagaram o diploma de publicitário de um cara que monta um sistema de milhagem em que a maior honra possível é ganhar um “cartão vermelho”. Se bem que, na real, o mundo precisa muito mais de maus publicitários do que de bons publicitários. Então acho que dessa vez passa. Mas só dessa vez.

evidência de que o pedestrianismo não existia na América dos peregrinos, e muito provavelmente é um vírus danoso trazido por imigrantes incultos













onde está a calçada?

sábado, junho 28, 2008

you may not help me

por que diabos o simples gesto de ficar parado com ar perdido em algum lugar desse país onde você supostamente não deveria fazê-lo (aeroporto, teatro, estádio de futebol, museu) faz com que em questão de segundos um segurança se aproxime com a indefectível pergunta “may i help you, sir?”. Suponho que essa frase em português deva significar algo como “com licença, mas nessa posição o senhor é uma ameaça à segurança nacional e é melhor ir dizendo rapidinho o que está fazendo aí”. Ou, menos paranoicamente, talvez isso queira simplesmente dizer que alguém que pareça sem direção por alguns segundos nesse país deva ser presumivelmente alguém que precisa de ajuda. De uma maneira ou de outra: não, você não pode me ajudar.

patenteando o mundo em todas as suas línguas














dia desses a gente não vai mais poder abrir a boca sem pagar esmola pro tio ronald. Alguém aí pode me explicar como esse tipo de coisa pode estar dentro da lei?
(p.s. ecologicamente pasmo: sim, o copo é de isopor. Como quase tudo que contenha comida nesse buraco negro)

sábado, junho 21, 2008

elaboração lógica a partir da existência dos números de série marcados a lápis nos cantos de gravuras e fotografias

- limitar o número de cópias é uma forma de agregar valor monetário a uma obra que, em tese, poderia ser reproduzida infinitamente a custo nulo ou muito baixo.
- logo, algo com poucas cópias tem mais valor do que algo com muitas.
- mesmo que o objeto seja exatamente o mesmo nos dois casos.
- tal valor, portanto, não tem nada a ver com mérito artístico, e sim com um fator mercadológico similar ao do mercado de figurinhas.
- logo, a obra de arte só possa a ter valor financeiro quando não está disponível para todo mundo.
- se o artista optasse por fazer cópias ilimitadas, ele perderia dinheiro.
- logo, ele tem que optar entre (a) ganhar dinheiro ou (b) deixar que mais gente tenha acesso a sua obra.
- mesmo que em tese alcançar outras pessoas deveria ser o objetivo fundamental de uma obra de arte.
- logo, o sistema obriga o artista a optar entre ganhar dinheiro com a arte ou a prejudicar ativamente seu objetivo primeiro, que é ser vista.
- logo, o sistema funciona de forma não só a não estimular o artista a divulgar sua obra, mas ativamente estimulando-o a escondê-la, ou mesmo a destruir sua possibilidade de reprodução.
- em última análise, a sociedade paga ativamente ao artista para que ele faça sua obra inacessível, efetivamente destruindo-a para a maior parte da sociedade.

com licença, mas sou eu a única pessoa a ter a impressão que algo tem que estar errado nesse sistema?

terça-feira, junho 17, 2008

melhor diálogo do dia de hoje


Personagens:
HOMEM 1, americano tradicional padrão, por volta dos 50 anos, meio gordo e com boné de beisebol.
HOMEM 2, americano cool padrão, por volta dos 30 anos, jornalista, bem-vestido e metido a engraçadinho.

HOMEM 1
- (olhando uma fila grande de pessoas) What is this line for?

HOMEM 2
- Sigur Ros concert. They're an Icelandic band.

HOMEM 1
- Oh... (segue em frente sem olhar pra trás)

domingo, junho 15, 2008

dois dias de metrô















(sábado)

meia hora de metrô de Jamaica até Manhattan em um sábado de tarde. Umas vinte pessoas no vagão quando eu entro. Nenhuma sorri. Eu pareço ser o único que olha em volta. Todas olham fixamente para baixo ou para frente, exceto por uma afro-americana que discute com o marido. A luz fluorescente tem uma aura de bar de cemitério.

talvez seja um vagão ruim, penso que pode ser que melhore quando troquem as pessoas. Mas metade da população se recicla e nada de sorrisos. O primeiro casal sorridente só vai aparecer lá pelos quinze minutos depois do embarque, um par de latinos com um bebê no carrinho. Um pouco depois, aparece um segundo par de meninas sorridentes. E é só. Dois pares de sorrisos entre cinqüenta ou sessenta pessoas passam pelo vagão em que eu estou. Algo não parece certo.

(domingo)

dez minutos de metrô de Washington Square até a Lexington com 63. Quando eu saio do metrô eu ouço um “Sir... excuse me”. Olho pra trás e vejo a minha câmera na mão de uma mulher, atrás da porta de vidro já fechada. Com certeza caiu do bolso. Eu bato na porta freneticamente e nada. Sinalizo “next stop” pra mulher que tem a câmera na mão. Ela não reage. Mas uma senhora oriental se compadece e prestativamente se levanta dizendo “next stop”. Ou pelo menos é o que a minha leitura labial me diz.

eu penso em correr até a próxima parada pra chegar antes, mas me dou conta que teria que atravessar o rio nadando. Melhor esperar o próximo trem. Que parece não chegar nunca, enquanto eu me remordo de constrangimento por estar atrasando a vida duma imigrante inocente que vai pro Queens no domingo de tarde. Quinze minutos de espera e nada. Nem ruído. As pessoas começam a olhar pro túnel. Eu sinto saudade de Barcelona. Quando o metrô finalmente chega, uns vinte minutos depois, um senhor de meia-idade pára na beira dos trilhos e faz sinal de “vai se foder” pro motorista. E mesmo depois do trem parar ele segue mandando o metrô se foder. Suponho que seja pelo atraso, mas vai saber.

a senhora oriental me espera na próxima parada. Eu tento agradecer o mais efusivamente que posso, expressando a minha felicidade, gratidão e essas coisas pra tentar demonstrar que o esforço dela valeu a pena. Ela não parece muito interessada. Parece mais preocupada em pegar o trem pra recuperar o tempo perdido. Talvez também não fale inglês. Em poucos segundos ela já está atrás das portas de vidro, sem falar palavra.

e também não sorri em nenhum momento.

sábado, junho 14, 2008

você sabe que está no novo mundo quando

o comissário avisa que a legislação proíbe “congregar-se na área de toaletes do avião”. Seja lá o que isso quer dizer.

quando acaba bem antes de poder chamar de amor


quando minha namorada (o rosto bonito da foto ao lado) chegou em Barcelona ela colocou um texto bonito no perfil do orkut (sim, eu sigo tentando mendigar uns hits pra este blog escrevendo "texto no perfil do orkut"), algo que falava sobre os nomes de ruas que ela ia lendo e que, ainda que não quisessem dizer nada naquele momento, pareciam indicar que viriam a significar algo. Uns dias depois ela tirou o texto correndo ao se dar conta que uma coisa muito parecida era mencionada no aborto espontâneo cinematográfico misteriosamente popular chamado “L’Auberge Espagnole”. Assim que (castelhanice bombando) eu não vou falar de ruas que virão a fazer sentido, porque não é fashion. Mas eu acho que eu tô no momento certo pra poder falar das ruas que quase chegaram a fazer sentido.
meus seis meses cronológicos de solo europeu acabaram hoje, abortados bruscamente pela improrrogabilidade do meu ridículo visto de estudos que quase me deporta cada vez que eu passo na fronteira. E sinto que nesse tempo eu conheci meio mundo, em termos de ruas, pessoas, lugares ou o que seja. Mas muito pouco disso teve tempo de se tornar realmente querido. Mesmo que tanto desse a impressão de que ia.
então essa é um pouco a história das inúmeras ruas que eu passei uma ou duas vezes. Dos restaurantes baratos cuja localização eu guardei mentalmente pra voltar mas nunca cheguei a ir de fato. Dos bares onde eu entrei uma única vez pra ver um jogo de futebol ou encontrar alguém e jurei que ia voltar, sem fazê-lo. Dos meus pratos favoritos que eu comi uma só vez. Das pessoas que apareceram e foram e começam a ser esquecidas tão rápido quanto chegaram a ser lembradas. Enfim, de um monte de experiências irrepetíveis. Não porque sejam tão incríveis ou espetaculares. Mas simplesmente porque o tempo não deu muito tempo pra que se repetissem.
quase nada chega a se repetir em seis meses de Barcelona, e suponho que isso seja um elogio à cidade. Mas me falta intimidade pra poder dizer muito mais sobre ela. E ao falar de Barcelona me sinto um pouco como um fracassado sexual tentando descrever as amigas que pensou em comer como se tivessem sido suas amantes de fato. Parecendo muito entendido mas no fundo não tendo ido fundo o suficiente em nenhuma pra falar com propriedade.
e pra não sair do campo sexual, uma coisa que começa a acontecer quando a gente deixa de ser adolescente (ou pelo menos fica um pouquinho menos) é que levar alguém pra cama ou mesmo se mudar pra casa de alguém passa ser um troço meio fácil e natural. E ainda assim, apaixonar-se vai se tornando cada vez mas difícil. E amar de verdade segue sendo tão difícil quanto sempre.
e enfim, um pouco maduro demais pra me apaixonar, tentei ir morar com uma certa mulher chamada Barcelona por um certo tempo, algo como um certo flerte que parecia que poderia levar a algum lugar e que subitamente virou “quem sabe a gente mora junto” na manhã seguinte. E agora me separo sem ressentimentos, sabendo que mudei muito pouco na vida dela. Que provavelmente ela nunca mais vai querer porra nenhuma comigo.
e, ainda que já seja calejado o suficiente pra saber que não tem nada de tão trágico nisso, vou embora meio de luto (e enrolando ao máximo a hora de chegar) pro meu apartamento de solteiro no fim do fundo do subtrópico, sem ter presunto cru nem janta me esperando quando chegar do trabalho. E no fundo morria de vontade de ter uma chance de continuar tentando ter e dar prazer à cidade, ao saber das milhares e milhares de ruas e dobras e pedaços do corpo dela que outros amantes percorreram e percorrerão com muitíssimo mais propriedade do que eu.
enfim, no fim das contas, nada que não se supere. Só um pouco de frustração. E não pelo tempo aqui, que foi dos mais felizes. Mas simplesmente porque ele acaba, porque o tempo é rei de fazer essas putadas. E depois de ter se escondido por uns tempos e me deixado viver meio fora dele por uma temporada, ele sempre volta pra mostrar quem manda. E pra me jogar de volta na consciência de que a gente não se desloca. É o tempo que nos carrega, e ele sempre tá andando, como um ônibus enfurecido que nos faz devorar quilômetros mesmo que a gente se sinta sentado no mesmo lugar.
enfim, nada que deixe ressentimentos. No fim das contas, é só mais uma história romântica que acaba bem. Mas também acaba bem antes do que se poderia chamar de amor.

terça-feira, junho 10, 2008

mais um que roubou a minha alma

mas enfim, tem sempre um discreto prazer em fazer parte da história. Quem me achar ganha um doce, em todo caso.

mais uma desvantagem da documentação obsessiva na era digital

já não se pode invadir o palco pulando que nem um adolescente e ficar incógnito. Particularmente quando visto de cima você é um amontoado de cachos balançantes.

domingo, junho 01, 2008