terça-feira, junho 26, 2007

e já que eu enveredei pelo assunto abaixo...

e falando no tal "jornalismo cultural", uma pergunta simples: por que diabos em pleno 2007 as críticas de literatura e música continuam terminando com o preço do disco ou do livro. Será que alguém que se presta a ler crítica de música no mundo ainda compra CD? Vá lá, livros ainda compram-se de vez em quando, então de repente o preço pode eventualmente ser útil pra alguém. Mas, útil ou não, me incomoda profundamente essa coisa da indissociabilidade obra de arte = objeto de consumo. Se alguém faz uma entrevista com um escritor, o que o cara vai ter pra dizer provavelmente vai ter muito pouco a ver com o livro dele ter sido lançado pela editora X com preço de capa de R$ 54,00. E muito mais a ver com o fato do livro ter sido escrito. Então eu não vejo uma razão óbvia pras coisas serem assim tão indissociáveis: a obra existe independentemente do objeto de suporte, e isso devia ser cada vez mais óbvio na era pós-napster. Mas por algum motivo, parece que a ficha demora a cair. E aquele incômodo preço continua onipresente, transformando o caderno de cultura do jornal na versão chique dos classificados.
vá lá, talvez seja tudo conspiração da tal "indústria" cultural pra manter viva a figura do chamado "consumidor" cultural (aliás, como diabos essas duas palavrinhas profundamente infelizes se juntaram com a pobre palavra "cultura"?). Ou talvez seja o peso de todos os séculos pré-imprensa/fotografia/soulseek em que a arte de fato equivaleu ao objeto físico que dificulta a perda do hábito. Ou talvez pro próprio “consumidor” a idéia de que se pode “adquirir cultura” sacando o cartão de crédito do bolso possa ser uma maneira confortável de se diferenciar usando a carteira ao invés da cabeça. E claro, sempre vai ter alguém pra dizer que é importante que seja assim, porque o autor precisa lucrar de algum jeito, etc., e "mal não faz” botar o preço ali. Mas nada disso me parece uma boa razão pra que nada consiga existir sem preço no mundo (como "proof of principle", eu acabei de dar um google no marçal aquino pra botar um link no post abaixo, e o primeiro hit, ali nos "links patrocinados", foi o www.shoppinguol.com.br.). E coisas como o precinho embaixo da crítica podem ser muito tênues, mas elas me parecem profundamente representativas do jeito capitalista tosco de equiparar a arte a um objeto de mercado. E ajudam a perpetuar uma visão de mundo em que o dinheiro é capaz de comprar tudo, inclusive cultura. E pior, em que ele é o único meio possível pra isso.
por sorte, os dias do precinho provavelmente estão contados. Mais e mais gente troca músicas, PDFs, e vídeos via net e não precisa comprar porra nenhuma pra se tornar um ser mais pensante. Timidamente, pelo menos as revistas de música tem incluído umas paginazinhas de "downloads", ou "coisas na web" (sem preços!). E esses dias eu abri uma rolling stone gringa (hoje em dia totalmente inserida no mainstream musical) e encontrei uma dica de download que ao invés do endereço pra baixar tinha simples e milagrosamente a palavra “leaked”. Ou seja, pelo menos alguém aí fora parece estar se dando conta que o mundo mudou. E se o tal jornalismo cultural não se der conta disso, é bem capaz de seguir o mesmo caminho das gravadoras em direção à cova. Nada a ser temido, em todo caso: se acontecer, é provavelmente porque ele já ia tarde mesmo.

se alguém ainda duvidava que a indústria cultural é um mero subproduto do capitalismo sem coração




















(contracapa da última BRAVO!, junho/2007)
sério, esse deve ser o anúncio de pior gosto que eu já vi em toda a minha vida. Vá lá, suponho que um banco tem que manter uma certa imagem de capitalismo sisudo e malvado. Mas putz, isso é ridículo. E o mais engraçado de tudo é que essa é em tese a revista de cultura mais importante do país. Suponho que isso deva dar alguma medida de quem seja o "consumidor de cultura" dessas paragens. Afinal, o banco deve fazer uma boa pesquisa de marketing antes de decidir onde botar um estrupício desses.
aliás, não sei se é ironia de propósito de algum editor mais clarividente e adepto do autoescárnio, mas abrindo a página a primeira coisa que se encontra é um trecho de novela do Marçal Aquino sobre um escritor frustrado que assiste impotente a um bando de mulheres que gravita em torno dum anão milionário. Se tiver sido de propósito, parabéns ao responsável, não podia ter sido mais eloqüente. Mas se tiver sido o destino, enfim, isso é só mais uma prova que esse cara é um artista massa.

terça-feira, junho 19, 2007

extremely loud and incredibly close

e ainda assim, pouquíssima gente chega a se dar conta do tamanho do que está acontecendo embaixo dos nossos narizes. E o que me angustia nisso tudo não é a mudança em si, e sim o fato de que o futuro estar caindo de maduro e quase ninguém se dar conta parece uma janela de oportunidade única, enorme, arregaçada na minha frente. Na qual eu não chego a entrar por falta de tempo, apego aos velhos hábitos, imaturidade eletrônica, ou sabe-se lá o que for. Mas que cada vez mais dá vontade de largar tudo e sair por aí inventando o futuro, ah isso dá.

terça-feira, junho 05, 2007

arco-íris sem degradê


"pela livre expressão sexual", será? Sei lá, às vezes parece que não tem nada mais preconceituoso do que algumas minorias (particularmente as mais organizadas) quando têm a oportunidade. O nome da comunidade é genial, mas o conteúdo é um lixo. Porra, deixa os adolescentes em paz. Pelo jeito não pode mais existir nada sem rótulo no mundo.