quarta-feira, fevereiro 28, 2007

cartinha aberta ao papa


Para
Papa Bento XVI
Aposentos Papais
Basílica de São Pedro
Cidade do Vaticano
Vaticano


Caro papa Bento XVI,

Estamos escrevendo esta carta para lhe pedir um favor. Mas pode ficar tranqüilo, dessa vez não tem nada a ver com a camisinha ou com os anticoncepcionais. Até porque a gente adora bebês. Também não tem nada a ver com os muçulmanos, com os homossexuais ou com a masturbação. Ainda que pelo menos nessa última o senhor podia dar uma aliviada. Mas vá lá, a gente pode deixar essa discussão pra outra hora.
Voltando ao nosso assunto, então, o que a gente queria era pedir um apoio da sua parte pra uma amiga nossa que anda sendo injustamente denegrida pela igreja. Sim, estamos falando da Preguiça. Não conhecemos o autor da tal lista dos pecados capitais, e nem sabemos o que ele tinha na cabeça quando incluiu a Preguiça nela. O que a gente sabe, sim, é que desde que ela foi colocada na lista negra a Preguiça nunca mais conseguiu nada na vida. Nunca mais arranjou emprego em lugar nenhum, nunca mais apareceu com namorado por aí. Marido, então, nem pensar. Faz alguns séculos, pelo menos, que ela sai de noite e até consegue atrair a atenção de um gatinho ou outro (afinal a preguiça tem lá o seu charme), às vezes chega a dar um beijinho, quando muito uma rapidinha no banheiro. Mas quando ela se apresenta como Preguiça o papo sempre envereda pra algo tipo “pois é, sabe, eu tô aqui com um amigo e não posso deixar ele sozinho. Ou então “putz, esqueci de deixar comida pro cachorro em casa”. Ou até um “não, é que eu sou gay”, por parte dos mais desesperados. Particularmente se começa a aparecer gente conhecida em volta. Porque com essa história de pecados capitais ninguém hoje em dia teria coragem de admitir que namora a Preguiça. Não em público.
Resumindo, faz uns vinte séculos que ninguém liga pra Preguiça no dia seguinte. E isso não se faz com ninguém.
E se estamos falando da Preguiça, não é porque achemos que ela seja a única injustiçada da lista. De vez em quando trocamos uma idéia com a Gula e com a Luxúria também, e achamos elas umas gurias superlegais. Mas essas já tem lá os seus defensores pra fazer o seu marketing: a Gula tem o McDonald’s pra dar uma força, e a indústria pornográfica nunca deixa a Luxúria na mão. Mas a Preguiça, agora que o Jorge Amado morreu e o Dorival Caymmi não sai da rede há uns cinco anos, ficou sem ninguém pra defendê-la. E a gente gostaria de poder fazê-lo, mas ninguém escreve o que a gente lê nem ouve o que a gente diz. Então a gente achou que a única coisa cabível era pedir ajuda pro senhor. Ou pro Senhor, mas a gente não tinha o endereço desse aí, então resolveu tentar o senhor primeiro.
Assim, Sr. Papa, gostaríamos muito que você pensasse com carinho na situação da Preguiça. Não sabemos como funcionam esses assuntos internos de vocês, mas supomos que o senhor deva pelo menos conhecer um que outro cardeal na comissão de pecados capitais que lhe deva algum favor. Então confiamos que o senhor possa fazer alguma coisa pra livrar a cara da nossa amiga. E pode ter certeza, se nos ajudar, que se um dia o senhor for colocado na lista de pecados capitais, ou em alguma comunidade do Orkut que fale mal do senhor, a gente vai tentar ajudá-lo também.
Um grande abraço, agradecidos pela atenção,

Olavo Amaral e abaixo-assinados
Porto Alegre, RS
Brasil

sábado, fevereiro 10, 2007

pequenos esclarecimentos a respeito dos anos oitenta


(especificamente destinados a esse pessoal por volta dos 30 anos)
a) não, os anos oitenta não foram os mais loucos e selvagens da história da humanidade. Você é que era jovem naquela época.
b) sim, existiu música que presta no mundo depois dos anos oitenta. E você pode até dizer que eu tô por fora, ou então que eu tô inventando, mas isso não me importa nem um pouco.
c) jogar atari não tinha lá muita graça.
d) os desenhos animados e seriados de tevê de hoje em dia são infinitamente melhores do que o que quer que passasse no final da tarde daquela época. Isso que eu nem vejo tevê.
e eu poderia continuar pra sempre, mas na verdade só o que eu queria dizer é que chega de nostalgia por essa década idiota! O que se passa com essas pessoas? Será que ninguém consegue criar significantes depois dos quinze anos?
mas se essa humilde reclamação não conseguir mudar o mundo e fazer as pessoas verem que existe alguma emoção do mundo depois da adolescência, vou partir pro plano B, e lançar ao mesmo tempo um almanaque dos anos 90, uma festa thrash anos 90 que toque aquele som dance argentino bagaceiro de FM (...no te preocupes mááás... o no... mantienga el movimiento...), uma edição comemorativa de quinze anos do megadrive, uma banda cover do Oasis e um brechó de camisetinha xadrez amarrada na cintura. Fazendo as contas, o pessoal que era adolescente nessa época andou se formando nos últimos dois ou três anos, e os primeiros otários dessa geração a adquirirem poder aquisitivo já devem estar nas ruas. O filão de mercado lateja. É só cravar os dentes.

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

cadernos de literatura brasileira, vol. 3478


apareceu a nova literatura. Depois de uns vários anos de críticos chatos dizendo que "pois é, a internet ajudou a veicular os escritos de muita gente, mas ainda não criou nenhuma forma literária nova de fato, etcétera e tal", eis que surge... o conto-comunidade-do-orkut-vindo-do- inferno. Sério, se vocês usam o dito cujo, chequem out as pérolas desse maluco. Verdade que uns noventa por cento das seiscentas e tantas são irritantemente idiotas, mas os dez por cento que sobram (tipo essa, essa, essa, ou ainda essa) valem a viagem. E não há quem possa dizer que não seja obviamente literatura.
mas o mais louco de tudo é que não há nenhum troço desses que não tenha pelo menos uns 500 membros que, pasmem, discutem a respeito do que foi escrito. Ou seja, pelo menos em termos de divulgação pessoal, esse cara é um gênio maior. Provavelmente nesse exato momento (quarta-feira de noite às 23h20) tem mais gente discutindo a obra dele do que a de Machado de Assis. E o pior é que é sério. No fim das contas, não sei o que diabos eu ainda tô fazendo no blogger. Menos ainda o que eu tô fazendo no word. E eu não vou nem entrar no mérito do papel.