sábado, abril 05, 2008

literatura (iii)

e ainda assim insistimos em olhar para os dedos, para os livros, para os filmes, para os tratados de filosofia e para os outros indícios dessa verdade mais funda apenas pressentida. E de tanto o fazermos, por séculos a fio, por vezes suspeito de que talvez o real seja a pilha de espelhos, e não a suposta verdade que ela tenta refletir. Que a impressão de que há alguma coisa mais profunda por baixo da poeira não seja mais do que algo imaginado, que tenhamos enterrado o tesouro tão fundo e deixado essas pistas apenas para esquecermo-nos coletivamente de que ele nunca chegou a existir. E para assim criar uma caça ao tesouro essencialmente insolúvel que possa durar o tempo que nos é necessário: uma vida inteira.

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